Conheceram-se na faculdade, apresentados por um amigo em comum. Ele, estudante de agronomia; ela, aspirante a jornalista. Romeo logo se apaixonou.
Juliê não podia negar a atração que sentia, mas disfarçava.
Decidida a não se envolver com ninguém, manteve o foco integralmente na faculdade. E nas festas. E na vida. Nada de namoro, noivado, casamento para os próximos dez anos de sua existência. Experimentava a liberdade e gostava dela.
Romeo queria compromisso, por isso não ficou chorando a rejeição pelos cantos: tratou de arrumar uma namorada e passou a desfilar com ela pela universidade. Golpe fatal: bastou vê-los juntos para Juliê diagnosticar-se perdidamente apaixonada!
E uma mulher apaixonada é capaz de muita coisa, especialmente quando se trata de reconquistar um amor que algum dia já foi seu.
Juliê foi à luta, cometeu a loucura de, certa vez, cantar debaixo da sacada de Romeo a canção “Se eu não te amasse tanto assim”, (interpretação da Ivete Sangalo). Tudo teria sido perfeito se não fosse um detalhe: quem emergiu do apartamento para agradecer a serenata não foi Romeo, mas sua namorada. Por pouco a polícia não foi acionada.
Contudo, verdade seja dita, Romeo ainda amava Juliê. Não lhe aprazia partir corações, porém precisava ser honesto com a jovem ao seu lado: contou-lhe tudo, pediu perdão pela situação e disse adeus. Sentiu um alívio ao pensar que agora nada o separava de sua amada.
Nada, vírgula: a ex apresentou-lhe o resultado dos exames, estava grávida.
Não podia acreditar, não mesmo! Era jovem demais para ser pai e apaixonado o bastante por Juliê para se casar com outra.
Os meses seguintes foram da mais absoluta tortura: sentia-se perseguido pela ex, sufocado por suas carências, a ponto de ter a impressão de estar sendo usado. Quando pensou em exigir DNA, nasceu a criança: a sua cara.
Juliê, ao contrário do que se poderia esperar, foi um grande suporte ao longo desses nove meses. Aproximaram-se, fortaleceram-se, desenvolveram uma bonita amizade.
Mas, naturalmente, o namoro ficou para uma data futura – se Romeo conseguisse desvencilhar-se das armadilhas da ex.
Quando finalmente o moço se decidiu – na verdade, decidido ele sempre esteve, porém evitava ao máximo ferir a mãe de seu filho, e isso consumiu tempo, tempo demais! – Juliê já estava com as malas prontas, rumo a um intercâmbio.
De nada adiantaram as súplicas de Romeo, Juliê partiu. Mas ele insistiu: a cada email, repetia o pedido de casamento. Do outro lado do mundo, Juliê sorria com a ousadia do rapaz, pensava até onde ele iria para reconquistá-la...
E ele foi mesmo – muito tempo depois – com o mais lindo buquê de flores do qual Juliê já teve notícias. Teria se casado com ele naquele mesmo dia, se não fosse um detalhezinho: estava namorando outro.
No avião, de volta pra casa, Romeo tentava convencer a si mesmo de que aquele era o fim de uma história de amor, que de fato nunca aconteceu.
Mas estava enganado: não era o fim. O romance continuou sendo escrito pelas mãos do destino... Totalmente às avessas!
“E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração, e quem irá dizer que não existe razão” – Legião Urbana. EDUARDO E MONICA
Suzy Rhoden
Definição original: a capacidade de um material retomar sua forma ou a posição depois de ser dobrado, esticado ou comprimido.
Aplicação em nossos dias:
a capacidade de nos recuperarmos de nossas adversidades.
Algumas situações, com as quais me deparei nos últimos dias, fizeram-me pensar na tão necessária resiliência. Para algumas pessoas, as dificuldades são degraus, gradativamente galgados rumo à felicidade. Para outras, o obstáculo é o fim do caminho: simplesmente desistem, deixam-se vencer pela frustração.
Uma senhora confidenciou a mim nesta semana: “Não há coisa que eu mais queira neste mundo do que morrer!” Senti convicção nas palavras, ela de fato não via propósito em sua existência. Sofrera profunda decepção, causada pela má escolha de uma filha há oito anos, e desde então não recuperou sua alegria. Conscientemente espera a morte.
Outros, não esperam: antecipam. Ouvi, estupefata, o relato de uma amiga, contando que sua mãe ateou fogo ao próprio corpo num momento de desatino. Pressionada pelas dores da vida, optou por sair de cena. Mas como ficou essa filha? Valentemente, quebrou o ciclo da tragédia: experimentou a mais amarga das dores, mas não se entregou a ela, pois escolheu a vida, e faz questão de vivê-la bem vivida!
Esta amiga querida é para mim exemplo de resiliência. Assim como a jovem recém casada que sofre com inexplicável tuberculose nos linfomas, ou a mãe de um bebê, atingida repentinamente pela devastadora leucemia. São guerreiras, não se entregam! Recolhem a dor e devolvem ao mundo um sorriso, por isso quem as conhece não duvida, mas confia plenamente em milagres: elas são o milagre!
Pensando exatamente nessas provações, que nos surpreendem sem marcar hora na agenda, olhei para meu adorável triozinho – filhos – e pensei: e agora, José?! Como preparo essas criancinhas para o mundo?! Pois não podem ser frágeis como os cristais, que quebram ao menor contato; mas também não podem ser amargas e insensíveis, inatingíveis em termos de sentimentos. Quero que sejam humanas, porém capazes de enfrentar as tribulações que a vida de tempos em tempos trará, extraindo lições desses momentos incertos.
Lembrei-me de imediato de um artigo da revista A Liahona (março/2013), no qual Lyle J. Burrup ensina “Como Criar Filhos Resilientes”. Não nos damos conta, mas desde a infância preparamos nossos pequenos para os sucessos e insucessos que a vida trará. Nas situações informais do dia-a-dia, estaremos mostrando a eles o que realmente importa: os resultados, ou o potencial que cada um deles possui como filho de um Deus.
Quando focamos exclusivamente nos resultados, não perdoamos pequenas falhas em nossas crianças e deixamos claro para elas que são um fracasso como pessoa – a conseqüência é a frustração. Quando focamos no potencial, mostramos que o resultado não foi o esperado, mas com renovado esforço as coisas podem sair melhores da próxima vez – a conseqüência é a motivação para tentar de novo!
Nas palavras do autor do artigo, filhos resilientes “veem a vida como desafiadora e em constante transformação, mas acreditam que podem lidar com esses desafios e essas mudanças. Encaram os erros e as fraquezas como oportunidades para aprender e aceitam o fato de que a derrota pode preceder a vitória.”
Pais perfeccionistas colocam o equilíbrio emocional de seus filhos em risco. Pais exigentes, por outro lado, dão regras e esperam o cumprimento delas, porém são realistas o suficiente para saber que esporadicamente alguma delas será burlada, pois os filhos falharão. E isso não é o fim do mundo para eles, pois estipulam uma conseqüência clara para o descumprimento das regras e não privam seus filhos desse momento de aprendizado.
Meus meninos, por exemplo, hoje tiveram que limpar seu banheiro devido a uma ‘arte’ com o papel higiênico. Exigi um bom trabalho, a fim de consertar o estrago, e eles corresponderam à altura do exigido. Não se sentiram menos amados por isso, mas tenho certeza de que pensarão duas vezes antes de repetir a travessura. Entenderam a lógica da escolha & conseqüência. Sabem que não serão medidos pela falha, que são amados na mesma proporção, mas que jamais iremos isentá-los dos resultados de suas escolhas.
Da mesma forma, a vida apresenta suas próprias punições. Algumas, aparentemente merecidas, outras completamente injustas. Porém, nem a revolta, e menos ainda a indignação, reverte a situação a nosso favor. Enfrentar é o segredo, superar é a conseqüência para os que desenvolvem resiliência.
“O modo como os filhos reagem diante das contrariedades depende em grande parte da forma como seus pais os ajudaram a desenvolver as atitudes e habilidades da resiliência.”
Blog de Suzy Luz: Maio 2013 (suzyrhoden.blogspot.com)
Senta Que Lá Vem Historia.
Fez-se silêncio quando a senhora entrou na sala, como se a alegria respeitosamente desse licença para a dor passar.
Encharcada até a altura dos joelhos e andando com o auxílio de muletas, a mulher avançou até onde estávamos. Seus cabelos grisalhos denunciavam a idade avançada, e os olhos lacrimejantes não deixavam dúvidas do sofrimento intenso.
Enfrentara chuva e frio àquela hora da manhã, não devia estar ali a passeio. Com dificuldade devido aos soluços, balbuciou um pedido de ajuda: precisava comprar remédios para o filho gravemente enfermo. Recomendamos a Unidade de Saúde, ou a Farmácia Municipal, ambas sitas ao lado de nossa instituição. Mas era dali que vinha a desesperada senhora, dispensada de mãos vazias devido à falta de medicação, tornando-se mais uma vítima do caos da saúde pública.
Mostrou-nos a receita, eram caros os remédios. Sugerimos intervenção judicial, para o que obtivemos imediata resposta: já tentara o recurso, mas fora alertada a respeito da morosidade da justiça e, de fato, não podia esperar – com risco de agravamento na situação do filho, se não começasse com urgência o tratamento médico prescrito.
Não se tratava de uma criança, o filho era adulto e sofria as conseqüências de escolhas erradas feitas na vida. Mas isso impediria uma mãe de tentar salvá-lo? De pegar suas muletas e, debaixo de chuva torrencial, enfrentar o que quer que fosse para amenizar-lhe as dores e diminuir-lhe o sofrimento? Humilhou-se, solicitando o que mais temem os humanos: doações voluntárias.
Nós, meros mortais, julgamos primeiro e ajudamos depois – se o ilustre cidadão passar em nosso teste criterioso de ‘dignidade da ajuda’. Se não passar, que expie por seus pecados! Afinal, tamanhas dores só podem ser castigos dos céus...
A saída cômoda pela tangente, numa situação assim, é responsabilizar o governo – que é justamente o primeiro a furtar-se de suas responsabilidades. Mas quem não sabe disso? A idosa realmente não precisava ser lembrada desse detalhe, não naquele momento: precisava apenas do medicamento. Simples assim.
Além disso, como sociedade temos opinião formada e contrária à doação de esmolas, a ideia é ensinar a pescar o peixe. O problema é que existem casos tão urgentes que não disponibilizam tempo para ‘instruções de pescaria’: ou o auxílio é imediato, ou não precisa mais ser feito.
Não trabalho em instituição filantrópica, portanto não conseguimos os remédios dos quais a senhora tanto precisava. Mas dentre todas, houve uma colega de alma generosa que, sem muita conversa, atravessou a rua e comprou a medicação indicada. Não julgou, foi e fez. Não considerou útil realizar uma sindicância de vida pregressa para saber se a idosa merecia o auxílio, simplesmente escolheu fazer o bem, conforme suas possibilidades.
A mulher foi embora na chuva, arrastando-se com as muletas, e ainda chorando. Mas posso apostar que as lágrimas agora eram de gratidão e de esperanças renovadas no coração de uma mãe.
Ficou de tudo pelo menos uma grande lição: a parábola O Bom Samaritano, contada por Jesus Cristo, continua em pleno vigor, sobretudo nestes tempos conturbados em que vivemos. Quem quer fazer o bem, sempre acha um jeito. Quem não quer, além de não fazer nada, critica e bota defeito: ora julgando o necessitado, ora culpando o governo, a lentidão da justiça, o Deus dos céus... Tão fácil ser cheio de argumentos e opiniões quando se está saudável e comodamente sentado, abrigado da chuva e do frio, numa sala com calefação!
Suzy Rhoden