Uma amizade especial
Era uma vez um menino chamado João, ele era filho único e morava com seus pais. João sempre sentiu-se muito amado por sua família.
Diante do planejamento reencarnatório familiar, os pais de João decidiram ter mais um filho, João ficou muito feliz com a ideia de ter um irmão.
Passaram-se nove meses e o bebê nasceu. João ganhou um irmão como desejou, ele se chamava Pedro. Porém com o passar dos dias, João começou a nutrir um sentimento desagradável, o ciúme, e a pensar que seus pais davam somente atenção para o bebê, e talvez já não o amassem tanto quanto antes. Para João, Pedro era agora o centro das atenções da família.
João era um menino muito sensível e inteligente, e começou a perceber a preocupação de seus pais, pois o bebê estava demorando muito para falar. O pequeno João se deixou envolver pelo amor de seu irmão, e passou a dar mais atenção para Pedro, que ficava muito feliz com as demonstrações de afeto do seu mano mais velho.
Com muito carinho os pais de João lhe explicaram que seu irmão tinha dificuldades para ouvir e que provavelmente não conseguiria falar. Cada vez mais João procurava entender as necessidades de seu irmão e passou a inventar brincadeiras em que a fala não era importante.
Os meninos cresciam e cada vez se amavam mais. Eles dormiam no mesmo quarto. E foi numa linda noite de verão que João começou a ouvir vozes durante o sono, acordou e percebeu que não havia mais ninguém no quarto, alem dele e seu irmão caçula que dormia profundamente.
Ao dormir novamente voltou a ouvir a mesma voz, se concentrou para entender o que ela dizia, e assim ouviu:
- João meu querido, sou eu o Pedro seu irmão. Você sabia que durante o sono, enquanto nosso corpo descansa, podemos nos libertar dos limites do nosso corpo e em Espírito nos encontrar com aqueles que amamos?
João se sentiu muito feliz ao descobrir que durante o sono poderia conversar com seu irmão. Quando acordaram João ainda lembrava daquele encontro feliz.
Era feriado e o pai dos meninos levou-os para brincarem no parque da cidade. Eles brincavam felizes quando começou a chover, o pai amoroso sugeriu que os meninos esperassem a chuva parar dentro do carro. João e Pedro se entre olharam, e sem falarem nada, um entendeu o pensamento do outro. Deram-se as mãos e correram brincar na chuva.
Evangelizanda: Luise Pazini Albuquerque, segundo ciclo.
Evangelizadora: Adriana Cardoso da Silva - Grupo Espírita Amigos de Chico (Santo Ângelo/RS).
[Início]
Sophia e seu anjo amigo
Sophia, assim se chamava uma menina que morava bem perto daqui, em uma casa muito simples, porem limpinha e aconchegante, com seus pais e seu irmãozinho que ainda era um bebê. A mãe de Sophia cuidava da casa e da família e seu pai trabalhava como marceneiro.
Certo dia, Sophia estava voltando da à escola quando tropeçou em uma pedra e caiu. Algumas pessoas que passavam por ali a ajudaram a levantar, ela sentia o joelho doendo, mas continuo a sua caminhada.
Chegando em casa logo disse:
- Mamãe, machuquei meu joelho.
Sua mãe toda carinhosa fez um curativo e deixou a menina deitadinha no sofá.
Seu pai chegou do trabalho e foi ver o que tinha acontecido. Foi quando Sophia lhe perguntou curiosa:
- Pai, existe anjo da guarda?
O pai lhe respondeu:
- Claro que existe minha filha!
E continuou explicando:
- Sophia, cada um de nós tem um Espírito que nos protege que chamamos de anjo da guarda.
E Sophia interrompeu:
- Mas então quando eu estava indo para a escola porque meu anjo da guarda deixou que eu tropeçasse e caísse?
Seu pai sorridente lhe falou:
- Milha filha, quando você caiu, poderia ter acontecido algo muito pior. Mas graças à proteção do se anjo da guarda você apenas machucou o joelho! E agora Sophia, você acredita em Espíritos protetores e anjos guardiões?
Sophia que depois daquela conversa amiga já estava quase esquecendo a dor no joelho, pulou no colo do pai, lhe deu um abraço e respondeu:
- Agora sim papai, agora sim!
Evangelizanda: Luise Pazini Albuquerque – Segundo ciclo - Grupo Espírita Amigos de Chico (Santo Ângelo/RS).
[Início]
Fazendo o bem
Durante uma aula de Evangelização, entre todas as coisas que a professora falou, Bentinho gravou mentalmente de modo especial que todos temos tarefas a cumprir e que devemos sempre fazer o bem aos outros.
Bentinho, garoto esperto e inteligente, ouviu e guardou dentro do coração as palavras da professora.
No dia seguinte, no horário do recreio, viu uma colega tentando resolver um problema de matemática. Bentinho lembrou-se do que a professora tinha dito e não teve dúvidas, parou e, como tinha facilidade para matemática, em poucos minutos resolveu a questão.
A garota agradeceu, encantada, e Bentinho afastou-se satisfeito, pensando: Fiz a minha primeira boa ação do dia.
Na saída da escola, passou por uma casa onde um garotinho tentava empinar uma pipa sem muito sucesso. Num impulso, aproximou-se e, tomando o brinquedo das mãos do menino, rapidamente colocou a pipa no céu.
O garoto agradeceu, surpreso, segurando o carretel de linha que mantinha a pipa no ar, e Bentinho prosseguiu seu caminho sentindo-se cada vez melhor. Fizera sua segunda boa ação do dia e um grande bem-estar o inundava por dentro.
Mais adiante, pouco antes de chegar a sua casa, viu um menino abaixado junto a uma bicicleta. Aproximou-se e percebeu que ele estava com problemas. A corrente tinha saído do lugar. Imediatamente, Bentinho ajoelhou-se e, com presteza, arrumou a corrente. O menino agradeceu e foi embora.
Bentinho entrou em casa todo orgulhoso.
Contou à mãe o que tinha feito naquela manhã e ela deu-lhe os parabéns pela ajuda às três crianças. Depois, perguntou:
— E agora? O que pretende fazer, meu filho?
— Vou almoçar e depois ficarei lá fora vendo se posso ajudar mais alguém hoje.
A mãe escutou e não disse nada.
Depois do almoço Bentinho ficou no portão, esperando o que ia acontecer.
Mais tarde, ele voltou para casa, satisfeito, e contou para a mãe:
— Mamãe, ajudei uma senhora a atravessar a rua. Depois, ajudei o carteiro a entregar todas as correspondências.
Bentinho parou de falar, sorriu e concluiu cheio de orgulho:
— Estou exausto, mas muito feliz, mamãe. Agora vou tomar um banho, jantar e dormir.
A mãe olhou-o com seriedade e considerou:
— Bentinho, muito louvável seu desejo de ajudar as pessoas, meu filho. Todavia, e suas tarefas, quem fará?
Bentinho arregalou os olhos, como se só naquele momento tivesse se lembrado de seus deveres.
— Mas, mamãe... — gaguejou, decepcionado —, achei que estava fazendo a coisa certa!
— Sim, meu filho. Só que ajudar aos outros é algo mais que podemos fazer, sem esquecer nossas próprias obrigações. A professora não disse que todos têm suas tarefas a cumprir?
— É verdade. E agora?
— Agora, você tem os deveres da escola para fazer, o quarto para arrumar, os brinquedos para guardar. Ah! E ainda ficou de consertar a bicicleta de seu irmão, lembra-se?
— Mas já é tarde! — reclamou o garoto.
— Não é tão tarde assim. Você ainda tem algum tempo antes do jantar.
Vendo que a mãe estava irredutível, Bentinho baixou a cabeça e foi cumprir suas obrigações. Em seguida, tomou banho e jantou. Depois da refeição, extremamente cansado, foi logo dormir.
A mãe entrou no quarto para fazer a oração com ele.
Sentou-se na beirada da cama e, acariciando os cabelos do filho, disse:
— Meu filho, eu estou muito orgulhosa de você hoje. Fez a coisa certa ajudando às pessoas. Só que, no impulso de ser útil, não podemos ultrapassar o limite da ajuda realizando a tarefa pelo outro.
— Como assim, mamãe?
— Por exemplo. Fazendo a tarefa de matemática para sua colega, você a impediu de aprender. O mais correto seria tê-la ensinado a resolver o problema. Entendeu?
— Entendi, mamãe. Quer dizer que eu poderia ter ajudado o garotinho a empinar a pipa, mas não a fazê-lo por ele, não é? Assim também com o garoto da bicicleta. Se eu o tivesse ensinado a colocar a corrente, em outra ocasião ele saberia fazer isso sozinho. E o carteiro?
— A questão do carteiro é mais complexa, meu filho. A responsabilidade por entregar a correspondência pertence a ele. O carteiro ganha para isso. E se você tivesse feito algo errado? Como entregar uma correspondência importante em endereço diferente? Ou se perdesse uma carta? A responsabilidade seria dele e ele sofreria as consequências.
— Tem razão, mamãe. Mas acho que agi bem quando ajudei a senhora a atravessar a rua.
— Exatamente, meu filho, embora tudo o que você fez hoje tenha sido bom. Só não devemos tirar a oportunidade das pessoas de aprenderem fazendo suas obrigações.
— Nem de nos esquecermos de fazer as nossas!
Bentinho estava contente. Tinha sido um dia diferente e muito produtivo.
Abraçou a mãezinha com amor, e, juntos, fizeram uma prece a Jesus, gratos pelas lições daquele dia.
Tia Célia
Prêmio ao trabalho
Certa vez uma Anjo de rutilante beleza desceu à Terra.
Estava à procura de uma criança que pudesse servir de ligação entre a Terra e o Céu, e que tivesse desenvolvido sentimentos nobres, boa-vontade e o amor ao próximo.
Como recompensa, essa criança teria a ventura de fazer uma visita a planos superiores, com a finalidade de aprendizado e recreação, durante as horas consagradas ao repouso noturno.
Passando por certa cidade, o Anjo viu um garoto que parecia simpático. Aproximou-se e convidou-o a ajudar uma família muito necessitada das redondezas. O menino respondeu:
— Agora não posso! Preciso destruir um ninho de pardais que andam estragando as frutas do nosso pomar. Talvez mais tarde...
E, assim dizendo, apanhou o estilingue e afastou-se.
O Anjo baixou a cabeça muito triste ao ver a MALDADE do garoto, e foi embora.
Mais adiante encontrou uma menina e aproximou-se, esperançoso, convidando-a para ajudar os necessitados. Ela pensou um pouco e respondeu, pesarosa:
— Agora não posso. É minha hora de brincar e meus amigos estão esperando. Mais tarde, talvez...
O Anjo sorriu de leve ao perceber o EGOÍSMO da criança e afastou-se, triste.
Mais tarde, o Anjo encontrou um garoto e abordou-o, otimista. O menino, que parecia não ter problema nenhum, morava numa bela casa e estava desocupado, respondeu imediatamente:
— Ah! Não sei não. Tem certeza de que são necessitados mesmo? Veja aquele moleque de rua que está no meu portão. É um malandro e procura apenas uma maneira de se aproximar de minha casa para roubar. Essa “gentinha” não me engana. Fora! Fora! Vadio! Vá trabalhar!
Ao ouvir as palavras cruéis e cheias de ORGULHO do garoto, o Anjo afastou-se sem dizer nada.
E assim, prosseguiu em sua busca sem encontrar a criança que apresentasse os requisitos necessários, isto é, boa-vontade e amor ao próximo.
Estava quase desistindo, quando viu um garoto maltrapilho. Aproximou-se e fez-lhe o mesmo convite, embora sem muita esperança, pois o menino aparentava ser bem pobre.
Os olhos do menino brilharam ao ouvir o convite do Anjo e respondeu, incontinenti:
— Ah, vou sim! O senhor pode me aguardar só um pouquinho? Estou voltando do mercado onde fui fazer umas compras para o almoço. Moro aqui perto. Vamos até em casa?
O Anjo o acompanhou mais animado, notando-lhe a boa-vontade. Lá chegando, verificou a extrema pobreza em que sua família vivia.
Já na entrada, o menino conversou amigavelmente com os passarinhos e galinhas que vieram encontrá-lo.
— Ah, meus amigos! Pensam que me esqueci de vocês? Aqui está o que lhes trouxe — e, assim dizendo, tirou do bolso da calça um pedaço de pão duro que ganhara e distribuiu com as aves famintas.
Em seguida, entrou em casa.
— Mamãe! — disse o menino. — Vou sair para visitar umas pessoas necessitadas. Posso levar-lhes alguma coisa? Devem estar passando fome. Sei que temos pouco, mas eu não preciso de nada, por isso levarei a parte que me cabe. Não se preocupe com o serviço; arrumarei a cozinha quando voltar. Está bem?
Ao ouvir as palavras do menino, o Anjo compreendeu que encontrara o que tanto tinha procurado.
Foi com os olhos úmidos de emoção que acompanhou o garoto até o lar que precisava de ajuda.
Com carinho, o menino atendeu a todos: Tratou de um doente, deu banho no caçula da casa e ajudou a senhora no serviço doméstico. Quando terminou estava cansado, mas feliz.
Disse à dona da casa:
— Não se preocupe. Vou tentar arrumar serviço para seu marido. Dou uma ajuda de vez em quando numa casa muito rica e tenho certeza que o dono, que é um homem muito bom, poderá arranjar alguma ocupação para ele.
Fez uma pausa e concluiu:
— Tenha muita confiança em Deus! Ele não nos desampara nunca.
A pobre mulher, mais animada, agradeceu sensibilizada a ajuda que recebera, e o garoto despediu-se, prometendo voltar assim que pudesse.
O Anjo, profundamente emocionado, ao deixarem a casa disse ao menino:
— Parabéns! Você merece um prêmio pela sua BOA-VONTADE e AMOR AO PRÓXIMO. Receberá, de hoje em diante, toda a ajuda que lhe for necessária para o prosseguimento de sua tarefa de ajuda ao semelhante, porque Deus precisa do concurso de todas as pessoas de bem para a implantação do seu Reino de Amor na face da Terra.
Naquela noite o garoto teve lindos sonhos, sendo levado para regiões mais felizes do Plano Espiritual onde receberia instruções para trabalhar, acordando no dia seguinte com ânimo renovado para enfrentar a vida.
Tia Célia
Escolhendo o presente do papai
Andando pelas ruas de comércio da cidade, Julinho, de oito anos, pensava:
— O que vou comprar de presente para o papai?
Aproximava-se o Dia dos Pais e ele queria dar um presente ao seu pai, mas que representasse seu próprio esforço.
Conseguira economizar dez reais da mesada do mês e disse à mãe:
— Mamãe! Posso escolher um presente para o papai? Mas quero fazer isso sozinho!
Antes de responder, a mãe pensou um pouco, e achou que seria bom para o filho: ele ia exercitar a responsabilidade, aprender a utilizar o livre-arbítrio, isto é, entre várias opções de escolha, tomar a decisão adequada à quantia que tinha em suas mãos; além disso, saindo desacompanhado, também exercitaria a independência, tornando-se mais confiante e seguro de si mesmo.
Depois de pensar, a mãe decidiu:
— Está bem, Julinho, pode ir. Mas, espere um momento. Vou pegar o dinheiro para você levar.
— Não precisa, mamãe. Eu tenho dinheiro! Economizei na mesada deste mês — afirmou o menino com satisfação, tirando a nota de dez reais do bolso da calça e mostrando-o à mãe.
Agradavelmente surpresa, a senhora sorriu e disse:
— Então está bem, meu filho. Cuidado ao atravessar as ruas e guarde bem seu dinheirinho. Vá com Deus!
O menino arrumou-se, penteou os cabelos, colocou a nota no bolso da calça e despediu-se da mãe.
Andou por várias lojas. As opções eram muitas. Olhou calças e camisas, mas eram caras. Um par de sapatos? Nem pensar! Não tinha dinheiro para comprá-los.
Caindo na realidade, começou a ver coisas mais ao seu alcance. Talvez um lenço ou um par de meias? Quem sabe uma caixa de chocolates? Seu pai gostava de música; quem sabe um CD de músicas resolveria a questão?
As dúvidas eram muitas, e os preços também.
Na verdade, olhando as vitrines das lojas, Julinho pensava... pensava... Ele queria dar algo ao seu pai, a quem amava tanto, mas que ele pudesse se lembrar dele para sempre. Que o presente o acompanhasse por toda a vida!
Desse modo, as coisas de comer estavam descartadas. Uma gravata, uma caixa de lenços ou um par de meias, ele usaria por algum tempo, depois iria deixar de lado por terem ficado velhos. O CD, ele poderia não gostar das músicas.
Com a cabecinha cheia de dúvidas, Julinho passou por uma livraria e seus olhos se arregalaram:
— Um livro! Por que não pensei nisso antes?
Decidido, entrou na livraria e, no meio dos livros que estavam em exposição, achou um perfeito e com desconto! Era exatamente o que ele queria, e ao preço de dez reais! Seu pai iria adorar!
Mandou embrulhar para presente, pagou e saiu da loja todo feliz.
No domingo, Dia dos Pais, Julinho levantou-se cedo e, passando a mão no pacote, correu a abraçar seu pai. Com o presente escondido nas costas, ele chegou ao quarto do pai todo sorridente.
— Papai, parabéns pelo seu dia! Trouxe uma coisa para você. Olhe!
E estufando o peito com orgulho, entregou ao pai o lindo pacote amarrado com bela fita vermelha.
— Obrigado, filhinho. Mas, o que será? — disse o pai, mostrando curiosidade.
Ao abrir o pacote deparou-se com um livro.
— Meu filho! É um presente muito valioso. Adorei a idéia!
— Fui eu que escolhi, papai. Queria dar-lhe um presente que fosse útil em todas as ocasiões e que, cada vez que o abrisse, se lembrasse de mim.
Comovido, ele exclamou:
— Acertou em cheio, meu filho! Não poderia ter escolhido melhor. Obrigado!
Deu um grande e carinhoso abraço no pequeno Júlio. Depois, mostrou o livro à mãe.
— Veja, querida. É um exemplar de “O Evangelho segundo o Espiritismo”!
A mãe, também comovida, abraçou-se aos dois e ficaram os três enlaçados.
— Sabia que você iria gostar, papai. Certo dia, ouvi você dizer para a mamãe que este livro traz muito conhecimento para quem o lê e serve em todos os momentos: na alegria e na tristeza, na saúde e no sofrimento. Que ele consola, alegra, dá paz e esperança a quem precisa.
— Isso mesmo, meu filho. Você lembrou muito bem. Nesta obra estão contidas as lições que Jesus nos deixou para servir-nos de guia na existência.
Emocionado, naquele momento o pai pediu que orassem juntos para agradecer a Deus o filho tão especial que lhe dera, e também o dia que estava apenas começando, mas que prometia ser feliz e cheio de bênçãos.
Tia Célia
A lição do Totó
Era uma vez um menino que se chamava Juquinha.
Juquinha era muito malcriado. Gostava de brigar com os outros garotos e divertia-se em maltratar os animais.
Os garotos se defendiam, mas os pobres animais, muito dóceis e humildes, não reagiam.
Ele vivia atirando pedras nos passarinhos e destruindo seus ninhos; puxava o rabo dos gatos, batia nos cachorros e arrancava penas das galinhas.
Um horror! Ninguém gostava dele.
Sua mãe, que era uma mulher muito bondosa, condoída da sorte dos bichinhos que tinham a infelicidade de cair nas mãos do menino, tentando corrigi-lo aconselhava com carinho:
— Juquinha, meu filho! Tome cuidado. Um dia você ainda vai se arrepender! Que mal lhe fizeram esses pobres bichinhos? Eles são filhos de Deus, como nós, e merecem todo o nosso respeito e carinho.
Mas, qual nada! Juquinha sacudia os ombros, fazia uma careta e ia brincar, sem se importar com os conselhos de sua mãe.
Um dia Juquinha resolveu sair para passear com seu cachorrinho Totó.
O cãozinho ia à frente, todo satisfeito, abanando o rabo. Era tão difícil Juquinha convidá-lo para sair!
Caminhando pela rua, o menino avistou um pequeno galho que tinha caído de uma árvore. Pegou-o, fez com ela uma varinha, e começou a agitá-la no ar. Depois, tendo outra ideia, com más intenções, ameaçou Totó com a varinha, como se fosse bater nele.
O cãozinho, que vez por outra olhava para trás, viu o gesto e percebeu a intenção do garoto.
Totó, que já estava cansado dos maus tratos recebidos do seu dono, resolveu lhe dar uma lição.
Virou-se e deu uma mordida na perna do Juquinha. Uma pequena mordida, apenas para assustá-lo, dar-lhe uma lição. Mas o menino, surpreso e apavorado, começou a chorar de dor.
Com a dor que sentiu ao ser mordido pelo cão, que sempre fora seu amigo, Juquinha percebeu o que os animais sentiam quando ele os machucava.
Desse dia em diante ele tornou-se um menino bonzinho e protetor dos animais.
Tia Célia
Buscando solução
O pequeno Gabriel, de sete anos apenas, andava muito triste.
O ambiente da sua casa, que sempre fora cheio de paz, amor e alegria, já não era o mesmo.
Desde algum tempo, percebia que seus pais brigavam muito. Mal se falavam e, quando isso acontecia, era para discutir.
Gabriel e seus irmãos, Clarinha e Vinícius, pouco mais velhos do que ele, ficavam quietinhos no quarto, com o coração apertado de preocupação, sem saber o que fazer para ajudar.
Um dia, os pais brigaram tanto que o pai saiu de casa batendo a porta com estrondo, e a mãe ficou chorando muito em seu quarto.
Gabriel não conseguia pensar em nada mais. Não estudava, não brincava, não conseguia fazer seus deveres e estava indo mal na escola.
Há dois dias eles tinham brigado e o pai ainda não voltara para casa. Sua mãe parecia uma sombra, sempre de olhos inchados de tanto chorar.
— Mamãe, o papai não vai voltar? — perguntou, preocupado com a situação.
A mãezinha abraçou-o com carinho e sorriu, afirmando:
— Claro que vai, meu filho. Ele está muito ocupado com o trabalho, por isso não tem vindo para casa.
Não se preocupe. Tudo vai bem.
Mas Gabriel sabia que nada ia bem. E ele pensava: “O que será de nós se papai não voltar? Como ficará nossa vida? Será que ele não gosta mais de nós?”
Mas não encontrava resposta para essas perguntas. Porém, ele sabia que precisava fazer alguma coisa.
Lembrou-se de que sua mãe costumava dizer que Deus sempre tinha uma resposta para nos dar diante dos sofrimentos, e que se a buscássemos nas palavras de Jesus, encontraríamos o socorro desejado.
Então Gabriel pegou o Evangelho, abriu numa página qualquer, certo de que Jesus certamente o ajudaria mostrando o caminho. De olhos fechados, colocou o dedinho num local da página. Seus olhos fixaram-se na frase onde colocara o dedo, e leu: “Quem pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate à porta, ela se abrirá.”
De olhos arregalados, leu a frase várias vezes. Sim! Mamãe tinha razão! Jesus tinha lhe mandado a resposta. Entendeu que teria que orar pedindo o que desejava, e que encontraria um meio de resolver a situação dos pais.
Gabriel começou a orar, pedindo a Deus que não permitisse que sua família fosse destruída.
Todas as vezes que se lembrava do problema, ele repetia a oração.
Aquela noite ele conseguiu dormir mais tranquilo.
De manhãzinha, acordou com uma “ideia luminosa” na cabeça. Pegou lápis e uma folha de caderno e escreveu um bilhete para o papai, nestes termos:
“Querido Carlos, eu amo você. Precisamos conversar. Eu espero você naquele restaurante que a gente sempre vai, às oito horas da noite. Um beijo, Fernanda.”
Escreveu outro bilhete igualzinho, só trocando os nomes, como se fosse o papai convidando a mamãe para um encontro. Olhou os bilhetes, contente com ele mesmo. Depois, todo alegre, deixou o bilhete para a mãe na porta da rua, para que ela o encontrasse ao abri-la.
Arrumou-se para ir à escola e, quando foi tomar café, notou que a mãe já estava mais animada.
Na saída da escola, passou no prédio onde seu pai trabalhava, que era bem pertinho, e deixou o bilhete com o porteiro para lhe entregar. Em seguida, pôs-se a orar para seu plano dar certo.
De tarde, sua mãe avisou aos filhos que iria sair um pouco à noite. Depois, foi ao salão se arrumar.
Gabriel não tinha contado nada aos irmãos, que estranharam o comportamento da mãe. Ande será que ela iria?
De noite, a mãe apareceu na sala, já toda arrumada e perfumada, avisando:
— Não vou demorar. Tranquem bem a porta e não saiam de casa.
Mais tarde, quando voltou, os irmãos tiveram uma grande surpresa: o pai a acompanhava.
Carlos abraçou os filhos, com muito amor. Após matarem a saudade, o pai disse às crianças:
— Meus filhos, hoje eu percebi o mal que estava causando a vocês. Eu e a mãe de vocês conversamos e resolvemos nunca mais brigar. Procuraremos acertar nossas diferenças, daqui em diante, dialogando em paz. Hoje compreendemos que, se existe amor, não há o que não se possa resolver.
Parou de falar, enxugou uma lágrima, e prosseguiu:
— E isso nós conseguimos graças ao Gabriel, que encontrou a maneira certa de nos aproximar de novo.
E contou, diante de Clarinha e Vinícius, que ouviram surpresos o que o filho tinha feito.
Muito admirado, Gabriel perguntou:
— Mas como vocês descobriram que fui eu?
Todos riram, quando os pais mostraram os bilhetes que tinham recebido.
Aquela letrinha, a mesma nos dois bilhetes, e tão conhecida, só podia ser a do Gabriel!
O garoto ficou encabulado por ter sido descoberto. E o pai, desarranjando-lhe os cabelos, disse emocionado:
— Todos nós temos a agradecer ao nosso querido Gabriel, que soube resolver a situação que eu e sua mãe criamos.
Gabriel sorriu, satisfeito e aliviado, e contou:
— Agradeçam a Jesus. Foi ele que me mostrou o caminho!
Tia Célia
O girassol
Narciso, um garoto muito mimado, vivia sempre criando problemas com os colegas.
Ele não aceitava ser contrariado. Sua vontade tinha sempre que prevalecer. E, quando isso não acontecia, fechava-se, irritado, e não conversava com ninguém.
Aproximava-se a primavera, estação das flores. Num lindo dia de sol, a professora levou os seus alunos até um jardim, no fundo da escola.
— Como vocês sabem, o inverno está terminando e logo a primavera vai chegar. Por isso, hoje vamos ter uma aula prática de jardinagem. Já aprenderam em classe o que as plantas precisam para germinar, se desenvolver e dar flores ou frutos. Então, vocês vão agora plantar as sementes ou mudas que trouxeram de casa.
Os alunos, animados, foram retirando das sacolas o que haviam trazido para plantar.
Cada um deles escolheu uma espécie diferente de flor.
Um aluno dizia, orgulhoso:
— Professora, trouxe algumas mudas de onze-horas. Mamãe disse que elas se alastram com facilidade e dão lindas flores.
— Muito bem, Zezinho.
— Eu trouxe uma muda de hortênsia, professora — disse Ricardo.
— E eu, uma muda de manacá para enfeitar e perfumar nosso jardim! — afirmou Bentinho.
E assim, cada um deles mostrava o que trouxera de casa: roseiras, crisântemos, petúnias, violetas, margaridas e muito mais.
Narciso, que lembrou na última hora a necessidade de levar uma planta para a escola, ao sair de casa arrancou a primeira que encontrou.
Ao observar o que os colegas trouxeram, sentiu-se diminuído ao ver que havia plantas muito mais bonitas que a sua.
Vendo que só ele se mantinha calado, a professora perguntou:
— Narciso, o que você trouxe?
Envergonhado, ele respondeu, mostrando a planta, cujas folhas caídas pareciam murchas:
— Não sei nome dessa planta, professora.
— Alguém sabe? — ela indagou para os demais.
Rafael, um garoto muito esperto e inteligente, do qual Narciso não gostava, respondeu:
— Eu sei, professora! É uma mimosa ou sensitiva. Ela se encolhe toda ao ser tocada, por isso está assim.
Um dos meninos comentou em tom de brincadeira:
— O Narciso tem nome de flor, mas se assemelha mais à sensitiva: ninguém pode se aproximar dele!
Os demais caíram na risada. Sentindo-se humilhado perante o conhecimento do outro e a brincadeira do colega, Narciso revidou, irritado:
— E você, Rafael, trouxe essa enorme flor amarela para aparecer, não é?
Rafael, que realmente trouxera uma muda já com uma linda flor, estranhou a reação do colega. Olhou para ele, pensou um pouco e respondeu tranquilo:
— Está enganado, Narciso. Escolhi o girassol porque é uma planta que acho linda e admiro muito. Não sei se você reparou, mas ele sempre, onde estiver, procura o sol. Tem gente que busca a escuridão, mas eu, como o girassol, desejo buscar a luz.
Narciso baixou a cabeça. Talvez a resposta estivesse nessa frase, pensou.
Rafael sempre estava cercado de amigos, e ele sempre sozinho. Ninguém gostava dele. Sentiu que precisava mudar seu comportamento se quisesse fazer amigos.
Aquela manhã os alunos ficaram no jardim entretidos com as plantas. Ao bater o sinal, cada um tomou seu rumo.
No trajeto para casa, Narciso notou Rafael que, um pouco atrás, ia para o mesmo lado. Parou e esperou. Rafael se aproximou dele e passou a acompanhá-lo.
— Narciso, eu sei que você não gosta de mim, mas quero ser seu amigo. Se eu fiz algo que o desgostou, peço-lhe desculpas. Nunca tive a intenção de magoá-lo.
O outro, olhando para o colega, notou tanta sinceridade em sua atitude, que se desarmou:
— Não, Rafael, você nunca me fez nada. A culpa é minha. Eu é que sou um chato.
Pela primeira vez, sentiu necessidade de ser verdadeiro, humildemente reconhecendo seus erros.
Trocaram um sorriso e, a partir dali, passaram a conversar, falando sobre a escola, futebol e do que cada um mais gostava.
Naquele pequeno trajeto, aprenderam a se conhecer melhor e Narciso passou a estimar Rafael. Pareciam velhos amigos.
Ao chegar em casa, convidou-o para entrar e conhecer sua mãe, e o outro aceitou, satisfeito.
Chegando à cozinha, Narciso apresentou o colega:
— Mamãe, este é meu amigo Rafael. Como ele, eu também quero ser como um girassol!
Tia Célia
Dar de si mesmo
Laurinha, embora contasse apenas oito anos de idade, tinha um coração generoso e muito desejoso de ajudar as outras pessoas.
Certo dia, na aula de Evangelização Infantil que frequentava, ouvira a professora, explicando a mensagem de Jesus, falar da importância de se fazer caridade, e Laurinha pôs-se a pensar no que ela, ainda tão pequena, poderia fazer de bom para alguém.
Pensou... pensou... e resolveu:
— Já sei! Vou dar dinheiro a algum necessitado.
Satisfeita com sua decisão, procurou entre as coisas de sua mãe e achou uma linda moeda.
Vendo Laurinha com dinheiro na mão e encaminhando-se para a porta da rua, a mãe quis saber aonde ela ia. Contente por estar tentando fazer uma boa ação, a menina respondeu:
– Vou dar este dinheiro a um mendigo!
A mãezinha, contudo, considerou:
– Minha filha, esta moeda é minha e você não pode dá-la a ninguém porque não lhe pertence!
Sem graça, a garota devolveu a moeda à mãe e foi para a sala, pensando...
– Bem, se não posso dar dinheiro, o que poderei dar?
Meditando, olhou distraída para a estante de livros e uma ideia surgiu:
– Já sei! A professora sempre diz que o livro é um tesouro e que traz muitos benefícios para quem o lê.
Eufórica por ter decidido, apanhou na estante um livro que lhe pareceu interessante, e já ia saindo da sala quando o pai, que lia o jornal acomodado na poltrona preferida, a interrogou:
– O que você vai fazer com esse livro, minha filha?
Laurinha estufou o peito e informou:
– Vou dá-lo a alguém!
Com serenidade, o pai tomou o livro da filha, afirmando:
– Este livro não é seu, Laurinha. É meu, e você não pode dá-lo para ninguém.
Tremendamente desapontada, Laurinha resolveu dar uma volta, Estava triste, suas tentativas para fazer a caridade não tinham tido bom êxito e, caminhando pela rua, continha as lágrimas que teimavam em cair.
– Não é justo! – resmungava.– Quero fazer o bem e meus pais não deixam!
Nisso, ela viu uma colega da escola sentada num banco da pracinha. A menina parecia tão triste e desanimada que Laurinha esqueceu o problema que tanto a afligia.
Aproximando-se, perguntou gentil:
– O que você tem, Raquel?
A outra, levantando a cabeça e vendo Laurinha a seu lado, desabafou:
– Estou chateada, Laurinha, porque minhas notas estão péssimas. Não consigo aprender a fazer contas de dividir, não sei tabuadas e tenho ido muito mal nas provas de matemática. Desse jeito, vou acabar perdendo o ano. Já não bastam as dificuldades que temos em casa, agora meus pais vão ficar preocupados comigo também.
Laurinha respirou, aliviada:
– Ah! Bom, se for por isso, não precisa ficar triste. Quanto aos outros problemas, não sei. Mas, em relação à matemática, felizmente, não tenho dificuldades e posso ajudá-la. Vamos até a sua casa e tentarei ensinar a você o que sei.
Mais animada, Raquel conduziu Laurinha até a sua casa, situada num bairro distante e pobre. Ficaram a tarde toda estudando.
Quando terminaram, satisfeita, Raquel não sabia como agradecer à amiga.
– Laurinha, eu aprendi direitinho o que você ensinou. Não imagina como foi bom tê-la encontrado naquela hora e o bem que você me fez hoje. Confesso que não tinha grande simpatia por você. Achava-a orgulhosa, metida, e vejo que não é nada disso. É muito legal e uma grande amiga. Valeu.
Sentindo grande sensação de bem-estar, Laurinha compreendeu a alegria de fazer o bem. Quando menos esperava, sem dar nada material, percebia que realmente tinha ajudado alguém.
Despediram-se, prometendo-se mutuamente continuarem a estudar juntas.
Retornando para casa, Laurinha contou à mãe o que fizera, comentando:
– A casa de Raquel é muito pobre, mamãe; acho que estão necessitando de ajuda. Gostaria de poder fazer alguma coisa por ela. Posso dar-lhe algumas roupas que não me servem mais? – perguntou, algo temerosa, lembrando-se das “broncas” que levara algumas horas antes.
A senhora abraçou a filha, satisfeita:
– Estou muito orgulhosa de você, Laurinha. Agiu verdadeiramente como cristã, ensinando o que sabia. Quanto às roupas, são “suas” e poderá fazer com elas o que achar melhor.
Laurinha arregalou os olhos, sorrindo feliz e, afinal, compreendendo o sentido da caridade.
– É verdade, mamãe. São minhas! Amanhã mesmo levarei para Raquel. E também alguns sapatos, um par de tênis e uns livros de histórias que já li.
Tia Célia
O cavalinho rebelde
Em certo sítio muito agradável, em meio a uma linda pastagem, vivia um cavalinho que era o orgulho de todos.
Nascera ali naquelas paragens e os outros animais o amavam com se fosse o filho de cada um deles.
Ele nasceu forte e sadio. Deram-lhe o nome de Formoso.
Era realmente um prazer vê-lo a correr pelos campos, galopar na pradaria, a brincar com outros animais. Mas Formoso, por ter a atenção e o carinho de todos, cresceu convencido e orgulhoso. Nada era bastante bom para ele. Queria sempre o melhor para si e acreditava que tinha mesmo o direito à atenção geral.
Quando se tornou um jovem cavalo, de pelo brilhante e sedoso, pernas ágeis e fortes, seu dono resolveu que ele seria um corredor. Afinal, Formoso era rápido como uma flecha e, sem dúvida, o cavalo mais rápido da região. Seria treinado para participar das corridas de cavalos e, com certeza, teria dias de glória no hipódromo.
Formoso torceu o nariz. Recusou-se a participar do treinamento julgando-se superior a essa tarefa.
– Eu não! – afirmava ele – Cansar-me correndo para divertimento do povo? De jeito nenhum! Não vou.
O patrão, decepcionado, julgou que talvez tivesse errado em seus cálculos. Provavelmente Formoso não tinha tendência para as corridas. Quem sabe sentir-se-ia melhor no próprio lar? Deixaria Formoso para uso de sua esposa. Ela gostava de cavalgar e ficaria feliz com o presente.
Formoso recusou-se. Quando a mulher montou em seu dorso ele mostrou seu desagrado corcoveando. Para não cair, ela desmontou e nunca mais quis saber dele.
Ainda tentando desculpá-lo e justificar suas atitudes, pois o amava, o dono pensou:
– Quem sabe minha esposa é muito pesada para Formoso? Talvez, se o meu filho montasse, sua reação seria diferente!
Qual nada! O garoto montou, sob a assistência amorosa do pai, e logo teve que descer porque Formoso reagiu dando coices e pinotes.
E assim, sucessivamente, o dono de Formoso tentou de tudo para arrumar uma tarefa para ele. Tentou colocá-lo puxando uma charrete leve e o arado, sem resultado. Esbarrava sempre na sua má vontade.
Afinal, o tempo foi passando e, vendo que não conseguia localizá-lo em nenhum setor de serviço, pois Formoso gostava mesmo era de correr pelos campos, alimentar-se muito bem e beber água fresca, o homem perdeu a paciência e resolveu vendê-lo, embora com muita dor no coração.
Qual não foi sua surpresa ao encontrar certo dia, algum tempo depois, numa pequena e poeirenta estrada, o Formoso, o seu lindo cavalo Formoso, que possuíra de tudo, que poderia ter sido um campeão nas corridas, animal de estimação e montaria para sua família, que o tratava com imenso amor, agora irreconhecível, sujo e maltratado, com a cabeça baixa, humilhado, puxando com grande dificuldade uma pesada carroça.
Foram-lhe dadas muitas oportunidades que Formoso não soubera aproveitar. Agora, teria que aprender o valor do trabalho sob condições bem mais difíceis e árduas, para que pudesse valorizar as bênçãos que o Senhor colocara em sua vida.
Tia Célia
O crente desapontado
Havia um homem que possuía uma pequena área de terra, mas de solo fértil e dadivoso.
Dono de profunda e invejável fé, o nosso homem não se cansava de louvar a Deus por toda a criação e pelas dádivas da natureza, sempre tão pródiga.
O terreno vizinho era habitado por um homem muito pobre, mas muito trabalhador. Ele nada possuía, mas trabalhava tanto que nem sequer tinha tempo de pensar em Deus. Acreditava no seu esforço pessoal e em tudo aquilo que seus braços podiam realizar.
E, assim pensando, desde o alvorecer até o poente, lá estava ele, arroteando o terreno, adubando, plantando e arrancando as ervas daninhas que se misturavam à boa semente.
O outro criticava-o pela falta de religião e dizia-lhe:
– Não sei como pode deixar de louvar a Deus! Veja a beleza do céu com seus astros, a pujança da natureza que nos concede suas dádivas! Agradeço a Deus todos os dias e peço a Ele que me ajude porque sei que não deixará de ouvir minhas preces.
O incrédulo sorria, concordava com a cabeça e pedia licença, retirando-se:
– Agora não tenho tempo. O sol já está se pondo e preciso regar minha horta e dar milho para as galinhas.
E o crente ali ficava, condoído da falta de fé do vizinho e sentado sob uma árvore, a contemplar as primeiras estrelas que já começavam a surgir, embevecido ante a majestosa obra do Criador.
O tempo foi passando e a propriedade do crente foi mudando de aspecto.
Onde antes existira uma plantação viçosa, agora o mato tomava conta, sufocando as poucas sementes que teimavam por nascer. A cerca estava toda quebrada e a horta destruída pelas galinhas que penetravam pelos buracos, e pelos passarinhos que, não encontrando oposição, comeram as plantas existentes.
No pomar, sem cuidados, as frutas amadureceram nos pés e, sem ninguém que as colhesse, apodreceram caindo ao chão, servindo de repasto para os vermes e insetos.
Enfim, o aspecto era de abandono e desolação. A sujeira tomava conta de tudo.
No terreno ao lado, porém, tudo era diferente. As plantas, bem cuidadas, faziam a alegria do seu dono. As hortaliças e legumes produziam bastante, propiciando farta alimentação, além da venda no mercado do excedente da produção.
As frutas colhidas e armazenadas deram-lhe bom lucro e, com a renda, aumentou o rancho, fez uma pintura bem bonita e ainda comprou algumas vacas.
O crente, sem entender o que acontecera, inquiriu o incrédulo:
– Não sei por que minha propriedade está indo tão mal, enquanto a sua, que era um terreno ruim e cheio de pedras, está tão bonita. Não entendo! Sou fervoroso crente em Deus. Jamais deixei de cumprir minhas obrigações religiosas e sempre tenho suplicado a ajuda do nosso Mestre Jesus.
Fazendo uma pausa, perguntou, algo desapontado:
– Será que Ele me esqueceu?
Ao que o incrédulo respondeu:
– Louvar a Deus no íntimo do coração é muito importante, mas creio que “Ele” não desprezou o trabalho. Disseste que minha terra era ruim e cheia de pedras, mas o que sei é que trabalhei muito. Para o solo, usei como adubo a estrumeira dos teus animais que jogavas em meu terreno por sobre a cerca, tornando-o mais fértil e melhorando a produção. Com as pedras que retirei do solo, fiz uma cerca mais forte e resistente ao assédio dos animais.
Fez uma pausa e prosseguiu:
– Não tenho muito tempo para dedicar-me a Deus, mas creio que esqueceste uma lição muito importante que foi deixada há muito tempo atrás por Jesus de Nazaré, que dizes amar.
– Qual é? – perguntou o crente fervoroso.
– Ajuda-te a ti mesmo que o céu te ajudará!
Envergonhado, o crente baixou a cabeça, reconhecendo que o outro tinha razão e que ele, que se julgara tão superior ao vizinho, aprendia com ele uma lição de vida, extraordinária.
Entendeu então que é muito importante ter fé em Deus, mas isto não basta. É preciso transformar em obras as lições recebidas. O Evangelho de Jesus, que ele prezava tanto, estava apenas em seu cérebro, não em seu coração.
Fora preciso alguém, que nem sequer tinha tempo de louvar a Deus, abrir-lhe os olhos e lembrar a lição inesquecível do Mestre de Nazaré:
– Ajuda-te a ti mesmo que o céu te ajudará!
Tia Célia
A lição da formiga
Na escola de Otávio organizava-se uma festa e os alunos, animados, ultimavam os preparativos. Alguns penduravam enormes cordões de bandeirinhas coloridas, outros faziam cartazes, outros varriam o chão, outros ainda limpavam as mesas e cadeiras.
Na cozinha, preparavam-se bolos e tortas, doces e salgados, para serem servidos durante a festa.
Trabalhavam com amor, enquanto conversavam e se divertiam.
Otávio era o único que não quisera colaborar em nada.
A professora, atenta e dedicada, solicitou-lhe várias vezes que ajudasse nesse ou naquele setor de serviço, mas ele recusava-se terminantemente a auxiliar no esforço de todos.
Certo momento, a professora ordenou-lhe, severa:
— Já que você se recusa a colaborar na organização de nossa festa, a exemplo dos demais, terá uma outra tarefa: deverá entregar-me amanhã, sem falta, uma redação sobre o tema: A Vida das Formigas.
— Mas professora, isso não é justo! — reclamou o garoto. — Só eu tenho que fazer esse trabalho?
— Engano seu, Otávio. Não é justo é você estar sem fazer nada enquanto seus colegas trabalham e se esforçam a benefício de todos.
Fez uma pausa e, vendo a indecisão de Otávio, completou:
— Pode começar já, caso contrário não conseguirá terminar até amanhã.
— Mas, como fazer isso? Não sei por onde começar! — retrucou o garoto.
— É simples. Observe as formigas no jardim!
Muito embaraçado, Otávio encaminhou-se para o jardim da escola. Suspirando, sentou-se no chão e pensou: Bolas! Onde é que vou encontrar formigas?
Nisso, viu uma formiguinha que passou apressada entre seus pés. Seguiu-a com o olhar e logo em seguida reparou em duas outras que seguiam apressadas, no mesmo sentido.
Curioso, levantou-se e acompanhou-as. Um pouco adiante, viu uma formiga que voltava carregando um pedaço de pão que, não obstante pequeno, era muitas vezes maior do que ela.
Sorriu, divertido, e, ao mesmo tempo, admirado: — Aonde será que ela vai levar aquele pedacinho de pão duro? — pensou.
Olhou em volta e, um pouco à frente, viu um grande pedaço de sanduíche que alguém jogara. Em torno dele, dezenas de formigas trabalhavam diligentes. Algumas cortavam em pedaços menores e outras os transportavam.
Quando o pedaço era ainda muito pesado para suas pequenas forças, uniam os esforços e carregavam juntas.
Seguindo o trajeto que faziam, Otávio percebeu que entravam num formigueiro, deixavam a carga e retornavam ao trabalho.
— Que interessante! — murmurou Otávio, impressionado com a cooperação e a união existente entre as pequenas operárias. — São tão pequenas e tão unidas e trabalhadeiras!
Nesse momento, lembrou-se da festa da escola e que só ele não estava colaborando. Levantou-se, envergonhado, procurou a professora pedindo que lhe desse uma tarefa.
Sorridente, a mestra perguntou:
— Muito bom! Mas o que fez você mudar de idéia, Otávio?
— As formigas que a senhora mandou que eu pesquisasse. Vivem unidas num sistema de cooperação fraterna e amiga. Se elas podem trabalhar, eu também posso.
Parou de falar, fitando a professora e disse:
— Só que, ajudando na festa, não terei muito tempo para preparar a redação. Preciso mesmo entregar amanhã cedo?
A mestra sorriu, satisfeita, e, colocando a mão sobre a cabeça do menino falou, com carinho:
— Não, Otávio. Não há necessidade de fazer a redação. Você já aprendeu sua lição.
Tia Célia
O ladrão de bananas
Deixando a mata onde vivia, um macaquinho aventurou-se por outras bandas. Estava faminto.
Os homens destruíram a mata, e o solo ficara árido, seco, sem vegetação. Derrubaram as árvores, depois colocaram os enormes troncos em caminhões que, roncando assustadoramente, os levaram para longe; o resto fora queimado.
E o macaquinho, assim como os outros animais e aves, foi obrigado a abandonar seu refúgio, procurando um lugar onde pudesse se abrigar.
Logo, encontrou um sítio bonito com grandes árvores. No meio de um gramado, havia uma casa simpática, cercada de flores. Um homem saiu da casa e, acompanhado por um cão, foi tratar da criação. Ele deu comida conversando com os animais: galinhas, patos, porcos e cavalos; depois, tirou leite da vaca. Para cada um tinha uma palavra gentil.
O macaquinho resolveu que iria morar ali.
Ganhando coragem, aproximou-se com cuidado. O cachorro, sentindo sua presença, pôs-se a farejar e foi no seu encalço latindo feroz.
Aos guinchos, assustado, rapidamente o macaquinho subiu numa árvore e ficou escondido no meio da folhagem.
— O que houve, Pingo? Viu alguma coisa? — perguntou o dono ao cão.
Debaixo da árvore, o cachorro continuava a latir sem parar, olhando para o alto. Aproximando-se, o dono olhou para cima e viu o macaquinho que tremia de susto.
— Ora, é apenas um macaco, Pingo. Deixe-o em paz.
Nos outros dias, o homem viu o macaquinho que se aproximava cada vez mais. Uma manhã, ao acordar, encontrou o bichinho a procurar restos de comida no terreiro.
Cheio de compaixão, pegou algumas bananas e deixou-as sobre um mourão da cerca.
Arisco, o bichinho só se aproximou depois que o homem entrou em casa.
Desse dia em diante, todas as manhãs o homem deixava algumas bananas para o novo amigo. Deu-lhe o nome de Miquinho.
Ele habituou-se a ter a presença do animal por perto quando estava trabalhando.
No meio da sua plantação, ele tinha algumas bananeiras. Homem bom, mas severo, ele avisou:
— Miquinho, eu só não admito que roube meus cachos de bananas. Entendeu?
O macaco olhou-o e deu um guincho estridente, como se tivesse entendido.
Apesar dessa recomendação, o homem começou a perceber que alguém estava mexendo nas suas bananeiras. De vez em quando, um cacho desaparecia.
— É você que está roubando minhas bananas, Miquinho?
Com seus olhos de gente, pequenos e arregalados, o macaco olhava para o amigo e balançava a cabeça negativamente.
Em dúvida, o homem se calava, mas não sabia o que pensar. Quem mais poderia estar roubando suas bananas?
Certa noite caiu uma grande tempestade. O vento forte agitava as árvores, enquanto raios e trovões cortavam os ares. Os animais ficaram agitados, temerosos. No sítio, ninguém dormiu.
Na manhã seguinte, quando o dono acordou, viu o estrago que o temporal fizera. Árvores tinham sido arrancadas, o paiol fora destelhado, e no terreiro tudo estava fora do lugar.
Pegando sua velha caminhoneta, resolveu ir à cidade buscar material para fazer os reparos.
Havia percorrido algumas centenas de metros, quando viu Miquinho que, ao lado da estrada, o acompanhava pulando de árvore em árvore. O bichinho guinchava alto, desesperado, como se quisesse falar com ele.
O homem parou o veículo e desceu.
— O que está acontecendo, Miquinho? Por que esse barulho todo?
Mas o macaquinho continuava a guinchar, olhando e apontando para a estrada. Depois, pegou a mão do dono e puxou-a, como se quisesse que ele o acompanhasse.
Curioso, o homem o acompanhou e, logo depois da curva, com surpresa, viu o estrago que a chuva fizera: a ponte fora completamente destruída!
O rio, agitado, mostrava grande correnteza pelas fortes chuvas que caíram na região.
Ele pegou Miquinho no colo, abraçando-o:
— Se não fosse você, meu amigo, essa hora eu teria caído no rio. Obrigado.
Voltando para o sítio, o dono foi fazer uma vistoria nas plantações, para verificar os estragos. Nisso, encontrou um rapaz que saia de um pequeno abrigo que fizera para guardar ferramentas.
— O que está fazendo em minha propriedade? E por que está com esse cacho de bananas nos braços? — perguntou, sério.
Muito envergonhado, o rapazinho explicou:
— Moro aqui perto e estamos passando necessidade. Então, quando não temos nada para comer, venho aqui e pego um cacho. Ontem fui surpreendido pela chuva e o vento, sendo obrigado a me abrigar aqui. Acabei adormecendo e só acordei agora. O senhor me perdoe, mas não sou ladrão.
Condoído da situação do rapaz, pensou: – E se fosse eu que estivesse passando fome e precisasse roubar para comer?
Lembrou-se de Jesus quando afirmou que devemos fazer aos outros tudo o que gostaríamos que os outros nos fizessem.
O homem procurou saber onde ele morava e, depois, deixou-o ir embora levando o cacho de bananas. Em seguida, virando-se para o macaco, disse:
— E eu que pensei que fosse você o ladrão de bananas! Fui injusto e me arrependo. Você me perdoa, amigo?
Miquinho, guinchando feliz, pulou no colo dele, desmanchando-lhe os cabelos.
Mais tarde, o homem foi até a casa do rapaz e, confirmando a situação de miséria em que ele vivia com a mãe e dois irmãos menores, propôs:
— Estou precisando de um ajudante no sítio. Quer trabalhar comigo?
O rapaz sorriu, agradecendo a Deus pelo socorro que lhes tinha mandado.
E o homem, agora com a consciência tranquila, retornou para o sítio com seu amigo Miquinho, certo de que Jesus estava contente com ele.
Tia Célia
O pote de barro
Um pote de barro, velho e sujo, fora jogado ao chão por ser considerado imprestável.
Já conhecera momentos felizes, fora jovem e bonito, e sua pintura atraía os olhares de admiração de todos.
Passara por mãos respeitáveis e tivera muita utilidade. Mas agora, depois de servir durante muitos anos com lealdade e firmeza, ele fora considerado lixo e atirado ao monturo. Só não se partiu, porque caíra em meio à macia vegetação, que lhe amortecera a queda.
Triste, o velho pote de barro lamentava-se da sua sorte e da ingratidão dos homens. Sentia saudade das mãos amigas que o acariciavam, e a inatividade a que fora relegado lhe doía por dentro.
Logo ele que desejava tanto servir e ser útil!
O tempo passava e ele continuava ali, jogado ao chão.
A chuva o castigava e o vento o enchia de terra. Veio o inverno e ele tiritava de frio sem poder se proteger.
Um dia, trazida pelo vento que soprava forte, uma sementinha caiu sobre seu dorso e, tremendo de frio, suplicou-lhe:
— Oh, meu amigo pote, posso abrigar-me dentro de você? O vento me arrasta e o frio me castiga. Não tenho onde ficar!
Feliz por poder ser útil, o velho pote respondeu gentil:
— Com todo prazer, minha pequena amiga! Entre no meu bojo e fique à vontade.
E a sementinha ali ficou, protegida do vento e do frio, quietinha... quietinha...
Sem ter o que fazer e cansado da vida, o pote adormeceu esperando a estação mudar e o tempo melhorar.
Certo dia acordou ao perceber passos de alguém que se aproximava, e ouviu uma exclamação:
— Mas que lindo pote de barro!
Olhou dos lados para ver sobre quem falavam, mas admirado notou que era a ele que se dirigiam!
Surpreso, só então notou que se transformara num belo vaso de flores!
A sementinha que ele permitira se alojasse em seu interior germinara e, no meio de verdes e brilhantes folhas, lindas flores desabrocharam enchendo-o de perfume e cor.
E o pote sorriu satisfeito da vida e muito orgulhoso da sua nova e útil ocupação.
Também assim acontece conosco na vida, meus amiguinhos. Sempre poderemos ser úteis para alguma coisa. E quando tivermos real desejo de servir e ajudar o nosso próximo, seremos mais felizes porque também seremos auxiliados.
Jesus, que é Nosso Mestre, sempre nos recompensará pelo bem que fizermos aos outros.
Pois não foi ele mesmo que disse: “A cada um segundo suas obras”?
Tia Célia
Jujuba, o leãozinho
Habitando uma grande floresta, Jujuba, o leãozinho, crescia forte e sabido.
Sua mãe, Dona Leoa, cuidava dele com muito carinho: dava-lhe banho, penteava-lhe o pelo, aparava-lhe as unhas e alimentava-o.
Muito amorosa, sua mãe defendia-o contra os perigos da floresta, não permitindo que se afastasse muito da toca.
Mas Jujuba, vivendo sempre sozinho, sentia falta de amigos, desejava ter com quem brincar.
Certo dia Jujuba resolveu sair de casa para encontrar um amigo.
Encantado com tudo o que via, embrenhou-se na mata, afastando-se da toca.
Um pouco adiante viu um coelhinho escondido entre as árvores e perguntou:
– Olá! Quer ser meu amigo?
O coelho ao ver quem lhe dirigia a palavra arregalou os olhos, assustado, e gritou, sumindo no meio do mato:
– Um leão!...
Jujuba não entendeu a atitude do coelho, mas não desanimou.
Andando mais um pouco encontrou um veadinho que pastava tranquilamente. Aproximou-se e disse:
– Olá! Quer ser meu amigo?
Com as pernas bambas de medo, o animal fez meia-volta e desapareceu no meio da floresta, gritando:
– Fujam! Um leão! Um leão!...
Jujuba, triste, ainda não desanimou. Continuou andando e procurando. Mais adiante olhou para cima e viu um macaco enroscado num galho de árvore.
– Quer brincar comigo? – perguntou esperançoso.
Ao vê-lo, o macaco assustou-se e foi embora, pulando de galho em galho. O filhote de leão, muito chateado e infeliz, pôs-se a chorar.
– Buá... Buá... Buá.
Ouvindo o choro, alguns animais que estavam escondidos se aproximaram. O leãozinho chorava de cortar o coração e eles se condoeram das suas lágrimas.
– Por que está chorando? – perguntou um enorme sapo.
Ao ouvir aquela voz, Jujuba parou de chorar e enxugou as lágrimas.
– Você está falando comigo? – estranhou, pois quisera conversar com ele.
– Sim, é com você mesmo! – confirmou o sapo. – O que aconteceu?
– Por que está chorando? – perguntou um enorme sapo.
E Jujuba, mais animado, explicou:
– Saí de casa para procurar um amigo. Alguém que quisesse brincar comigo. Mas ninguém gosta de mim...
E recomeçou a chorar: Buá... buá...
Ouvindo a reclamação do leãozinho, feita em voz macia e terna, o sapo olhou os outros animais, que abaixaram a cabeça.
– Não se envergonham de ter medo de um pequeno filhote? — perguntou-lhes o sapo.
O coelho, ainda tremendo de susto, indagou mais corajoso:
– É só isso que deseja? Não vai atacar-nos depois?
– Não! Por que iria atacá-los? Quero que sejamos amigos e que brinquem comigo. Sinto-me tão sozinho!
Então os animais perceberam que Jujuba era apenas um leãozinho delicado e gentil, incapaz de fazer mal a alguém. E disseram envergonhados:
– Perdoe-nos. Nós o julgamos mal sem conhecê-lo e sem saber quem era você. Queremos ser seus amigos, Jujuba. Pode contar conosco.
Satisfeito, o leãozinho agradeceu a todos e olhou em torno, preocupado.
– E agora? Creio que me afastei demais e acho que não sei voltar para casa!
Mas os bichos o tranquilizaram, afirmando-lhe:
– Não se preocupe. Nós o levaremos para casa.
Feliz, Jujuba retornou ao lar com um enorme acompanhamento de bichos e, desse dia em diante, tornaram-se grandes amigos e sempre brincavam juntos.
E os animais da floresta entenderam que não se deve julgar as criaturas pela aparência, sem conhecê-las. Que somos, na verdade, todos irmãos, filhos de um mesmo Pai, que nos criou, e que poderemos viver todos juntos em paz e harmonia, se tivermos boa vontade.
Tia Célia
Enfermidade providencial
Pedrinho brincava com seus amigos no jardim jogando bolinhas de gude. Eram garotos levados, mas Pedrinho gostava deles. Cansado da brincadeira, um deles disse, fazendo careta:
— Que dia mais chato! Nada temos para fazer.
Chutando umas pedras, Pedrinho concordou:
— Chato mesmo. Que tal se nós brincássemos de pega-pega?
Dedé, balançando a cabeça, respondeu:
— Outra vez? Já fizemos isso hoje!
— Que tal amarrarmos o rabo do gato e atearmos fogo para vê-lo correr? — sugeriu Joãozinho, maldoso, com os olhos brilhando de animação.
— Nada feito! — retrucou Dedé — Esqueceram que já fizemos isso? Meu gato está todo queimado e minha mãe ficou muito brava comigo.
Pedrinho concordou:
— É verdade. Temos que inventar coisas diferentes.
— Mas, o quê? — Dedé perguntou. — Já jogamos bola, corremos atrás do cachorro do Pedrinho, sujamos as roupas do varal da dona Antonia, tomamos sorvete...
— Já sei! — falou Joãozinho com ar inteligente e maroto — Vamos roubar frutas na chácara do velho Simão.
Todos bateram palmas. Afinal, tinham encontrado algo diferente para fazer. Nisso, a mãe de Pedrinho chamou-o para tomar banho e jantar. Como fosse tarde, resolveram deixar a brincadeira para o dia seguinte.
À noite, Pedrinho colocou o pijama e deitou-se. Sua mãe veio dar-lhe boa-noite e juntos fizeram uma prece.
Naquele momento, envolvido pelas bênçãos da prece, Pedrinho sentiu remorso de tudo o que fizera e desejoso de realmente mudar.
O garoto orou a Jesus pedindo-lhe que o transformasse num menino bonzinho e o livrasse das tentações do mal.
Todavia, lembrando que os amigos ficariam esperando por ele, pediu à mãe que o acordasse cedo, e explicou:
— Combinei encontrar-me com o Dedé e o Joãozinho.
A mãezinha, preocupada, aconselhou:
— Olha lá, meu filho, o que vão fazer. Não gosto que ande na companhia desses meninos. São muito arteiros.
— Não se preocupe, mamãe. Não vamos fazer nada errado.
A mãe despediu-se, dando-lhe um beijo no rosto:
— Está bem, meu filho. Boa noite! Que o seu anjo da guarda o proteja e lhe inspire bons pensamentos.
Na manhã seguinte, Pedrinho amanheceu muito indisposto. Passou mal à noite, teve febre, calafrios. A mãe examinou-o e, pelas manchas no corpo, achou que poderia ser catapora, pois tinha ouvido dizer que várias crianças estavam com essa doença.
Pedrinho não conseguiu levantar-se para ir ao encontro dos amiguinhos.
Mais tarde, um vizinho veio vê-lo e perguntou:
— Vocês sabem da novidade? Hoje pela manhã dois garotos entraram no pomar do velho Simão para roubar frutas e foram apanhados pelos cachorros quando tentavam pular o muro.
Preocupada, a mãe de Pedrinho perguntou:
— E os meninos?
— Estão bem, embora um pouco machucados. Levaram um susto terrível! Poderiam até ter morrido!
Pedrinho, assustado, ouvia a conversa. Depois, não se conteve e começou a chorar, falando com voz entrecortada de pranto:
— Ainda bem que fiquei doente!
E confessou tudo para sua mãe, que o ouviu em silêncio.
— Está vendo, meu filho, do que você se livrou? Agradeça a Jesus e ao seu anjo da guarda que o protegeram. Lembra-se da prece que fez ontem ao deitar? A oração nos protege sempre, e é ajuda preciosa nas dificuldades e perigos deste mundo. Procure sempre ser bom para merecer o amparo dos Amigos Espirituais.
— É verdade, mamãe. Procurarei ser um menino diferente de hoje em diante, eu prometo.
E completou com um suspiro aliviado:
— Bendita catapora!
Tia Célia
A lição do escravo
Há muito tempo, quando ainda existia a escravidão no Brasil, um negro velhinho, de cabelos de neve, chamado Bastião, vivia numa fazenda grande e bonita.
O senhor, dono das terras, era mau e prepotente. Por qualquer coisa, chicoteava os escravos; e, se suas ordens não fossem obedecidas ou se o negro tentasse fugir, era colocado no tronco, onde ficava acorrentado sem comer e sem beber por muitos dias.
Por isso, os escravos eram revoltados e não gostavam do patrão. Mas Bastião era diferente. Dono de coração bom e generoso, estava sempre contente da vida e tentando ajudar a todos.
A filhinha do fazendeiro, menina meiga e gentil, se afeiçoara ao velho Bastião e passava o tempo junto do escravo, ouvindo suas histórias.
Certo dia, um dos escravos, não suportando mais os maus-tratos, tentou fugir. Encontrado pelo feitor e aprisionado, foi acorrentado ao tronco.
O filho do escravo fujão, menino de apenas cinco anos, vendo o pai amarrado, aproximou-se em lágrimas, agarrando-se nas pernas dele.
Irritado com os gritos do pequeno, o senhor mandou que o atirassem no meio do mato para não mais ouvir seu choro.
O fazendeiro não percebeu, porém, que sua filhinha Ana, condoída da sorte do negrinho, embrenhara-se também pelo mato para fazer-lhe companhia.
Ao perguntar pela menina, que era a luz dos seus olhos, sentindo sua falta, lhe disseram que ela fora procurar o pequeno escravo.
Assustado, o patrão chamou alguns homens e foi atrás dela. Contudo, o velho Bastião, que percebeu o que estava acontecendo, já se adiantara e tinha ido procurar as crianças.
Quando o fazendeiro e seus homens chegaram, o encontraram com uma cobra venenosa morta nas mãos, e as crianças abraçadas e em segurança, encolhidas atrás de um tronco caído, trêmulas de medo.
Bastião matara a cobra, mas fora picado por ela.
Vendo o que tinha ocorrido, o senhor não sabia como manifestar sua gratidão, pois era evidente que o escravo defendera as crianças com a própria vida.
Abraçando a filhinha, que estava muito assustada, o patrão perguntou, pela primeira vez denotando gentileza no trato com um escravo:
— O que você deseja, Bastião, pela bravura que demonstrou salvando a vida da minha filha? Seja o que for que pedir, lhe será concedido.
E o velho escravo, em cujo organismo o veneno da cobra já fazia efeito, respondeu com os olhos úmidos de pranto, muito emocionado:
— Não salvei apenas sua filha, senhor, mas também a vida de um pequeno escravo, pois toda vida vem de Deus e é igualmente importante. Já que me permite externar um desejo, gostaria de lhe pedir que todas as criaturas fossem tratadas como seres humanos, sem distinção, uma vez que somos todos filhos do nosso Pai Celestial.
E percebendo o olhar de espanto do senhor perante seus conceitos, que não julgara possível encontrar num velho escravo, Bastião concluiu:
— Isso eu aprendi com Jesus Cristo.
Diante daquelas palavras que representavam uma lição para ele, uma vez que o escravo poderia ter-se vingado dele na pessoa de sua filha Ana, e não o fizera, o fazendeiro abaixou a cabeça, envergonhado, e concordou:
— É verdade. Você tem razão, Bastião. Seja assim como deseja. De hoje em diante eu prometo-lhe que os escravos serão bem tratados, com todo o respeito que se deve a seres humanos.
A partir desse dia, o fazendeiro melhorou consideravelmente a vida dos escravos, dando-lhes condições dignas de existência, melhorando suas moradias e fornecendo-lhes alimentação mais saudável.
Com a melhoria nas condições de vida, ele percebeu que o tronco não era mais necessário, pois os escravos passaram a gostar dele e do serviço na fazenda, e tudo o que faziam era de boa vontade e com um sorriso nos lábios.
Alguns anos depois, com o crescimento da idéia abolicionista no Brasil, esse fazendeiro foi dos primeiros a libertar seus escravos, transformando-os em trabalhadores assalariados.
E nunca mais o fazendeiro se esqueceu do velho escravo Bastião que, na sua simplicidade, dera um exemplo de amor tão grande, que modificara sua vida e a de todos quantos residiam naquela propriedade.
Tia Célia
Aprendendo a ser mãe
Vitória era uma menina boa, inteligente e criativa. Todavia era arteira e não aceitava quando a impediam de fazer alguma coisa.
A mãe, preocupada com sua segurança e bem-estar, alertava:
— Vitória, não mexa com fósforos. Você pode se queimar.
E a garota, respondia:
— Não vou me queimar, mamãe. Tenho seis anos e já sou grande!
A mãe achava graça, abraçava a filha com amor, e guardava a caixa de fósforos no alto do armário, onde a pequena não poderia alcançar.
E assim acontecia sempre. Quando Vitória brincava de casinha com as amigas, a mãe tinha que estar sempre atenta para que não se machucassem. Ora era uma faca, que a menina pegava para fazer comidinha, ora era o ferro elétrico que ela ligava para passar roupa; de outras vezes, subia numa grande mangueira que havia no quintal para apanhar mangas e assim por diante. A mãe não podia “descansar” um minuto.
E Vitória reclamava, batendo o pé, indignada:
— Mamãe! Sei o que estou fazendo. Já sou grande!
A mãe a colocava no colo e explicava, com carinho:
— Minha filha, você ainda tem muito que aprender. Quando você nasceu em nosso lar, Deus me fez responsável por sua vida. Minha tarefa é cuidar, educar e proteger você, de modo que nada de mal lhe aconteça. Como as mães de suas amiguinhas permitiram que elas viessem brincar aqui em casa, tenho que cuidar delas também. Entendeu?
— Entendi, mamãe.
— Ótimo. Mamãe não faz por mal e nem quer ser desmancha prazeres. Quando você crescer e tiver filhos vai entender melhor. Agora, vá brincar!
No entanto, tudo continuava como antes.
Certo dia, Vitória foi com sua mãe fazer compras. Na volta, um cãozinho de rua as seguiu. Tinha o pelo curto, branco com manchas marrons. Parecia abandonado.
Vitória ficou encantada. Adorava cachorros. E aquele era tão pequeno e desprotegido!
— Mamãe, podemos levá-lo para casa?
— Não, Vitória. Ele tem dono.
— Foi abandonado, mamãe. Tenho certeza. Vamos levá-lo.
A mãe recusava e a menina insistia. Conversavam paradas em frente a uma padaria. O dono, um simpático português, entrou no meio da conversa:
— Queira desculpar-me, senhora, mas realmente esse cãozinho não tem dono. Vem sempre aqui porque costumo lhe dar um prato de leite.
Vitória, com os olhos brilhando e um sorriso radiante, de mãos postas, suplicou:
— Viu, mamãe, não lhe disse? Por favor! Vamos levá-lo para nossa casa. Ele terá um lar!
Diante de tanta insistência, a mãe acabou concordando.
— Está bem, Vitória. Com uma condição. Que você se responsabilize por cuidar dele: dar ração, água, banho e tudo o mais.
A garota concordou, feliz. Pegando o filhote no colo, acariciou-o e disse:
— Vamos, Bilu. Serei sua mãe e cuidarei de você.
Desse dia em diante, Vitória só pensava no animalzinho. Cuidava dele com muito amor. Quando ela ia para a escola, ele queria acompanhá-la; quando ela voltava, ele a esperava no portão, e a primeira coisa que a menina fazia era abraçá-lo. Mas ela reconhecia que Bilu dava trabalho e estava sempre cuidando dele, vigiando:
— Bilu, não suba no muro! Não coma porcaria do chão! Não vá para a rua, um carro pode pegar você! — E assim por diante.
Quando acabava o dia, ela estava cansada, mas feliz, por tê-lo a seu lado.
Na véspera do Dia das Mães, mãe e filha estavam sentadas no quintal observando Bilu que corria, latindo feliz, atrás de uma borboleta. Vitória olhou para a mãe e disse:
— Mamãe! A senhora me disse que eu só entenderia o trabalho que dou quando crescesse e tivesse um filho. Não precisei crescer para isso. Bilu já me dá muito trabalho e preocupação. É como se ele fosse meu filho!
A mãe sorriu achando graça do jeito sério da filha. Vitória sorriu também e trocaram um grande e carinhoso abraço, enquanto a menina exclamava:
— FELIZ DIA DAS MÃES, mamãe! Ainda não comprei seu presente.
A mãe suspirou, satisfeita, entendendo que Deus sabe o que faz e que dá a cada um, na vida, as experiências que precisa para aprender e amadurecer. Sua filhinha estava crescendo e tornando-se melhor.
— Não precisa comprar nada, minha filha. Você já me deu o melhor presente que eu poderia desejar: Você!
Tia Célia
O susto
Rafael era um menino muito arteiro. Desses que não param um minuto.
Desde pequeno dava muito trabalho aos pais, que viviam tendo de protegê-lo a todo instante.
Assim mesmo, com todos os cuidados, Rafael completara oito anos e já tinha quebrado a perna duas vezes, trincado o osso do braço, cortara duas vezes a cabeça levando vários pontos. Isso sem contar as quedas, os arranhões, os galos e os sustos.
Ufa! Cuidar de Rafael não era tarefa fácil!
Sempre tinha alguém gritando:
— Cuidado, Rafael!
A mãezinha recomendava-lhe com carinho:
— Meu filho, não corra tanto!
— Olhe o buraco!
— Não atravesse a rua! Olhe o sinal fechado!
Mas, qual! Rafael, sempre apressado, não dava atenção.
Um dia, voltando da escola, Rafael viu um amigo do outro lado da rua e não deu outra. Correu para encontrá-lo. A mãe, que caminhava a seu lado, não conseguiu detê-lo. Só conseguiu gritar:
— Não, Rafael!... Olhe o carro!
Porém, não deu tempo. O veículo não conseguiu frear a tempo. O motorista, assustado ao ver que o garoto atravessava a rua correndo, ainda desviou o carro, jogando Rafael ao chão.
Foi aquela correria. Alguém chamou a ambulância, que levou o menino para o hospital.
Rafael permanecia desacordado. Batera a cabeça no asfalto e esta inconsciente.
Felizmente, não aconteceu nada de grave.
Enquanto isso, Rafael percebeu que estava num lugar diferente. Olhou em torno e achou tudo bonito.
Nesse momento aproximou-se um rapaz todo reluzente. Sério, olhou para Rafael e disse:
— Por pouco você não conseguiu retornar mais cedo.
— Eu? Retornar para onde?
— Para o mundo espiritual! Não é isso o que tem tentado sempre? — perguntou o moço.
O menino respondeu, apavorado:
— Não!... Não quero deixar minha família, a escola, meus amigos, meu corpo!
Sereno, o rapaz considerou:
— Então, tenha mais cuidado, Rafael. Cuide bem do seu corpo, proteja-o de perigos. Ele é um grande amigo que você tem e também seu maior tesouro nesta vida. Evite retornar mais cedo porque a responsabilidade será sua.
Nesse momento, Rafael acordou no hospital.
Logo viu as fisionomias preocupadas do pai e da mãe. Felizes por vê-lo acordado, eles choravam.
— Não chorem! — disse ele. — Prometo-lhes que, daqui por diante, terei mais cuidado.
E contou aos pais a conversa que tivera com o moço luminoso, e eles entenderam o que tinha acontecido com Rafael enquanto estava desacordado.
Era a resposta do Senhor às suas preces. Juntos, elevaram os pensamentos em oração, agradecendo a Deus.
A partir desse dia, Rafael transformou-se num outro menino.
Continuava a ser criança, brincava, jogava bola e se divertia como qualquer outro garoto da sua idade, porém agora tinha mais cuidado e respeito pelo seu corpo e pela sua vida.
Tia Célia
A força do sol
Carlinhos, menino bom e prestativo, gostava de ajudar as pessoas.
Uma coisa, porém, Carlinhos não suportava: ver gente discutindo ou brigando.
Logo ficava nervoso e entrava no meio da discussão, querendo apartar a briga. Isso acontecia em qualquer lugar em que estivesse: em sua casa, na escola ou na rua.
Em casa, quando seus pais começavam a discutir por problemas domésticos, Carlinhos colocava-se no meio deles, querendo resolver a parada.
Na escola, muitas vezes seus colegas se desentendiam jogando futebol ou por qualquer outro motivo, e partiam para a briga aos empurrões, socos e pontapés. Carlinhos corria tentando separá-los e acabava no meio da briga.
Chegava em casa desanimado, cansado, todo sujo e, não raro, machucado.
A mãe, que o conhecia bem, já sabia o que tinha acontecido, e aconselhava-o com amor:
— Meu filho, não faça mais isso. Qualquer dia você pode se machucar seriamente tentando apartar uma briga. Tenha mais cuidado! Chame um adulto, o professor responsável pela turma.
Mas qual! Carlinhos prometia não interferir mais em discussões, porém quando uma briga começava, lá estava ele de novo no meio.
Certo dia, em que ele tinha chegado com um olho vermelho e a testa sangrando, a mãe aflita perguntou-lhe:
— O que aconteceu desta vez, meu filho? Veja seu estado! Você está todo sujo, o uniforme rasgado, e está machucado! Andou brigando de novo?
— Claro que não, mamãe! Ao contrário. Tentava separar dois amigos meus que se desentenderam jogando bola.
A mãe o envolveu num abraço e disse, com amor:
— Depois conversaremos. Agora vá tomar um banho.
Quando o menino saiu do banho, já com aspecto melhor, ela fez um curativo na testa dele e chamou-o para almoçar.
O pai, que chegara naquele momento, olhou para o filho, sério, respirou fundo e ia ralhar com ele, mas resolveu manter-se calado.
Os dois irmãos menores olhavam para Carlinhos e riam. Todos sabiam o que tinha acontecido. Não era a primeira vez que ele chegava machucado em casa.
— Parem de rir, vocês dois. Isso não é brincadeira. Carlinhos, meu filho, almoce e depois farei uma compressa em seu olho para evitar que fique roxo.
Após a refeição, enquanto colocava a compressa sobre o olho de Carlinhos, a mãe conversava com ele dizendo:
— Mantenha distância quando perceber que uma briga está prestes a começar, meu filho.
— Mas, mamãe! Quero evitar que meus amigos briguem! Não suporto vê-los de cara virada um com o outro, com raiva.
— Eu sei que sua intenção é boa, Carlinhos. Para fazer isso, porém, é preciso manter certa distância da briga e, especialmente, agir com tranquilidade, delicadeza, equilíbrio e muito amor.
— Como assim, mamãe? O que é equilíbrio?
— É quando nos mantemos controlados e imparciais no meio de uma situação, isto é, sem pender para um lado ou para o outro, guardando os melhores sentimentos. Entendeu?
— Mais ou menos.
A mãe procurou em torno algo que pudesse servir-lhe de exemplo. De repente, olhou pela janela e viu o sol brilhando lá fora.
Levou o garoto até o jardim e perguntou:
— Carlinhos, sem contar Deus, que é nosso Pai e Criador do Universo, o que existe de maior e mais poderoso neste mundo em que vivemos?
O menino pensou um pouco e depois respondeu, olhando para o alto:
— O Sol, mamãe. Estudei na escola que o Sol é uma estrela muitas vezes maior que o nosso planeta Terra. Ele nos dá luz, calor e condições de viver. A professora explicou que o Criador fez tudo tão bem feito que, se o Sol estivesse um pouco mais distante da Terra, morreríamos congelados por falta de calor; se estivesse um pouco mais próximo, morreríamos queimados!
— Isso mesmo, Carlinhos. E não só nós, seres humanos, mas todos os seres viventes, animais e plantas. Então o Sol é poderoso e está bem distante da Terra, não é? No entanto, indispensável à vida, seus raios chegam até nós com delicadeza, sem nos machucar ou ferir; penetram os lugares mais escondidos e profundos, com suavidade, levando luz e calor.
O garoto pensou um pouco e disse:
— Entendi aonde quer chegar, mamãe. Quer dizer que para ajudar não precisamos entrar na briga, não é?
— Exatamente, meu filho. Veja! Você tem apenas oito anos, mas é bem maior que os garotos da sua idade. Então, o que acontece? Se os meninos forem menores, você pode machucá-los com sua força. Se forem maiores, você acaba machucado.
— É verdade, mamãe. Então, o que posso fazer?
— Na hora do perigo, pense em Deus pedindo que a paz e o entendimento se estabeleçam. Depois, se puder ajudar, faça-o, mas sem entrar na briga.
A partir desse dia, ao ver os garotos discutindo, Carlinhos fazia uma rápida oração e depois dizia sereno:
— Calma, pessoal. Vamos tentar resolver esse problema em paz, está bem? O que está acontecendo? Posso ajudar?
Ouvindo-lhe a voz tranquila, os amigos paravam de discutir, acalmavam-se os ânimos, e logo estavam brincando de novo, felizes por estarem juntos e em paz.
Não há o que não se possa resolver, quando existem boa vontade e paz no coração.
Tia Célia
O cavalinho de pau
Como toda criança, Antônio tinha seus sonhos. Desejava muito ter um cavalinho de pau para brincar de viajar, de mocinho e bandido, de fazendeiro.
Sua família, contudo, era muito pobre e seu pai não tinha recursos para comprar-lhe o brinquedo tão almejado. E Toninho, sabendo disso e sendo um menino muito compreensivo, não pedia nada. Sonhava apenas.
À noite, antes de dormir, sempre dava rédeas à imaginação e fazia de conta que estava cavalgando um lindo cavalo de madeira.
No dia do seu aniversário, quando fez oito anos, o pai lhe trouxe de presente uma pequena bola de borracha. Não era o cavalinho de pau com que ele sonhava tanto, mas era uma linda bola colorida e ele ficou feliz, porque sabia quanto representava para o pai aquele sacrifício.
Certo dia, brincando com a bola nova na rua, Toninho viu um garotinho que olhava fixamente para a bola colorida.
Cheio de compaixão, pois tinha um coração muito bom, Toninho aproximou-se do menino de bola na mão. Os olhos do pequeno estavam brilhantes quando ele disse:
— Que linda bola! Sempre sonhei ter uma igual a essa.
Levado por um impulso generoso, Toninho estendeu-lhe as mãos, dizendo:
— É sua. Pode levar.
O menino estava surpreso.
— Você está me dando a sua linda bola?! — indagou, ainda não acreditando em tamanha felicidade.
Como Toninho confirmasse, ele agradeceu e, agarrando a bola com as duas mãos, virou-se e saiu correndo e gritando de alegria.
Toninho sorriu também, contente. Por que não satisfazer o desejo do garoto? Afinal, ele bem que sabia o que era desejar uma coisa e não poder ter.
Quando o pai chegou do trabalho de tardezinha, ele contou o que fizera.
— Fez muito bem, meu filho, não devemos ser egoístas. Mas, não sentirá falta da sua bola?
— Não, meu pai, brincarei com outras coisas. E depois, Jesus não ensinou que deveríamos fazer aos outros aquilo que gostaríamos que os outros nos fizessem? Assim, se eu estivesse no lugar daquele menino eu gostaria de ganhar a bola, por isso resolvi dá-la a ele. Então, estou feliz!
O pai fitou o filho com admiração e falou, emocionado:
— Jesus deve estar muito contente com você, meu filho, e o recompensará por isso, pode ter certeza.
Dois dias depois, voltando para casa após as aulas, Toninho entrou no seu quarto para guardar o material e trocar de roupa, quando teve uma grande surpresa.
Bem no meio do aposento, entre outros brinquedos, estava o mais lindo cavalo de madeira que Toninho jamais vira!
Cheio de espanto, aproximou-se dele acariciando-o ternamente, temendo vê-lo desaparecer.
O pai entrava no quarto neste momento e ele virou-se, indagando com o olhar ansioso o que significava “aquilo”.
— Minha patroa mandou-lhe estes brinquedos. Eram do filho dela, mas ele está muito crescido e não brinca mais. Então, resolveu dá-los a você. Gosta?
— Se gosto? É a coisa mais linda que já vi na minha vida, papai! — disse Toninho, abraçando o cavalinho pelo pescoço e beijando a crina de barbante.
Depois se levantou e, limpando as lágrimas com as costas das mãos, afirmou:
— Acho que Jesus deve ter realmente ficado contente comigo, papai, para mandar-me este presente!
Tia Célia
Na estrada de Emaús
Cleofas e um companheiro caminhavam por uma estrada que conduzia a uma aldeia chamada Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém. Faziam o trajeto a pé, como era costume naquela época entre as pessoas sem recursos.
Enquanto caminhavam, eles iam conversando. Sentiam-se amargurados. Jesus tinha sido crucificado e eles comentavam sobre os trágicos acontecimentos que tinham ocorrido e lamentavam a morte do Mestre que nunca mais poderia estar com eles.
Assim falavam, quando se aproximou um homem e começou a caminhar ao lado deles, mas eles estavam tão angustiados que não se preocuparam em olhar direito para ele e por isso não perceberam que era Jesus.
Então, o homem lhes disse:
— Sobre o que vocês estão conversando? E por que estão tristes?
Cleofas, tomando a palavra e até um pouco irritado pela intromissão do desconhecido, disse-lhe, surpreso:
- Pois quê! O senhor é tão estrangeiro em Jerusalém que não sabe o que se tem passado ali nestes últimos dias?
— O quê? — indaga o estranho.
E os dois seguidores do Mestre responderam:
— Sobre Jesus Nazareno, que foi profeta poderoso diante de Deus e de todo o povo, e de que modo os sacerdotes e nossos senadores o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Ora, esperávamos que fosse ele o Messias e que resgatasse Israel. Entretanto, depois de tudo isto, este é o terceiro dia que estas coisas sucederam. Por outro lado, algumas mulheres, seguidoras do Mestre, foram até seu túmulo e não o encontraram, declarando que tinham visto anjos que afirmaram estar ele vivo.
Então, o homem lhes disse:
— Ó insensatos e lentos de coração, para crer em tudo o que os profetas disseram! Não era preciso que o Cristo sofresse todas as coisas e que entrasse assim na sua glória?
E, começando por Moisés e depois por todos os profetas, ele lhes explicava o que tinham dito dele as Escrituras.
Quando estavam perto da aldeia para onde iam, ele deu mostras de que ia mais longe.
Os dois amigos, porém, o convenceram a parar, dizendo:
— Fique conosco. Já é tarde e o dia está terminando. É perigoso andar por estas estradas à noite.
O desconhecido, achando que tinham razão, decidiu-se a ficar com eles.
Sentaram-se para cear. Estando com Cleofas e seu companheiro à mesa, ele tomou o pão, abençoou e, tendo-o partido, lhes deu.
Nesse momento, sentados diante dele, à luz de uma tocha, puderam vê-lo melhor. Seus olhos se abriram e eles o reconheceram.
— É Jesus! — disseram a um só tempo.
Seus corações batiam descompassados, e uma grande alegria inundava-lhes o íntimo. Mal podiam acreditar em tamanha felicidade!
Todavia, foi um momento só. Logo em seguida, o Mestre desapareceu diante deles.
— Como não o reconhecemos? — disse um ao outro.
— Contudo, a verdade é que sentimos o coração se nos aquecer enquanto ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras.
Estavam eufóricos. Levantaram-se no mesmo instante e voltaram para Jerusalém.
Precisavam contar a todos o que lhes tinha acontecido em caminho e como eles reconheceram Jesus no partir do pão.
Um grande bem-estar os dominava. Sentiam-se agora confiantes e seguros como jamais estiveram. O Mestre estava vivo! Ele não morrera na cruz. Retornara para lhes dar a derradeira lição da imortalidade da alma, confirmar tudo o que lhes tinha ensinado, mostrando aos seus discípulos que a morte não existe.
(Adaptação do cap. 24:13 a 35 do Evangelho de Lucas.)
Tia Célia
A pipa de coração
Gabriel era apaixonado por pipas.
Desde pequeno seu pai lhe ensinara a fazer pipas e a soltá-las.
Era com imensa alegria que ele levava a pipa para o campo e corria, soltando a linha, até vê-la subir no ar, cada vez mais alto.
Margarida, uma amiga de Gabriel, sempre pedia:
— Gabriel, você me deixa soltar a sua pipa? Só desta vez!
Mas ele respondia:
— Não. Isso não é coisa de menina. Além disso, você não sabe, e vai estragar minha pipa.
E a menina, inconformada, reclamava:
— Mas eu deixo você andar na minha bicicleta! E ler meus livros!
Certo dia, Gabriel tinha feito uma linda pipa nova e a garota tornou a pedir para que ele a deixasse soltá-la.
— Não adianta, Margarida. Você não vai colocar a mão na minha pipa nova.
A menina afastou-se dele e foi embora, muito brava e revoltada.
Após as aulas, passando perto da casa de Gabriel, Margarida viu que ele estava se divertindo num balanço, junto de outra amiga. Viu também que ele havia deixado a pipa nova encostada em uma árvore.
Ela se aproximou e, sem que ele percebesse, pegou a pipa e saiu correndo.
Chegando em casa, foi logo empinar a pipa. Com satisfação, viu que ela subiu e soltou mais linha. De repente, tentou puxar e não conseguiu: a pipa estava presa num galho. Com medo de que Gabriel, procurando a pipa e não a encontrando, viesse atrás dela, puxou com força e a pipa rasgou, caindo no chão, toda estragada.
Margarida, assustada, recolheu os restos e correu a escondê-los em seu quarto.
Não demorou muito, apareceu Gabriel.
— Roubaram minha pipa, Margarida. Você viu quem foi?
— Não, não vi.
Ela entrou em sua casa e deixou-o na rua, sozinho.
A mãe notou que Margarida estava estranha. Na hora de dormir perguntou a ela:
— Você não está bem, minha filha, parece triste. Quer contar o que aconteceu?
A menina começou a chorar e contou para a mãe o que tinha acontecido.
— Não tive intenção de estragar a pipa dele, mamãe. Só quis ter o gostinho de brincar um pouco com ela! Agora não sei o que fazer!
A mãe abraçou-a, carinhosa:
— Eu sei, minha filha. Porém você cometeu um gesto feio: pegou o brinquedo dele sem pedir. E depois, acabou estragando-o.
— O que devo fazer, mamãe?
— Faça uma prece e peça que Jesus a ajude. Lembre-se de tudo o que já aprendeu. Consulte sua cabecinha, pense bem. Amanhã tenho certeza que você acordará com a solução. Agora, boa noite. Durma bem, minha filha.
Margarida pensou... pensou... pensou...
Lembrou-se de que pegar a pipa do amigo sem permissão dele, mesmo tendo a intenção de devolver, foi um desrespeito e que, numa situação semelhante, não gostaria que fizessem o mesmo com ela.
No dia seguinte, tinha decidido o que fazer.
Após as aulas, comprou papel, muniu-se do necessário e fez uma pipa. Muitas vezes tinha visto Gabriel trabalhar e sabia como fazê-lo.
Mais tarde, enchendo-se de coragem, procurou o amigo e contou-lhe o que tinha acontecido, terminando por dizer:
— Peço-lhe desculpas, Gabriel. Não tive intenção de estragar sua pipa. Mas, para compensá-lo, aqui está outra que fiz especialmente para você.
— Aqui está, Gabriel. Espero que goste! — pegou a pipa e entregou ao garoto.
O menino ficou comovido ao ver sua pipa nova. Tinha o formato de um coração.
Depois, ele abraçou Margarida com carinho:
— Margarida, eu reconheço que sempre fui muito chato com você. Por isso, também tenho que lhe pedir desculpas. De hoje em diante, tudo vai ser diferente.
— Amigos?
— Amigos!
Dali a pouco, Gabriel já estava testando sua pipa nova, todo feliz da vida, enquanto Margarida o observava, satisfeita por ter resolvido o problema.
Gabriel virou-se para Margarida e sugeriu com um sorriso:
— Bom trabalho. Ela ficou ótima! Quer experimentar?
Tia Célia
O Coelhinho Barnabé
O Coelhinho Barnabé morava num lindo sítio cercado de árvores, de flores, e nada lhe faltava. Tinha tenras cenouras e frescas folhas de alface que lhe davam para comer todos os dias, apanhadas da horta, e tinha água fresca à vontade.
No sítio moravam muitos outros animais: vacas, bois, cabras, galinhas, galos, patos, cavalos, jumentos e um cachorro que era muito seu amigo, de nome Tico.
Barnabé e seus pais ocupavam uma confortável casinha de madeira, construída especialmente para eles, dentro do terreiro. Porém o Coelhinho Barnabé queria muito mais.
Certo dia chegou uma ratazana contando maravilhas da cidade de onde viera.
Dona Ratazana falava do grande movimento de carros nas ruas, da comida que era encontrada em qualquer lugar e ninguém passava fome. Falou das pessoas que passavam e atiravam restos de comida e guloseimas no chão, e que ela se banqueteava todos os dias.
Os olhos de Barnabé ficaram brilhantes de animação e seu focinho tremeu todo de desejo de conhecer a tal cidade.
Começou a achar muito sem graça a vida no campo, sem movimento, sem pessoas. E a partir desse dia, passou a sonhar em ir para a cidade.
Como fazer isso? Seus pais não permitiriam, com certeza. Sempre lhe diziam que o melhor lugar para se ficar é a casa onde mora a família, isto é, o Lar.
Pensou... pensou... pensou... e resolveu. Sairia durante a noite, quando seus pais estivessem dormindo.
Assim resolveu, assim fez.
No dia seguinte economizou algumas cenouras, umas folhas de alface, e, colocando tudo numa mochila, preparou-se para fugir.
Quando a noite chegou, fingiu que estava dormindo, e esperou que tudo se aquietasse. Depois, pegou a pequena mochila e saiu aos pulos, desaparecendo na escuridão.
Fez um longo trajeto, seguindo o rumo que dona Ratazana havia indicado. Mas nada de chegar à cidade. Barnabé já estava cansado, sem forças para prosseguir e faminto.
Resolveu parar para descansar e alimentar-se. Estava tão cansado que dormiu debaixo de um arbusto. De repente, acordou assustado. Tinha ouvido uns ruídos estranhos e ficou com medo. Tremia da cabeça aos pés.
Eu quero minha mãe! — gritou, chorando.
Com saudade de casa, soluçou até pegar no sono de novo. Acordou com dia claro e, como o medo tivesse desaparecido como a escuridão, resolveu prosseguir viagem.
Não demorou muito, começou a ver ao longe umas construções enormes, altas; deveriam ser os prédios da cidade. Ficou feliz. Conseguira chegar, afinal!
Acelerou os pulos e logo estava andando nas ruas da cidade. Ficou surpreso. Era tudo muito bonito, as casas eram tão altas que pareciam alcançar o céu; as ruas tinham bastante movimento de carros e de pessoas.
Barnabé, que estava um pouco assustado com o barulho, e andava se escondendo, ficou mais corajoso e confiante, saindo para observar.
Percebeu que as pessoas, ao vê-lo, ficavam surpresas; umas gritavam, outras riam, e outras tentaram apanhá-lo. Apavorado, escondeu-se. Com medo, não podia sair do seu esconderijo e conseguir mais comida, pois a que levara já tinha acabado, e ele estava faminto.
E Barnabé, triste no seu canto, passou a ver outras coisas que não tinha percebido antes. Viu passar crianças maltrapilhas esmolando pão, velhinhos dormindo nas calçadas, cachorros sendo espancados pelas pessoas, homens doentes se arrastando na sarjeta, pobres mães carregando seus filhinhos e suplicando algumas moedas para comprar leite. Barnabé viu isso e muito mais. E ficou cada vez mais triste. Não, esse não era um lugar bom para se morar. Sentia saudade do sítio, de sua casa, de seus pais, de seus amigos. Lá, nunca tinha passado fome. Todos eram bem tratados.
E decidido, resolveu: — Vou voltar.
Aproveitando-se da escuridão da noite, partiu de retorno a sua casa.
Quando se aproximou, os animais o viram e vieram correndo ao seu encontro.
Seus pais, de braços abertos, o acolheram com amor.
— Por que, meu filho, você fugiu de casa nem dizer nada, sem avisar?
— Perdoe-me, papai. Cometi um erro, mas espero que o senhor me perdoe.
E contou que ficou iludido com as narrativas de dona Ratazana, e quis conhecer a cidade.
O pai, botando as mãos na cintura, perguntou:
— E se lá na cidade era tão bom assim, meu filho, dona Ratazana teria vindo morar no sítio?
Dona Ratazana, que ouvia a conversa, baixou a cabeça, envergonhada.
Barnabé concordou:
— Agora sei disso, meu pai. Por isso, voltei. O melhor lugar para morar é o nosso Lar.
Aquele dia, os animais fizeram uma grande festa no terreiro para comemorar a volta do coelhinho Barnabé.
Tia Célia
Sacrifício de mãe
O pai havia desencarnado fazia já algum tempo, partindo para a Pátria Espiritual, e Maneco ficou sozinho com sua mãe.
A vida, que até aquela data fora tranquila, sem que nada lhes faltasse, tornou-se difícil. Os recursos que o pai deixara minguavam dia a dia e, em poucos meses, acabaram por completo.
Maneco, porém, sem perceber a situação, continuava na mesma vida: estudava, brincava e divertia-se.
Acostumado a ter o que desejava, sem se privar de nada, começou a reclamar de tudo: da comida, das roupas gastas, dos sapatos usados, mostrando-se exigente e insatisfeito.
A mãezinha amorosa, cujos recursos restringiam-se à pensão que o marido deixara ao desencarnar, não sabia o que fazer para agradar o filho.
Não tendo dinheiro, a pobre mulher recorria à bondade dos vizinhos e amigos, emprestando o suficiente para comprar algo melhor para o filho: uma fruta, um pedaço de carne, algumas batatas, algum doce.
Quando o rapazinho se sentava à mesa e comia com apetite, a mãe sentia-se compensada de seus esforços, e fitava-o embevecida, satisfeita. Maneco perguntava:
— Não vai almoçar, mamãe?
Invariavelmente ela respondia, dando uma desculpa:
— Não estou com fome, meu filho.
Ou, então, alegava que já havia almoçado, ou que almoçaria depois.
Certo dia, ao chegar à sua casa, Maneco encontrou a mãezinha na cama, desfalecida.
O médico, chamado às pressas, após examiná-la, informou:
— O estado de sua mãe é de fraqueza extrema. Provavelmente não come há vários dias. Precisa alimentar-se melhor para poder recuperar as forças.
Maneco, surpreso, não sabia o que dizer. Aproximando-se do leito, perguntou à mãe:
— Por que não tem se alimentado, mamãe?
A generosa senhora, um pouco envergonhada, nada disse; apenas uma lágrima desceu pelo seu rosto pálido.
Maneco, perplexo, compreendeu enfim. Aos poucos foi ligando os fatos, lembrando-se de tudo o que vinha acontecendo, e entendeu que a mãezinha sacrificava-se por ele. Dava o melhor de si para o filho, nada reservando para ela mesma. E ele, insensível e prepotente, nunca percebera o sacrifício da mãe.
Maneco caiu ajoelhado, em lágrimas, ao lado do leito pobre, enquanto lhe dizia com voz entrecortada de emoção:
— Perdoe, mãezinha, não ter percebido a nossa real situação e a grandeza da sua generosidade. Mas, nunca senti falta de nada! Como é que a senhora conseguia comprar tudo que me oferecia?
Uma vizinha, que chegara há pouco e ouvia a conversa, respondeu comovida:
— Sua mãe emprestava o dinheiro de um e de outro para que nada lhe faltasse, Maneco.
— Meu Deus! Como pude ser tão cego? Mamãe, eu arranjarei um emprego, pois já tenho idade para trabalhar. Não ganharei muito, por certo, mas o pouco que receber será o suficiente para amenizar nosso infortúnio. Deus nos ajudará, mamãe, e seremos muito felizes ainda.
A mãe, com sorriso terno, afirmou contente:
— Deus já nos ajudou, meu filho, e considero-me muito feliz por Ele ter-me dado um filho como você!
Tia Célia
O circo chegou
Geraldinho andava sem destino pelas ruas, chutando pedras.
Ao virar uma esquina, deparou com um grande cartaz colorido onde se via um leão e um domador.
— Oba! O circo chegou!
Geraldinho sempre tivera grande atração por circos, mas dificilmente aparecia algum em sua pequena cidade.
Imediatamente o menino revirou os bolsos da bermuda a ver se encontrava alguma moeda. Nada. Só algumas figurinhas, um pedregulho bem polido e um estilingue.
— Como vou fazer para ir ao circo?
Pensou um pouco e descobriu:
— Já sei. Vou pedir dinheiro para a mamãe.
Voltando para casa, Geraldinho falou com a mãe, que respondeu:
— Dou sim, meu filho. Antes, porém, preciso que você me ajude varrendo o quintal.
— Varrer o quintal? Trabalhar? Nem pensar!
Geraldinho foi até a mercearia da esquina, onde o seu José era muito seu amigo.
— Seu José, poderia emprestar-me uma moeda? Quero ver o espetáculo do circo e não tenho dinheiro.
— Como não, Geraldinho? Darei a moeda se você me fizer um favor. O empregado não veio hoje e tenho algumas entregas para fazer. Poderia fazê-las para mim?
O menino, muito desapontado, foi saindo de fininho:
— Infelizmente não posso, seu José. Tenho que estudar.
Voltando para casa, Geraldinho passou defronte da residência de dona Luzia, uma vizinha muito boa e simpática. Como ela estivesse ali fora varrendo a calçada, o menino atreveu-se a pedir-lhe uma moeda emprestada.
— Claro, Geraldinho! Dar-lhe-ei a moeda, mas estou tão atarefada hoje! Minha ajudante está doente e preciso de quem me ajude a arrancar o mato do jardim. Se você me fizer essa gentileza, prometo dar-lhe não uma, mas duas moedas.
Decepcionado, o garoto respondeu:
— Infelizmente, dona Luzia, agora não dá. Minha mãe está me esperando. Até logo! — e foi embora.
Geraldinho era assim mesmo. Não gostava de fazer nada e as pessoas conhecidas sabiam disso.
Aflito, o menino via o tempo passar sem conseguir recursos para ir ao circo.
À noite, aproximou-se do local onde o circo estava montado. A lona, toda esticada, parecia um balão; o nome, em letras grandes e luminosas, piscava, convidando-o a entrar. Mas, como?
Geraldinho pensou que, se tivesse feito algum serviço, qualquer serviço, teria a alegria de assistir ao espetáculo, mas agora era tarde. Essa seria a última apresentação, e, no dia seguinte, a lona estaria desarmada e os caminhões rodando pela estrada afora.
Sentou-se no meio-fio a observar o movimento de pessoas e carros que iam e vinham.
Nisso, uma senhora idosa escorregou e caiu no chão. A sacola que carregava abriu e o conteúdo se espalhou pela calçada.
Penalizado, o garoto levantou-se imediatamente e a socorreu.
— A senhora está bem, vovó? — perguntou atencioso.
— Estou bem, meu filho, não foi nada. Graças a Deus, não me machuquei. Ficarei dolorida por alguns dias, mas é só.
O menino ajudou-a a erguer-se e, depois, recolheu as coisas dela que tinham caído no chão, colocando tudo de volta na sacola.
Refeita do susto, a senhora pediu a Geraldinho que a ajudasse a atravessar a rua.
Percebendo que a sacola estava muito pesada, ele se prontificou:
— Farei mais, vovó. Vou acompanhá-la até sua casa e carregarei a bolsa para a senhora, pois está muito pesada.
— Quanta gentileza! Mas não quero atrapalhar, meu filho. Com certeza você tem alguma coisa para fazer...
Pensando no circo, o menino suspirou, afirmando:
— Não... nada tenho para fazer.
Geraldinho levou a senhora até o portão da residência e despediu-se. A velhinha abriu a bolsa e, pegando uma linda moeda, entregou-a ao garoto:
— Agradecida, meu filho. Olhe, isto é para você. Compre o que quiser. E venha visitar-me qualquer dia desses!
Surpreso, Geraldinho fitou a moeda depositada na palma da sua mão. Era exatamente o que precisava para comprar o ingresso do circo.
Quando menos esperava, recebeu o que tanto queria. Geraldinho compreendeu que, como ajudara a velhinha, também fora ajudado. Compreendeu também que, se desejamos alguma coisa, temos que nos esforçar para obtê-la. Que, na medida em que damos, recebemos em troca.
Assim, Geraldinho comprou o ingresso e, naquela noite, divertiu-se a valer assistindo ao espetáculo do circo.
Tia Célia
A semente
Olavo, menino de sete anos, irrequieto e sem paciência, não conseguia realizar suas pequenas tarefas, reclamando de tudo.
Sentava-se para fazer os deveres da escola, mas em poucos minutos largava o lápis, irritado, alegando:
— Esta tarefa é muito difícil! Não sei fazer.
Convidado pelos colegas para assistir a um filme, logo se mostrava impaciente, reclamando:
— Este filme é muito comprido! Não aguento mais!
Ao ser chamado para jogar bola, em pouco tempo estava cansado da brincadeira:
— Este jogo não acaba nunca! Vamos brincar de outra coisa?
A mãe, preocupada com o comportamento do filho, ouvia suas reclamações, aconselhava-o a ter paciência e a se esforçar mais, sem conseguir resultado algum.
Certo dia ela resolveu levá-lo para passear.
Era primavera. Caminhando por uma praça, Olavo ficou encantado com uma árvore florida e exclamou:
— Veja, mamãe, que árvore grande e bela! Suas flores são lindas e perfumadas!
Mais adiante, Olavo parou diante de uma estátua recentemente inaugurada. A escultura homenageava um pioneiro da cidade, reproduzindo sua figura em tamanho natural. Olavo, admirado diante da estátua, comentou:
— Veja, mamãe, que estátua bonita. Parece ter vida!
Logo em seguida, passaram por uma grande pedra que compunha a ornamentação do jardim, e o menino considerou:
— Já esta pedra não serve para nada!
A mãezinha, aproveitando a ocasião, explicou:
— Engana-se, meu filho. De uma pedra bruta como esta é que o artista fez aquela escultura que você admirava há pouco.
— Como será que o artista consegue fazer um trabalho tão bonito?
A mãe sorriu e respondeu:
— Certamente gasta muito esforço e tempo.
E apanhando uma vagem no chão, abriu-a, retirou uma das sementes e colocou-a na palma da mão do menino, considerando:
— Tudo na vida depende de esforço, meu filho. De uma pequena semente como esta é que nasceu a árvore enorme e bela que você está vendo. Representa o esforço conjugado da natureza e do homem, pois alguém cuidou dela para que se desenvolvesse.
O garoto teve uma ideia e disse, animado:
— Vou levar esta semente e plantá-la em nossa casa. Quero vê-la crescer logo!
— Boa ideia, meu filho. Porém, não tenha pressa. Serão precisos muitos anos para que esta pequena semente se transforme em uma árvore. Mas você terá a oportunidade de vê-la nascer, crescer e se desenvolver.
Olavo ficou decepcionado.
— Gostaria que crescesse logo!
— Nada acontece de um dia para o outro, meu filho. Tudo que formos fazer demanda esforço, tempo e boa vontade. Você já viu um prédio surgir de repente, uma ponte ser construída do dia para a noite?
— Não. Nem a tarefa da escola se revolve sozinha.
— Isso mesmo. A natureza precisa de tempo para realizar seu trabalho, e nós também. Então, vá em frente. Plante sua semente e verá como é lindo vê-la crescer.
Delicadamente, Olavo levou a semente em sua mão. Chegando em casa, sob a orientação da mãe, ele abriu um buraco, depositou a semente, cobriu-a com terra e regou.
Todos os dias, logo ao acordar, Olavo ia ver o local onde tinha plantado sua semente. Um dia, deu pulos de alegria: um brotinho estava apontando.
Depois, com satisfação Olavo acompanhou o desenvolvimento da plantinha, que todo dia crescia um pouco, até que passou em muito a altura de Olavo.
Aquele menino irrequieto e impaciente aprendeu com aquela semente que tudo tem um tempo certo na vida e que não adianta atropelar as coisas.
Olavo tornou-se bom aluno na escola e alguns anos depois, já moço, foi estudar em outra cidade.
Ao voltar, encantou-se com o que viu. Sua sementinha transformara-se numa linda e frondosa árvore, cheia de perfumadas flores.
Olhando o tronco possante, os galhos frondosos que permitiam sombra e frescor, as lindas flores que enfeitavam a frente de sua casa, Olavo disse à sua árvore, emocionado:
— Nós dois crescemos e já estamos produzindo. Eu, porque consegui terminar a faculdade, e você, porque nos alegra com suas flores e sua sombra. Aprendi muito com você, querida amiga. Obrigado!
Aproximou-se e, abraçando o belo tronco, encheu-o de beijos.
Tia Célia
A menina malcriada
Aninha era uma menina muito malcriada.
Por qualquer motivo se irritava, jogava-se no chão aos gritos, batendo os pés.
Rasgava todos os livros e revistas que possuía, quebrava os brinquedos caros que ganhava de presente dos pais e brigava sempre com os poucos amiguinhos que ainda tinha.
Resultado: em pouco tempo ficou sozinha. Tornara-se uma criança tão desagradável que ninguém mais queria brincar com ela.
Seus pais, carinhosos e pacientes, diziam-lhe com brandura:
— Não faça assim, Aninha!
— Não quebre a boneca que é tão linda!
— Não rasgue o livro que tem uma história tão interessante!
— Não bata nos seus amiguinhos!
Mas, qual! Não adiantava aconselhar.
Depois, Aninha punha-se a berrar que queria outros brinquedos, livros e revistas novas, e não parava de gritar enquanto não lhe satisfaziam a vontade.
Sua mãe, muito bondosa, já estava desanimada. Não sabia como agir.
Aninha era sua filha única e a criara com excesso de carinho, atendendo-lhe aos menores caprichos. Agora queria voltar atrás e não conseguia.
Desesperada, elevava os olhos em prece, suplicando a Deus que a ajudasse, mostrando-lhe como agir, inspirando-lhe qual atitude tomar. Já não sabia mais o que fazer. Não adiantavam conselhos e orientações. Aninha não mudava.
Certo dia, Aninha tinha sido excessivamente malcriada. Sua mãe, em lágrimas, orou com especial fervor suplicando o auxílio do Pai Celestial.
Naquela noite, Aninha dormiu.
Dormiu e sonhou.
Sonhou que se encontrava em sua própria casa. Viu seu corpo adormecido, sem saber explicar o que estava acontecendo.
Sentiu-se mais leve e “boiando” dentro do quarto. A princípio achou graça e divertiu-se com a situação.
Logo, porém, viu entrar no quarto uns seres estranhos que queriam brigar com ela. Acusavam-na de ser má, egoísta e prepotente.
Olhando-os bem, começou a reconhecer aquelas figuras. Eram personagens dos livros e revistas que rasgara. Estavam zangados porque haviam perdido a sua casa. Com a destruição dos livros e revistas não tinham onde ficar.
Aninha, assustada, procurava se defender, gritando por socorro, mas ninguém apareceu para ajudá-la.
Tentou sair do quarto, fugindo pela porta aberta, mas nesse instante apareceram seus brinquedos avançando em sua direção. Todos estragados, faltando peças, a boneca com a perna quebrada, o carrinho sem rodas, o cachorrinho sem orelhas... Enfim, todos em pedaços!
Apavorada, viu seus amiguinhos que apreciavam a cena pela janela. Gritou por socorro, suplicou por ajuda, mas eles riam dos seus apuros.
Gritou por sua mãe e seu pai, mas parece que não ouviam seus pedidos de ajuda.
Depois de muito gritar, lembrou-se de que sua mãe a ensinara a orar.
Então, em lágrimas, suplicou:
— Jesus, me ajude! Não sabia quanto mal estava fazendo. Quero me modificar!
Nesse instante sentiu que caía num buraco muito fundo e acordou em sua cama. A mãe, apreensiva, estava ao seu lado fitando-a, preocupada.
— O que foi, minha filha? Você estava tendo um sono tão agitado!
Aninha abraçou-se à mãe dizendo-lhe, em prantos:
— Ah! Mamãe, se você soubesse! Tive um terrível pesadelo. Mas serviu-me de lição. Prometo ser diferente de hoje em diante.
E realmente, a partir desse dia, para surpresa geral, Aninha tornou-se uma menina dócil, boazinha e obediente. Passou a cuidar dos seus livros, revistas e brinquedos com carinho, e nunca mais brigou com seus amiguinhos nem desrespeitou qualquer pessoa.
Tia Célia
A lagarta Filomena
Num jardim muito bonito e florido, vivia uma lagarta que se chamava Filomena.
Ela gostava de passear pelas plantas e se alimentar de folhas verdinhas.
Certo dia, durante um passeio, encontrou uma formiguinha com a perna machucada. Condoída, fez um curativo na perna da formiguinha e ajudou-a a retornar para sua casa, o formigueiro.
Tininha, a formiga, ficou muito agradecida.
Alguns dias depois, Filomena saiu para dar umas voltas. Andou... andou... andou... e quando quis voltar para casa, não conseguiu: estava perdida.
Sem perceber, Filomena tinha saído do jardim e agora não sabia o que fazer. Para piorar sua situação, caiu de uma grande pedra escorregadia e ficou estendida no chão, com as pernas para cima, sem conseguir se levantar.
Filomena ficou muitas horas no sol quente, sem água e sem alimento. Começou a sentir-se doente e fraca, incapaz de andar.
O local era árido. Só tinha areia e pedras, e ninguém aparecia para socorrê-la.
As horas foram passando e ela foi ficando cada vez mais preocupada.
Já fazia um dia inteiro que Filomena estava estirada no chão, quando ouviu um barulho. Resolveu gritar por socorro.
Tininha estava por perto e escutou gemidos:
— Ai, ui, ai! Socorro!...
A formiga aproximou-se do local de onde partia a voz e qual não foi sua surpresa quando avistou a lagarta:
— Dona Filomena! O que aconteceu?
A pobre lagarta, reconhecendo a formiguinha que ajudara, falou-lhe comovida:
— Ah, Tininha! Foi Deus quem a mandou! Estou aqui há horas sem ninguém para me socorrer.
A formiga desejava fazer alguma coisa para ajudar, mas era tão fraquinha!
Teve uma ideia. Foi até o formigueiro chamar suas irmãs. Assim, trouxeram uma linda folha verde e tenra para Dona Filomena comer e água para matar-lhe a sede. Depois, as formigas curaram seus ferimentos.
Quando a lagarta já estava melhor, levaram-na para casa.
Dona Filomena disse:
— Nem sei como agradecer o auxílio de vocês, principalmente de Tininha, que foi tão boa comigo.
— Não precisa agradecer, Dona Filomena. Só fiz minha obrigação, retribuindo o bem que a senhora me fez.
E, desse dia em diante, tornaram-se grandes amigas.
Assim também acontece em nossas vidas. Todo o bem que fizermos reverterá em nosso próprio benefício. Cada um de nós colherá exatamente aquilo que houver plantado.
Por isso Jesus, sabiamente, ensinou que devemos fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam.
Tia Célia
O palhacinho triste
Guilherme era um menino que tinha aproveitado muito bem suas lições na escola e passara de ano com louvor.
Então, seus pais, muito amorosos, lhe proporcionaram alguns dias de férias em conhecida cidade de praia, naquela região.
Eufórico, Guilherme arrumou a mala e, juntamente com seus pais e o irmãozinho, num dia muito bonito saíram em viagem.
Ao chegar, logo à entrada da cidade, viram um circo armado, cheio de luzes coloridas, jaulas com belos animais selvagens, elegantes cavalos e macacos engraçados.
Com os olhos arregalados de emoção, Guilherme ouviu seu pai prometer que no dia seguinte iriam assistir ao espetáculo.
No outro dia, à hora marcada, deram entrada no circo e logo começou a função. Bailarinas, equilibristas, mágicos e trapezistas, alternavam-se com palhaços, macacos, elefantes, domadores de animais e muitas outras coisas.
Com um pacote de pipocas nas mãos, Guilherme acompanhava tudo rindo e batendo palmas, satisfeito.
De repente, olhou um dos palhaços que faziam piruetas e davam cambalhotas no picadeiro. Apesar do riso aberto, seus olhos eram tristes. Quando ele se aproximou mais, Guilherme notou que duas lágrimas brilhavam em suas faces pintadas.
Daquele momento em diante, nada mais teve graça, e a figura do palhaço triste não lhe saiu da cabeça.
Na manhã seguinte acordou e, em vez de ir à praia, voltou ao circo. O aspecto agora era bem diferente. Não havia mais belas luzes coloridas e a impressão de luxo e riqueza desvaneceu-se inteiramente. Fora, algumas pessoas faziam a limpeza do local enquanto outras lavavam e tratavam dos animais.
O garoto perguntou onde poderia encontrar o palhaço triste e informaram que ele estava no picadeiro.
Entrando na enorme lona do circo, agora vazio, Guilherme pareceu ouvir ainda os aplausos e gritos da plateia.
Logo o viu. Uma pequena figura sentada no chão, tendo a cabeça entre as mãos.
— Olá! — cumprimentou Guilherme.
O palhaço ergueu a cabeça ao ouvir a voz desconhecida.
— Olá! O que o traz aqui, garoto?
— Bem, é que eu queria ver um palhaço de perto.
— Ah! Com certeza vai se decepcionar. Sou apenas um homem como qualquer outro.
Guilherme sentou-se junto dele e disse:
— Estranho! Sempre pensei que os palhaços vivessem sempre sorrindo e brincando, como se a vida fosse uma festa — comentou o menino.
— Puro engano, meu filho. Muitas vezes a gente ri para não chorar — afirmou com tristeza.
— Agora eu entendo isso. Ontem mesmo, durante o espetáculo, percebi que você estava triste. Por quê?
— Deu para notar?!... A verdade é que estou com problemas muito graves.
E o palhaço contou-lhe que estava com a filhinha doente e não tinha dinheiro para levá-la ao médico. Contente por poder ajudar, Guilherme sorriu e lhe assegurou:
— Ora, não se aflija! Meu pai é médico e poderá examinar sua filha.
O garoto saiu correndo e, pouco depois voltou acompanhado do pai.
O palhaço acompanhou-os até onde estava a filha doente e eles ficaram impressionados com a miséria do local. O carro em que viajavam e que lhes servia de moradia, era muito pobre e sem conforto.
O médico examinou a criança e afirmou ao pai que ela, além de pneumonia, estava também desnutrida, precisando se alimentar melhor.
— Eu sei, doutor. — disse o palhaço — Mas não tenho dinheiro. Ganho pouco e mal dá para as despesas mais urgentes.
— Não se preocupe. Sua filhinha precisa ser hospitalizada, mas ficará boa logo, com a ajuda de Deus.
O médico conduziu a menina para o hospital, onde logo ela estava sendo medicada. Em seguida, ele levou uma cesta contendo gêneros alimentícios que dariam para muitos dias, entregando também ao palhaço um envelope com uma boa importância em dinheiro.
Surpreso, o pobre homem disse:
— Mas, doutor, eu não sei quando poderei lhe pagar!...
— Não se preocupe. Quero apenas que faça as crianças sorrirem.
Depois de alguns dias a garotinha voltou para casa contente e saudável.
Era o último espetáculo do circo. Levantariam acampamento no dia seguinte. Guilherme e sua família estavam na primeira fila.
O palhaço aproximou-se, trazendo nas mãos um lindo balão vermelho, amarrado com um cordão. Chegando junto a Guilherme entregou-lhe o balão, com sorriso feliz.
— Você agora não é mais um palhacinho triste — disse o menino.
— Não. Graças a você, posso sorrir novamente. Não sei como lhes agradecer tudo o que fizeram por mim.
O médico, bem-humorado, afirmou:
— É fácil. Faça um espetáculo bem alegre para alegrar as crianças.
Com um último olhar agradecido, o palhaço afastou-se dando cambalhotas e fazendo palhaçadas, acompanhado pelo riso de todos.
Guilherme suspirou, satisfeito. O pai olhou para o menino com carinho:
— Muitas vezes, o sofrimento e a dor estão onde menos esperamos, meu filho. É preciso ter sensibilidade para descobrir onde está a necessidade das pessoas. Se não fosse você, ninguém teria descoberto o problema do palhaço. Muito bem, Guilherme, Jesus certamente está contente com você.
E, abraçando o filho com ternura, completou:
— A verdade é que onde estivermos podemos ajudar alguém. Basta que se tenha boa-vontade e amor no coração.
Tia Célia
A experiência da raposa
Certa vez, uma raposa de lindo rabo peludo e de elegante nariz pontudo, aproveitando a noite que tinha chegado de mansinho, entrou em um galinheiro.
Fez-se grande tumulto. As aves corriam assustadas, trombando umas nas outras e cacarejando de medo.
Satisfeita com a confusão que se estabeleceu entre as galinhas, a raposinha corria de um lado para o outro, arrancando-lhes as penas e divertindo-se a valer. Até que percebeu uma galinha que continuava no mesmo lugar. Parou a brincadeira e aproximou-se, curiosa.
A galinha, com as asas abertas, arrepiada, protegia seu ninho onde sete pintainhos, mal acabados de sair da casca do ovo, pipilavam. Ao ver que a raposa se aproximava, tremendo de pavor, a pobre mãe suplicou:
— Por favor, dona Raposa, não destrua minha família que amo tanto. Se quiser pode comer a mim, mas não mate meus filhinhos e Deus a recompensará por sua generosidade. Eles nada lhe fizeram! São pobres criaturinhas indefesas. Tenha piedade!
Ouvindo a súplica da mãezinha aflita, a pequena raposa condoeu-se e foi embora do galinheiro, para grande surpresa das aves que respiraram aliviadas.
Algum tempo depois, a raposa, já crescida, foi também abençoada com duas lindas raposinhas, que eram o seu maior tesouro.
Certo dia percebeu, nas imediações da sua toca, um cachorro adestrado na caça às raposas, e procurou proteger seus filhotinhos da melhor maneira possível.
Porém o cão, que possuía faro muito delicado, encontrou o esconderijo. Impedindo que elas fugissem, arreganhou os dentes, rosnando colérico e pronto para atacá-las.
Nesse instante, a raposa-mãe lembrou-se da vez em que entrara no galinheiro e das palavras da galinha.
Tremendo de medo ela gaguejou:
— Você tem filhotes?
Surpreso, o cachorro parou e respondeu:
— Tenho.
Criando coragem, a raposa continuou:
— Então sabe o que estou sentindo. Por piedade, não mate minhas filhas que são tudo o que tenho. E se isso estivesse acontecendo com sua família? Poupe-nos e Deus o recompensará por sua generosidade.
O valente cão de caça pensou... pensou... e achou que a raposa tinha razão. Cheio de piedade, foi embora sem molestá-las.
A raposa abraçou as filhas com amor, agradecendo a Deus a ajuda e reconhecendo o valor da lição que manda fazer ao próximo aquilo que queremos que os outros nos façam.
Como naquele dia em que ela tinha ajudado uma pobre galinha desesperada que suplicava pela vida de seus pintainhos, agora, por sua vez, num momento de perigo, tinha recebido a mesma ajuda de um cão de caça, que se condoeu da sua situação de mãe, que defendia seus filhotes.
Tia Célia
Por uma moeda
Fernando era um menino de bom coração, e sensível ao sofrimento dos outros.
Certo dia, passando por uma rua na periferia da cidade, viu uma casa muito pobrezinha e duas crianças magras e pálidas que brincavam à porta.
Num impulso, aproximou-se e puxou conversa com as crianças. Ficou sabendo que não tinham pai e que a mãe estava trabalhando para prover o sustento da casa. Disseram, também, que nada tinham comido ainda naquele dia, e que só iam comer quando a mãe retornasse do trabalho.
Penalizado, Fernando desejou ajudar. Mas, como? Também não tinha recursos e seu pai trabalhava muito para que nada lhes faltasse no lar.
Teve uma idéia. Tinha muitos amigos, e, se ele sozinho quase nada podia fazer, em conjunto eles poderiam fazer muito.
Reuniu os amigos e expôs seu plano. Se cada um contribuísse com um pouco, ajudariam aquela família substancialmente. Todos aprovaram a idéia de Fernando. E mais, entusiasmados, resolveram pedir a colaboração de parentes, amigos e vizinhos, pois, angariando mais recursos, estenderiam a ajuda a outras famílias necessitadas.
E assim foi feito. Não apenas recebendo gêneros alimentícios, roupas, calçados, mas cada um também doando tempo de trabalho, fazendo companhia às crianças, ajudando na higiene doméstica e ensinando os deveres da escola.
Aos poucos, como eles previam, a assistência estendeu-se a outras famílias igualmente necessitadas e que residiam ali por perto.
Todos estavam felizes e otimistas.
Pedindo a colaboração de um dos garotos na escola, que Fernando sabia ser muito rico, ficou grandemente decepcionado, pois o menino respondeu indiferente:
— Nada tenho para dar.
— Como? Você é o menino mais rico da escola! — estranhou.
Como Fernando continuasse a insistir a contragosto o garoto tirou uma pequena moeda do bolso e entregou-a dizendo:
— Esta moeda é só o que posso dar.
Perplexo, Fernando olhou a moeda e teve vontade de não aceitar, por ser de valor insignificante. Porém, pegou a moeda, agradeceu e afastou-se, indignado.
Chegando em casa, comentou com a mãe o acontecido, e terminou dizendo:
— Tive vontade de não aceitar a moeda, que é um insulto às necessidades alheias. Não vale nada!
A mãe fitou-o e disse serena:
— Pois faria muito mal, meu filho. Você deve aprender que, na vida, cada um dá o que tem. E isso, muitas vezes, não tem relação com o que a pessoa acredita possuir.
Surpreso, Fernando perguntou:
— Como assim, mamãe? Não entendo. Ele é muito rico!...
— Exatamente. Mas não aprendeu a dar nada de si. Por isso, meu filho, essa moeda que você despreza tanto é a oportunidade do seu amigo de doar alguma coisa, e que, para ele, representa muito. Compreendeu?
— Compreendi. A senhora quer dizer que a doação é um aprendizado que temos de exercitar — respondeu o menino, admirado das sábias palavras de sua mãe.
— Isso mesmo, meu filho. O egoísmo é uma doença da qual nos libertamos muito lentamente. E o seu amigo está dando os primeiros passos para vencer essa terrível chaga.
Fernando olhou para aquela moedinha que brilhava em sua mão com olhos diferentes e agradeceu a lição que recebera.
Fez um quadro com a moeda, colocando uma moldura e pendurou-o no seu quarto, em local bem visível, para que nunca mais se esquecesse da lição.
Um ano depois, aquele seu amigo já estava plenamente integrado no grupo e alegremente colaborando, muito feliz da vida, para espanto geral.
Tia Célia
A caminho da praia
Gabriel estava muito contente. Tinham tido um belo Natal em família e o Ano Novo começava bem.
Seu pai tinha resolvido que iriam passar alguns dias na praia e era preciso correr com os preparativos.
Tanta coisa para arrumar! Tanta coisa para levar! Roupas, calçados, esteira, guarda-sol, cadeiras. Ah! Não poderiam esquecer a bola, os patins, as raquetes, o boné e o protetor solar! — pensava Gabriel.
Na véspera do dia combinado todos se deitaram cedo. Sairiam antes de o sol raiar. Gabriel nem conseguiu dormir. Estava ansioso demais e não via a hora de colocarem o pé na estrada.
Depois de muita confusão, acomodaram-se no carro e partiram eufóricos.
Viajaram muitas horas sem problemas. Tudo era festa.
Por volta do meio-dia já estavam todos cansados e com fome. O pai prometeu que parariam para almoçar no primeiro restaurante que encontrassem.
Nisso, viram um carro estacionado à beira da estrada. Pareciam estar com problemas e Jorge, o pai de Gabriel, resolveu parar e ver se eles precisavam de ajuda.
Roberto, o irmão mais velho, reclamou:
— O senhor vai parar, papai? Ah! Não para não! Estamos cansados e com fome. Além disso, nem conhecemos essa gente!
Jorge virou-se para o filho e afirmou, sério:
— Roberto, temos que ser solidários, meu filho! E se fôssemos nós que estivéssemos em dificuldade numa estrada deserta? Também não gostaríamos de receber ajuda?
— Claro! — respondeu o garoto de má vontade, suspirando.
Jorge desceu, enquanto a família ficou no carro aguardando. O outro veículo estava com defeito e Jorge, que entendia de mecânica, dispôs-se a examinar.
Não demorou muito, e as famílias estavam conversando fora dos carros. As mães trocavam informações, enquanto as crianças brincavam, comiam bolachas e bebiam água.
Descobriram, por coincidência, que iriam para a mesma cidade do litoral.
Jorge terminou o conserto e despediram-se, já como velhos amigos. Cláudio abraçou Jorge dizendo:
— Nem sei como lhe agradecer, Jorge. Se não fosse você, não sei o que faria. A cidade mais próxima está longe e o socorro demoraria a chegar.
— Não me agradeça, Cláudio. Tenho certeza de que faria o mesmo por mim.
Reiniciaram a viagem e algumas horas depois chegaram ao destino.
Ver o mar é sempre uma alegria e eles estavam muito animados.
O dia ensolarado era um convite que eles não podiam deixar de aproveitar. Não viram mais a família de Cláudio e até se esqueceram do incidente na estrada.
Certa manhã, a praia estava cheia de gente e de guarda-sóis. Gabriel estava brincando com um baldinho cheio de água, quando viu um siri. Saiu correndo atrás do bichinho, mas por mais que se esforçasse, não conseguia alcançá-lo.
Quando cansou da brincadeira, Gabriel quis voltar para junto dos pais e dos irmãos, mas só viu gente desconhecida. Não sabia mais onde estava.
Era muito pequeno e estava exausto. Olhava para cima, e o sol a pino não deixava que visse o rosto das pessoas.
Desesperado, sem saber para onde ir, pôs-se a chorar gritando:
— Mamãe! Papai!...
Mas ninguém atendia aos seus chamados.
Gabriel estava cansado de gritar quando ouviu uma voz conhecida dizer:
— Ei, menino, onde estão seus pais?
— Não sei. Estou perdido. Buáááá! Buááááá!
Olhando-o atentamente, o homem perguntou:
— Mas você não é o Gabriel?!...
— Sou.
— Então não se preocupe. Pare de chorar. Vamos procurar seus pais. Lembra-se de mim? Sou Cláudio, o homem que vocês ajudaram na estrada.
Cláudio dirigiu-se a um alto-falante ali perto e mandou avisar Jorge que o pequeno Gabriel estava com ele.
Logo em seguida apareceram os familiares do menino. Mostrando grande alívio, a mãe abraçou o filhinho, chorando de alegria.
Jorge, surpreso, agradeceu o amigo Cláudio.
— Graças a Deus que você encontrou meu filho. Estávamos desesperados e já não sabíamos onde procurar. Nem sei como lhe agradecer!
Cláudio abriu um grande sorriso e respondeu:
— Não precisa! Tenho certeza de que faria o mesmo por mim.
Roberto olhou para o pai com lágrimas nos olhos:
— Ainda bem que Cláudio reconheceu Gabriel. E isso foi graças a você, papai! Agora entendo que tinha toda razão quando parou à beira da estrada para ajudar aquelas pessoas. É dando que recebemos.
Tia Célia
O pedaço de pão
Num armário de cozinha conversavam um pedaço de bolo, uma torta, algumas rosquinhas e um humilde pedaço de pão.
Dizia o bolo, todo orgulhoso:
— Todos me adoram, pois sou fofo e macio.
Uma rosquinha retrucava do seu canto:
— Pode ser. Mas, para o lanche da família, as crianças não dispensam a minha presença!
E a torta, torcendo o nariz, respondia, irônica:
— Em dias comuns, talvez. Eu, porém, sou sempre indispensável em qualquer mesa de festa. Minha presença é aguardada com muita satisfação, pois sou saborosa e encanto aos mais exigentes paladares.
Diante das palavras dos outros companheiros, o pedaço de pão encolheu-se mais ainda no seu canto, humilhado.
O bolo, fitando-o com ar arrogante, perguntou:
— E você, não diz nada?
O pobre pedaço de pão baixou a cabeça, triste. Sentia-se diminuído diante dos companheiros, e sem valor nenhum. Afinal, era apenas um pão.
A torta retrucou, sarcástica:
— Deixe-o. Não vê que ele não serve para nada? Só se utilizam dele quando não têm coisa melhor. Com tantas iguarias gostosas como nós, seu fim é ficar aqui, mofando neste armário, até ser jogado no lixo.
Triste, o pão não respondeu. Sabia que não tinha importância alguma.
Nisso, ouvem um barulho na cozinha. Alguém se aproxima. Calam-se.
A porta do armário se abre e aparece a dona da casa e seu filho Paulinho.
— O que você deseja comer, meu filho? — pergunta a mãe, atenciosa. — Talvez algumas rosquinhas?
— Não, mamãe. Estão um pouco moles. Gosto delas sequinhas.
— Bem, talvez um pedaço de bolo? Ou de torta?
— Não, não. São muito doces — retrucou o garoto.
E, fitando o pedaço de pão, o menino apanhou-o com carinho enquanto afirmava:
— Quando estou realmente com fome, mamãe, não dispenso o meu pedaço de pão!
Com alegria, o pão deixou o armário, sob os olhares consternados dos companheiros.
Também nós, na vida, por mais insignificantes que nos sintamos, temos o nosso valor e uma tarefa a cumprir.
Por isso, não devemos nos considerar melhores do que os outros, deixando que o orgulho se instale em nosso coração.
Também não devemos nos considerar piores do que os outros. Cada um de nós é diferente e único, mas todos somos irmãos perante Deus.
Todos nós temos valor.
Tia Célia
Aproveitando as férias
Caminhando pela rua, Celso ia desanimado. Chutou uma lata e pensou:
— As férias não estão sendo como eu sonhei.
Durante o ano letivo, tendo que fazer tarefas e enfrentar provas, ele ansiava pelas férias escolares prometendo a si mesmo não fazer nada, nadinha. Queria descansar!
Até para a sua mãe Celso avisou, irredutível:
— Mamãe, nas férias não quero fazer nada. Nada de trabalho, nada de atividades. Não me acorde! Quero dormir bastante!
A mãe concordou. Agora, Celso dormia até o meio-dia, acordando somente à hora do almoço. Depois, ficava o resto do dia sem fazer nada. No começo achava essa vida ótima, depois, sem saber por que, começou a sentir-se irritado e descontente, reclamando de tudo.
Os colegas insistiam para que fosse com eles jogar futebol ou ir à piscina, mas o menino recusava dizendo:
— Não vou, não. Quero descansar!
Certo dia uma amiguinha de Celso, passando por sua casa e vendo-o no portão, convidou:
— Tem um grupo que vai levar sopa numa favela e estou indo juntar-me a eles. Quer ir também?
— Está brincando? Com esse sol e esse calor que está fazendo? Nem pensar!
Passou-se uma semana... duas semanas...
Na terceira, Celso não agüentava mais a monotonia.
Observando a mãe lavar roupas, o menino desabafou:
— Mamãe, não sei o que está acontecendo comigo. Estou sem ânimo. Perdia a fome. Não tenho conseguido dormir direito à noite. Passo horas acordado, sem sono. E, o pior, é que vivo cansado!
A mãezinha enxugou as mãos no avental, olhou o filho desanimado e sorriu, compreensiva:
— É exatamente porque você não está tendo nenhuma atividade útil, meu filho, Quanto menos fizer, mais cansado ficará.
Sentou-se ao lado de Celso num banco ali perto e continuou:
— Para podermos viver, Deus nos dotou de energias. Essas energias têm que ser bem utilizadas por nós. Por isso sentimos necessidade de trabalho, de movimento, de atividades.
— Mas quando terminou o ano letivo eu estava muito cansado e não queria ver livros na minha frente!
— Muito justo, porque você estudou e se esforçou bastante durante o ano, meu filho, e precisava descansar. Agora, já está descansado e precisando movimentar o corpo e a mente. Existem outros tipos de atividades que nos distraem, alegram e animam. Ler um bom livro, fazer um esporte, uma visita, ajudar alguém, são coisas úteis e agradáveis.
Celso pensou um pouco e concluiu que a mãe tinha razão.
Naquela tarde, acompanhou os amigos ao clube para uma partida de futebol. Voltou para casa com outro aspecto.
No dia seguinte encontrou a menina que ia levar sopa na favela e dispôs-se a acompanhá-la. Viu tanta necessidade e sofrimento, que se comoveu. Ajudou a distribuir a sopa e o pão, conversou com as crianças, visitou as famílias e voltou para casa, com novo ânimo.
Corado e sorridente, entrou em casa e relatou à mãe tudo o que fizera. Estava com outro aspecto e tinha um brilho diferente no olhar.
Sentou-se e comeu sem reclamar. Com as atividades do dia, sentia-se cansado mas satisfeito. Naquela noite dormiu logo e teve sono tranqüilo. No dia seguinte acordou cedo, bem disposto e animado, afirmando:
— Mamãe, eu quero aproveitar minhas férias!
Tia Célia
Ano Novo, vida nova!
Caminhando pela rua, sem pressa, Roberta, de oito anos, encaminhou-se para o parquinho próximo de sua casa. Sentou-se no balanço preferido e ali ficou quieta, pensando na vida.
O ano tinha sido bom. Apesar de não ter se dedicado especialmente aos estudos, havia sido aprovada na escola, e sentia-se aliviada.
A festa de Natal tinha sido muito boa, com comida à vontade, frutas, doces, chocolates e balas. Além disso, ganhara vários presentes, inclusive uma nova bicicleta, exatamente a que desejava.
No entanto, apesar de estar tudo bem, algo a incomodava. Lembrando do Natal, cuja data representava o aniversário de Jesus, chegou à conclusão de que só pensara em si mesma. O ano estava para terminar e isso lhe dava certa tristeza.
Como o ano novo chegaria dentro de alguns dias, Roberta pensou que gostaria de mudar sua vida para que ela fosse melhor ainda.
Mas mudar o quê?
Em relação à escola, deveria estudar mais, não apenas para passar de ano, mas para aprender realmente.
Ao pensar na escola, imediatamente a imagem de Tereza surgiu em sua mente. Era uma colega com quem teve uma briga por um motivo qualquer, e não tinham se falado mais. E ela sentia falta da amiga.
Lembrando da festa de encerramento do ano letivo, Roberta reviu o momento em que um grupo de alunas apresentou lindos números de dança. Ela tinha se emocionado porque o balé era seu sonho! Sempre quis aprender a dançar! Quem sabe a hora tinha chegado?
Nesse momento, Roberta viu uma garotinha bem pobre que chegou ao parquinho, tímida, sem saber o que fazer. Enquanto a mãe dela, parada na calçada, entretinha-se a conversar com uma moça, a menina ficou parada, indecisa.
Intimamente, Roberta tomou uma decisão:
— Isso mesmo! O ano novo será diferente! E vou começar agora.
Então, Roberta deixou o balanço e aproximou-se da menina, convidando:
— Quer balançar? Venha, eu ajudo você!
Sentou a garotinha e pôs-se a balançá-la, enquanto a menina ria, feliz. Logo estavam amigas. Roberta ficou sabendo que o nome dela era Carolina, tinha 4 anos e morava num bairro bem distante. Quando a mãe da garotinha chegou, elas conversaram e Roberta disse:
— Tenho alguns brinquedos e quero dar para Carolina. Tenho também roupas e calçados que não me servem mais, além de doces e balas que ganhei no Natal. Venham comigo até minha casa. É aqui pertinho.
A mãe ficou toda contente e agradecida:
— Você não imagina o que isso significa para nós. Sem dinheiro, nada pude comprar para Carolina no Natal. Nem comida nós temos em casa.
Penalizada, Roberta levou mãe e filha até sua casa, apresentou-as a sua mãe e, como o almoço estivesse pronto e seu pai já tivesse chegado, sentaram-se e almoçaram todos juntos.
Ao se despedir, a mulher estava emocionada. Sentia-se agradecida pela ajuda e pelo acolhimento que tivera naquele lar. Carolina jogou-se nos braços de Roberta e disse:
— Obrigada, Roberta. Você agora é minha amiga do coração!
Ao receber o abraço a garotinha, Roberta sentiu que jamais tinha experimentado tal sensação de bem-estar, paz e felicidade.
Mais tarde, ela foi até a casa de Tereza. Tocou a campainha e, para sua surpresa, foi a própria colega que abriu a porta. Ao vê-la, a menina arregalou os olhos, surpresa.
— Roberta! Você, aqui em casa?...
— Vim para lhe pedir desculpas, Tereza. Sinto muito o que aconteceu naquele dia.
— Roberta, eu é que devo lhe pedir desculpas. Falei coisas que não devia e acabamos brigando. Você me perdoa?
As duas trocaram um olhar e caíram na risada.
— Bem, acho que somos amigas de novo, não é?
Elas se abraçaram com carinho, contentes por terem resolvido a questão.
Deixando a casa de Tereza, Roberta voltou para seu lar e contou a sua mãe o que tinha acontecido, que tinha feito as pazes com Tereza e concluiu:
— Mamãe, graças a Deus agora está tudo bem entre nós.
— Fico feliz, minha filha, que você e Tereza tenham se acertado. Nunca estaremos bem se alguém tiver algo contra nós.
— Tem razão, mamãe. Estou aliviada. Ah! Também resolvi que o ano novo seja diferente, por isso gostaria de lhe pedir: posso estudar balé no ano que vem?
— Se você realmente deseja, é claro que pode!
— Obrigada, mamãe! Vou telefonar para a professora e me matricular no curso.
Nos próximos dias, Roberta fez uma programação de tudo o que gostaria de fazer para o próximo ano, e aproveitou para realizar algumas coisas que estavam faltando antes do fim do ano: fez visita aos seus avós e a um colega que estava enfermo, deu banho no cachorro; arrumou seu quarto separando o que iria precisar daquilo que poderia dispor e muitas outras coisas.
No dia 31 de dezembro, sentia-se em paz consigo mesma e com o mundo.
Quando soou a meia-noite e os festejos começaram, o céu ficou todo iluminado com a queima de fogos de artifício. A cidade ganhou vida nova, com buzinas de carros soando, gritos de alegria e pessoas que deixavam suas casas para cumprimentar vizinhos, parentes e amigos.
Sob o céu iluminado, a mãe olhou para a filha e disse com amor:
— Feliz Ano Novo, minha filha!
— Feliz Ano Novo, mamãe!
Roberta agora tinha certeza do que queria: ANO NOVO, VIDA NOVA!
Tia Célia
Natal com Jesus
Aproveitando a aproximação de dezembro, a professora falava sobre o assunto, ponderando com os alunos:
— Nossas aulas estão terminando e logo vocês estarão de férias. Natal está chegando e hoje vamos falar sobre esse assunto tão importante para nós que somos cristãos. Todos os dias devemos nos lembrar de Jesus e procurar estar junto dele! Contudo, Natal é um momento especial porque toda a cristandade comemora nesse dia a vinda do Cristo ao mundo. Então, gostaria de saber: Como vocês esperam comemorar o Natal?
O entusiasmo foi geral. O assunto era palpitante! Cada criança falou sobre suas expectativas para a festa: As visitas de parentes que viriam de longe, os preparativos e as compras que estavam sendo feitos para o grande momento e, especialmente, os presentes que esperavam ganhar.
A professora ouviu com atenção as informações infantis, deixando que falassem à vontade. Depois, considerou, com um sorriso:
— Ótimo! Vejo que estão animados e sabem o que querem! Mas será que alguém se lembrou de que o aniversariante é Jesus, e, portanto, a festa é para Ele?
Silêncio geral. Os alunos trocaram entre si olhares surpresos e constrangidos. Ninguém havia pensado nisso!
Um aluno quebrou o silêncio, arriscando:
— Bem, se o aniversariante é Jesus, então, devemos pensar como Ele gostaria que preparássemos a comemoração, não é?
Todos concordaram. Porém, como fazer isso? Perguntar a Jesus?
Um outro garoto, que ouvia pensativo, disse:
— Bem, professora, acho que só podemos fazer isso buscando nos ensinamentos de Jesus. Minha mãe me ensinou que o Cristo gostava de estar sempre junto com os sofredores e necessitados do mundo.
— Excelente, Joãozinho. Alguém se lembra de mais alguma coisa?
Dorinha, menina estudiosa e disciplinada, comentou:
— Professora, outro dia abri a Bíblia ao acaso e li um trecho que Jesus dizia que, ao darmos uma festa, não deveríamos convidar os ricos, mas os que não nos poderiam retribuir a gentileza.
— Muito bom, Dorinha. Você provou que entendeu a mensagem do Mestre.
Ismael, o menorzinho da turma, que acompanhava tudo com atenção, levantou-se e disse:
— Professora, meu pai fala que Jesus ama a todo mundo: as pessoas, os bichinhos, as plantas. É verdade?
— Sem dúvida, Ismael. O amor do nosso Mestre se reflete em toda a natureza.
— Então, acho que Jesus não gostaria de chegar em nossa casa e encontrar a mesa cheia de animais mortos. Eu não gosto!
Diante da ponderação daquela criança, que lembrava o respeito à vida, os demais se calaram. A professora passou o olhar pela sala, onde os alunos se mantinham em silêncio, pensativos, e sugeriu:
— A classe já se manifestou abordando coisas importantes que devem ser analisadas com seriedade. Gostaria que o grupo refletisse sobre o assunto e encontrasse a melhor solução para festejarmos o Natal de Jesus. Vocês terão até o final desta aula para resolver, está bem? Depois desse tempo, voltarei para saber o que decidiram.
As crianças passaram a refletir no assunto, cada um dando sua sugestão. Afinal, depois de muita conversa, resolveram. A decisão foi unânime e estavam todos entusiasmados.
Retornando, a mestra olhou para a classe e indagou:
— E então? Chegaram a uma decisão?
O líder a turma, levantou-se e informou:
— Sim, professora. Depois de tudo o que foi falado, decidimos que a melhor maneira de festejarmos o Natal, é fazer visitas aos hospitais. Jesus cercava-se especialmente dos sofredores e doentes, e onde encontrá-los em maior número a não ser num hospital? Deve ser muito triste ser criança e ter que passar o Natal separado da família, não é? Podemos ensaiar um teatro, levar alegria, músicas, brincadeiras e algumas guloseimas que eles possam comer. O que a senhora acha?
A professora acompanhava comovida a explicação do aluno, que era interrompida pelos demais com palmas e gritos de alegria. Com lágrimas nos olhos, ela aprovou:
— Parabéns, vocês decidiram sabiamente. Por certo este ano teremos um Natal diferente!
A partir daquele dia, com a cooperação das famílias que aderiram eufóricas à idéia dos filhos, arrecadaram recursos para realizar o projeto, ganharam doces e presentes. Cada aluno contribuiria com suas tendências, mostrando o que tinha de melhor. Assim, surgiram atores para um pequeno teatro; palhaços, mágicos e, como não poderia faltar, ensaiaram músicas natalinas.
Chegou o grande dia.
Era véspera de Natal. Em um grande comboio se dirigem para o primeiro hospital. Foi um momento inesquecível! Médicos, enfermeiras, atendentes, todos aprovaram a iniciativa. Os pacientes, então, nem se diga! Acompanhavam com olhos brilhantes de animação e alegria as apresentações variadas e cheias de humor. Receberam presentes, balões coloridos e doces. Naturalmente, os alunos haviam se informado antes para saber o que os pacientes poderiam comer, inclusive os diabéticos, que receberam guloseimas especiais.
Notadamente no Hospital do Câncer, a emoção foi maior, diante das crianças pálidas, abatidas, muitas sem cabelos, com feridas, mas todas demonstrando no olhar a felicidade daquele momento.
O ambiente saturado de luz se derramava em bênçãos de paz, de amor e de alegria para todos.
Certamente, tanto as crianças enfermas quanto os alunos daquela classe, jamais esqueceriam esse Natal, quando tiveram a oportunidade de sentir a presença de Jesus, tão viva e tão forte entre eles!
Tia Célia
Exemplo de humildade
Há muito, muito tempo atrás, numa humilde e pequena estrebaria, alguns animais conversavam, trocando idéias sobre suas vidas.
E o boi, muito manso, dizia com sua voz grave e pacienciosa:
— Tudo o que fazemos é trabalhar de sol a sol. Puxo o arado revolvendo a terra para a semeadura, e conduzo a carroça com tranqüilidade e alegria executando meu trabalho sem reclamar. O senhor pode contar comigo, que estou sempre firme no serviço, mas jamais recebi uma única palavra de encorajamento.
O cavalo, que ruminava num canto, concordou balançando a cabeça:
— Também tenho dado o melhor de mim, levando o senhor para todo lado, caminhando grandes distâncias sob o sol abrasador, a chuva fria ou o frio inclemente. Mas, tenho recebido apenas o chicote no lombo como paga pelos meus serviços.
O burrico levantou a cabeça, tristonho, e suspirou:
— Tenho carregado cargas muito pesadas e nunca reclamei, nem me recusei a cumprir minhas tarefas, todavia nunca recebi uma ração extra em agradecimento pelos meus esforços.
A vaca, que amamentava seu bezerrinho recém-nascido, ergueu os olhos grandes e úmidos e comentou:
— Também eu tenho sentido na pele a ingratidão do homem. Não contente em tirar-me o leite com que alimenta seus filhos, não raro desagrega nossa família, matando-nos por prazer para alimentar-se de nossas carnes, utilizando-nos a pele para a confecção de calçados e roupas.
A ovelhinha, que tudo ouvia em silêncio, e que de olhar sonhador observava através da porta, o céu de um azul profundo e limpo, recamado de estrelas, suspirou e disse com sua voz meiga:
— Concordo que todos têm sua parcela de razão. Também eu não estou livre de maus tratos, embora colabore sempre com a minha lã para que o homem confeccione agasalhos com que se protege do frio. Mas sabem o que ouvi dizer outro dia? Que é aguardado um Messias com toda ansiedade. Dizem que ele virá do céu para amar os homens na Terra, e para conduzi-los ao regaço de Nosso Pai.
E os animais, atentos e curiosos, sentindo uma esperança nova, pediam-lhe a uma só voz:
— O que mais dizem desse Messias enviado por Deus? Conte-nos... conte-nos...
E a ovelhinha, orgulhosa das suas informações, prosseguia:
— Dizem também que ele dará a cada um segundo suas próprias obras. Por isso, tenhamos confiança em Deus que nunca nos desampara.
Mais reconfortados e confiantes, os animais naquela noite sonharam com o Messias, que cada um imaginava conforme seus gostos e necessidades, e que seria o Salvador do Mundo.
No dia seguinte viram que se aproximava, vindo pela estrada, um homem que conduzia um burrico, carregando uma jovem de belo e doce semblante.
Como não tivessem conseguido alojamento para passarem a noite, contentaram-se com aquela humilde estrebaria.
Pareciam exaustos da longa viagem e a jovem aguardava um filho para breve.
Com espanto, os animais viram o homem ajeitar as palhas, improvisando um leito para a jovem.
Algumas horas depois nascia um lindo bebê, sob as vistas carinhosas e atentas dos animais.
No céu uma grande estrela surgira, prenunciando um acontecimento incomum, e, rodeando a manjedoura, transformada em improvisado berço para o recém-nascido, os animais sentiram-se compensados por todo o sofrimento das suas vidas, conscientes da grande importância daquele acontecimento.
E, na paz e quietude do ambiente singelo, reconheceram naquela criança o Messias, o Cristo de Deus, que nascera na Terra para ensinar o Amor, mas que preferira como testemunhas mudas do seu nascimento, não os homens, mas os humildes, laboriosos e dóceis animais da criação.
Tia Célia
Espírito natalino
Estavam no mês de dezembro. Os últimos dias de aulas traziam alegria aos alunos porque representavam a chegada das férias, as festas do final de ano, viagens e divertimentos. Todavia, também traziam certa tristeza, pois a convivência diária com os colegas a que estavam acostumados e que lhes dava tanto prazer, deixaria de existir.
No encerramento do ano letivo, ao se despedir de seus alunos, a professora falou sobre o Natal, explicando a importância da vinda de Jesus ao mundo, e concluiu dizendo:
— Nunca se esqueçam de que o espírito natalino representa, sobretudo, repartir o que temos com o próximo, mesmo que seja pouco. Isso é o que o Mestre espera de nós: que possamos agir como verdadeiros irmãos.
Nico ficou com aquelas palavras na cabeça.
O que teria ele para repartir com alguém? Não era rico. Ao contrário, era de família bem pobre. As roupas e calçados que usava lhe eram necessários. Brinquedos, ele não tinha. Lembrou-se dos livros escolares que já não lhe serviriam mais. Sim, poderia doá-los a alguma criança pobre.
Sorriu a essa idéia. Encontrara algo para repartir.
Intimamente, porém, não se sentia satisfeito. Dando os livros escolares a alguém, não estaria repartindo nada, apenas abriria mão de algo que não lhe faria falta! Naquele seu gesto estava faltando alguma coisa...
Alguns dias depois, já bem próximo do Natal, foi visitar seu avô e ganhou uma moeda. Uma linda moeda!
— O que farei com ela? Já sei! Vou comprar aquele cachorro-quente que sempre sonhei comer e que nunca pude.
Nico saiu correndo rumo “àquela” barraquinha de cachorro-quente que ele tão bem conhecia de tanto ouvir as pessoas elogiarem.
Pediu o sanduíche e, cheio de ansiedade, já com água na boca, mal podia esperar que ficasse pronto. Acrescentou os molhos e tudo o mais que tinha direito, e acomodou-se na sarjeta para apreciá-lo devidamente.
Satisfeito, respirou fundo e abriu bem a boca para dar o primeiro bocado. Nesse instante, viu ao seu lado, também sentado no meio-fio, um moleque sujo e esfarrapado, cujos olhos famintos não se despregavam do seu sanduíche.
Nico, a princípio, tentou não dar atenção ao menino. Mas aqueles olhos de pedinte o incomodavam.
Naquele momento, lembrou-se das palavras da professora no último dia de aula, e entendeu finalmente o que ela queria dizer.
Levantou-se, e, pouco depois voltou, com o cachorro-quente dividido ao meio. Entregou uma parte para o garoto, que lhe agradeceu com um enorme sorriso, e ficou com a outra.
E juntos, lado a lado, saborearam o delicioso sanduíche.
Jamais Nico tinha experimentado tal sensação de bem-estar e de felicidade. A gratidão do menino de rua tinha para ele um sentido todo especial.
Finalmente entendera o que era o espírito natalino. Ele conseguira renunciar, dividindo algo que muito desejava. Repartira o pão com alguém ainda mais necessitado do que ele, e tinha certeza de que Jesus aprovava seu gesto. Nem sabia o nome do moleque! Mas que importância tinha isso?
Virou-se para o garoto, que o fitava com olhos brilhantes e cheios de alegria. Sorriram. Tinha ganhado um novo amigo.
— Feliz Natal! — exclamou satisfeito.
— Feliz Natal! — repetiu o menino.
E se abraçaram contentes.
Tia Célia
O pião 23/02/2017
NOVA CIDA
Apesar de ser muito inteligente e de ter todas as condições para aprender, Mateus não gostava de estudar.
Para ele era um verdadeiro sacrifício abandonar as brincadeiras e ir para a escola.
Gostava mesmo era de andar pelos matos caçando passarinhos e colhendo frutos silvestres, brincar com seus brinquedos ou jogar bola na rua com os amigos e vizinhos.
Nunca achava tempo para fazer os deveres de casa. Na escola, não prestava atenção ao que a professora ensinava e nem se dava ao trabalho de copiar o que ela passava no quadro-negro.
No final do ano, como não poderia deixar de ser, o resultado desse comportamento: todos os colegas passaram de ano e só Mateus foi reprovado.
Ficou muito triste, chorou, mas nada adiantou. Teria que repetir a mesma série na escola e procurar aproveitar as aulas.
No entanto, Mateus continuava levando a mesma vida de sempre, sem se preocupar com os estudos.
No aniversário ele ganhou de alguém um pião e interessou-se pelo brinquedo. Ele enrolava a cordinha cuidadosamente em torno do pião e depois soltava com gesto brusco, e era com satisfação que via o brinquedinho rodar, rodar, rodar sobre si mesmo.
Um dia, observando o pião que rodava sem cessar, ele comentou com o pai, que lia o jornal ali perto:
– Que engraçado é o pião, não é papai? Como será que ele gira sempre e não sai do lugar?
O pai, que estava preocupado com o comportamento do filho, aproveitou o momento para informar:
– É verdade, meu filho. E você sabe que não é só com o pião que acontece isso?
– Como assim, papai? – perguntou Mateus sem entender o que seu pai dizia.
– Sim, meu filho. Também muitas pessoas, como o pião, ficam girando apenas em torno de si mesmas e não saem do lugar. Nunca aprendem nada porque não se interessam em ver o mundo que existe em derredor. São egoístas. Só pensam na própria pessoa.
E, nesse caso, são pessoas que nem sequer pensam no próprio bem, ou saberiam que só aprendendo e participando do mundo é que conseguem progredir na vida.
Mateus fitou o pai interrogativamente e em seguida olhou para o pião que ainda rodava, rodava, rodava, sem parar.
Ficou calado, pensando...
Entendera a lição.
No dia seguinte, para surpresa de sua mãe, ninguém precisou chamá-lo para ir à escola. Quando ela levantou, Mateus já estava pronto.
Tomou o café da manhã sem dizer nada, e saiu para as aulas.
A partir desse dia, Mateus começou a dedicar-se aos estudos. Fazia os deveres de casa e depois ainda pegava um livro para ler. E, ainda assim, sobrava muito tempo para brincar e se divertir.
Nunca mais se esqueceu da lição do pião e, quando alguém não queria estudar, ele alertava:
– Quer ser como um pião, rodando em torno de si mesmo sem nunca sair do lugar?
Tia Célia
O coelhinho preguiçoso
Rogério era um coelhinho de família boa e preocupada com sua educação.
Morava num sítio muito bonito, pertinho da cidade, com muitos outros animais.
Percebendo que Rogério não gostava de trabalhar, a mamãe Coelha o orientava dizendo:
— Meu filho, nessa vida todos temos que ser úteis de alguma forma. Todos nós precisamos realizar alguma tarefa. Deus não nos concedeu a vida para que sejamos um peso para a natureza.
Mas o coelhinho fugia a todo esforço nobre.
Certo dia ele saiu de casa contrariado porque a mãe lhe pediu que a ajudasse nos serviços domésticos varrendo a pequena toca onde moravam.
Andando aos pulos por um caminho, Rogério ia resmungando. Cansado, sentou-se à sombra de uma árvore, à beira de um riozinho.
Preguiçoso, ele suspirou e disse:
— Ah! Gostaria de ser como esse riacho que não faz nada!
Para sua surpresa, ouviu uma voz que lhe dizia:
— Puro engano. Trabalho bastante. Transporto com muito cuidado a água que irá beneficiar as plantações e que será usada pelas criaturas humanas nos mais diversos serviços, e as aves e animais vêm até mim para saciar a sede. Além disso, sirvo de morada para muitos peixes.
Assustado, Rogério pensou um pouco e, contemplando uma vaca malhada que ruminava no pasto, ali perto, considerou:
— Bem, então eu gostaria de ser como aquela vaca que passa o tempo todo sem fazer nada. Só come e dorme.
A vaca, que ouvira as palavras do coelhinho, encostou-se na cerca e mugiu:
— Múuuuu... múuuuu.... Como não faço nada? Forneço o leite todas as manhãs. Sem contar que, muitas vezes, têm irmãs nossas que dão até a vida para que os homens possam se alimentar.
Decepcionado pela reação do animal, o coelhinho olhou em torno procurando alguém que não fizesse absolutamente nada.
A árvore, que se conservara calada até aquele instante, entrou na conversa:
— Não lhe para mim! Também trabalho. Dou flores e frutos que servem de alimento. Agasalho pássaros, pequenos animais e insetos em meus galhos fortes. Além disso, todos gostam de descansar à minha sombra acolhedora. Como você, por exemplo!
O carneiro, que se aproximara para participar da conversa, esclareceu que fornecia a lã para fazer agasalhos; a galinha, que ciscava ali perto, afirmou que entregava seus ovos para alimentação e, até uma aranha que tecia sua rede num galho, tinha uma tarefa:
— Se não fosse por mim, que me alimento das moscas e pequenos insetos que existem no ar, sua vida seria impossível! — afirmou orgulhosa.
O coelhinho estava muito envergonhado. Só ele não gostava de fazer nada.
Pensativo, Rogério voltou para casa.
Encontrou a mamãe atarefada em arranjar alimento para a família. Sem dizer nada, pegou a vassoura e pôs-se a trabalhar.
Tia Célia
O esquilo ambicioso 16/08/17
Certa vez um esquilo encontrou um buraco existente no tronco de uma árvore grande e forte.
Era o abrigo ideal para o pequeno esquilo viver. Muito satisfeito da vida, mudou-se para lá.
A árvore passou a protegê-lo do vento, da chuva, do frio e dos animais selvagens, que sempre representavam um perigo.
Contente, o esquilo passou a pensar em arrumar sua casa. Como a considerasse muito pequena, desejou aumentá-la.
Com seus dentes fortes e afiados, começou a roer as paredes para aumentar sua casa. Sonhava em ter uma família e precisaria de espaço para a esposa e os filhinhos que viriam.
Assim, ele aumentou o buraco fazendo mais um quarto, uma sala onde pudessem comer e um depósito para guardar as nozes que encontrasse. O inverno costumava ser rigoroso e era preciso armazenar o alimento de modo a não passarem fome.
O esquilo arrumou sua casa com muito amor, enfeitando e limpando para esperar a chegada da família.
Como não estava satisfeito com o que tinha, desejando sempre mais, foi aumentando a casa e fazendo novos cômodos.
Os outros moradores da árvore, passarinhos, insetos e pequenos animais, reclamaram:
— Esquilo, você está destruindo a nossa casa! A nossa amiga árvore está ficando fraca.
Ao que ele retrucava, indiferente:
— Vocês estão enganados. A árvore é forte e tem raízes robustas.
Certo dia, já no início do inverno, ele tinha saído para arrumar comida e demorou algumas horas. Ao voltar, teve uma grande surpresa. Olhou de longe para admirar a sua linda casa e estranhou:
— Onde está a minha casa, a árvore frondosa e amiga?...
Assustado, não podia acreditar no que seus olhos viam: A árvore, que era tão forte, tão firme, estava caída no chão!
Como desabara daquele jeito?
Tentando encontrar a razão daquele desastre, o esquilo chegou mais perto para ver o que havia acontecido, e notou que ele, sem perceber, havia-lhe roído as raízes, fazendo com que elas perdessem a força, com o imenso buraco que se fizera dentro do tronco da árvore.
O esquilo percebeu então, tarde demais, que ele próprio havia sido o responsável pela queda da árvore. Que, na sua ambição desmedida, havia destruído as condições da moradia que o Senhor concedera, não apenas a ele, mas também a todos os outros seres que a habitavam.
Bastaria que se tivesse contentado com o pouco que lhe tinha sido dado, para que ele pudesse ali viver longos anos em paz e segurança. Contudo, o desejo de ter sempre mais, fizera com que destruísse seu lar e o lar dos passarinhos, dos pequenos animais e dos insetos que ali viviam.
Agora, decepcionado e triste, o esquilo lamentava o erro que cometera. Estavam no início do inverno e era preciso procurar outro abrigo, se não quisesse ficar ao relento e exposto às intempéries.
Porém, ele tinha confiança em Deus. Sabia que, como havia encontrado aquele buraco, encontraria outro. Era preciso não desanimar e aprender com os próprios erros.
Então, humildemente, ele dirigiu-se aos companheiros de infortúnio que ali estavam, tristes, e lhes disse:
— Peço-lhes perdão. Cometi um grande erro e agora todos nós estamos sem um lar. Mas, não podemos desanimar. Prometo-lhes que encontraremos uma outra árvore para morar. Confiem em Deus!
As aves, os animaizinhos e os insetos ficaram mais animados, sentindo uma nova esperança brotar em seus corações.
E o esquilo, daquele dia em diante, nunca mais cometeria o mesmo erro, aceitando e adaptando-se às condições de vida que Deus lhe oferecesse.
Tia Célia
Xiiii, esqueci!
Alvinho era um menino que nunca terminava o que tinha começado a fazer. Deixava tudo pela metade.
Era um horror! De manhã, ia escovar os dentes e deixava a pasta dental sem a tampa. Saía do banho e a torneira do chuveiro ficava pingando. Na hora de se vestir, abria a porta do armário ou uma gaveta, e não fechava. Abria a geladeira para pegar alguma coisa e deixava a porta aberta. Sentava para fazer os deveres da escola e esquecia os livros e cadernos em cima da mesa.
Assim, suas roupas estavam sempre desarrumadas, os brinquedos fora do lugar, os patins no meio da sala, a pasta dental sem tampa e assim por diante.
A mãe tentava ensiná-lo a ser mais ordeiro, colocando cada coisa em seu lugar, mas qual nada! Alvinho continuava do mesmo jeito. Sua resposta era sempre a mesma:
— Xiiii, esqueci!
Um dia a mãe de Alvinho resolveu dar-lhe uma lição.
Logo cedo, quando o menino foi vestir o uniforme para ir à escola viu que estava amassado. Ele reclamou:
— Mãêêêê!... Olha como está meu uniforme! Todo amassado!
A mãe respondeu:
— Esqueci de passar! Você vai ter que ir com ele assim mesmo, meu filho.
E lá se foi o Alvinho com a roupa amassada para a escola.
Mais tarde, quando ele voltou, sentou-se para almoçar. Estava com muita fome!
Ao abrir a panela de arroz para servir-se, viu que estava ainda cheia de água e os grãos, duros.
— Mãe! O que aconteceu? O arroz está horrível!
E a mãe respondeu, fingindo-se surpresa:
— Xiiii! Esqueci de acender o fogo! Espera um pouco, meu filho, que vou acabar de preparar o arroz.
E assim foi o resto do dia. A cama estava arrumada pela metade, o banheiro todo molhado, o bolo meio cru, e até roupa suja Alvinho encontrou no guarda-roupa.
A resposta era sempre a mesma. A mãe dizia que tinha esquecido.
No final do dia, não agüentando mais, Alvinho reclamou:
— O que aconteceu hoje, mamãe? A casa está de pernas para o ar, e a senhora está muito esquecida. Assim não dá!
Ao ouvir a reclamação do filho, a senhora respondeu:
— Não sei do que você se queixa, Alvinho! Fiz exatamente o que você faz todos os dias! Esquece o que está fazendo e deixa tudo pela metade.
Compreendendo que a mãe tinha razão, Alvinho aceitou a lição e prometeu a si mesmo ter mais cuidado com suas atitudes dali por diante.
Reconheceu quanta paciência sua família tivera com ele durante todo o tempo, quando ele não conseguira agüentar aquela situação um só dia!
A partir dessa data, Alvinho tornou-se um garoto mais atento e organizado, com suas próprias coisas e com as coisas da casa, de uso de toda a família.
Tia Célia
Trabalhar com alegria - 25/10/17
José Antonio era o seu nome. Mas todos o chamavam de Zequinha.
Zequinha, que logo completaria oito anos, era um menino bom, porém tinha um hábito muito feio: não conseguia fazer nada sem reclamar.
A mãe, com muita paciência, tentava fazer com que o filho entendesse a necessidade de modificar seu comportamento, sem grande resultado.
Como eram espíritas, Os pais se preocupavam com as atitudes de Zequinha, percebendo que, se continuasse assim, teria muitos problemas no futuro.
Um dia, a mãe lhe disse:
— Zequinha, sei que você gosta de brincar, o que é natural, pois é uma criança. Porém, todos nós precisamos colaborar, dando a nossa contribuição para o bem-estar da família. Jesus fica triste quando não estamos satisfeitos, pois na existência temos muito a agradecer a Deus, nosso Pai. Nada nos falta. Por isso, é preciso manter o otimismo e a alegria de viver nas atividades de cada dia, meu filho.
— Entendeu, meu filho?
— Entendi, mamãe.
O menino prometeu que procuraria ser diferente daquele dia em diante.
No dia seguinte, depois que Zequinha voltou da escola, a mãe deu-lhe uma tarefa: comprar sabão no supermercado da esquina, pois havia terminado. O garoto saiu resmungando.
Depois, a mãezinha pediu-lhe que arrumasse a mesa para o almoço. De má vontade, Zequinha obedeceu.
Não podendo sair, a mãe pediu-lhe o favor de levar o irmão menor para a escola. Mais tarde, deu-lhe a incumbência de enxugar a louça e varrer o quintal. Sempre reclamando, Zequinha obedeceu.
À noite, na hora do Evangelho no Lar, a mãe perguntou se Zequinha tinha cumprido todas as suas obrigações daquele dia.
— Sim, mamãe. Fiz tudo o que a senhora mandou. Jesus deve estar contente comigo hoje.
A senhora balançou a cabeça, afirmando:
— Não, meu filho. Ainda falta alguma coisa.
Zequinha pensou... pensou... pensou... mas não conseguiu descobrir o que era que tinha deixado de fazer.
— Ora, mamãe, a senhora deve estar enganada. Executei todas as tarefas que me foram pedidas.
E, contando nos dedos, relacionou todas as atividades do dia:
— Fui à escola, ao supermercado, arrumei a mesa para o almoço, levei meu irmãozinho para a pré-escola, varri o quintal e enxuguei a louça. Puxa! Trabalhei o dia inteiro! — reclamou o menino, descontente.
— Mas ainda falta uma coisa, meu filho.
— Qual, mamãe?
— Se você fez tudo o que lhe foi pedido, ainda falta ter executado as tarefas com alegria.
Somente então Zequinha lembrou-se do que havia prometido no dia anterior.
Abaixou a cabeça, reconhecendo que a mãe tinha razão.
Com ternura, ela acariciou seus cabelos, e disse:
— Não tem importância, meu filho. Amanhã será um outro dia. Deus nos concederá novas oportunidades para que possamos nos corrigir, praticando o que aprendemos.
Tia Célia
Célia Xavier Camargo
Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita