VALORES
As luzes do caminho
Quando você tiver alguma dúvida,
não pense em consultar um manual de procedimentos,
e sim em consultar seu coração,
sua consciência, e saberá como agir pautado
em suas crenças, em seus valores.
Louis Gerstner
Uma vez definida sua missão e elaborada a perspectiva da sua visão, você precisa
colocá-las em prática. Mas, para isso, é necessário também que você defina quais serão
os valores que vão orientá-lo na realização de sua missão. Pois ao longo do processo
são os valores que servirão de balizadores para demonstrar constantemente se você está
no caminho certo.
Você está o tempo todo criando a si mesmo. Todo momento é um convite para que
você decida quem é. E essas decisões que denem quem somos dependem de nossas
escolhas, e nossas escolhas são influenciadas pelos valores que praticamos.
Essa questão dos valores é tão importante que eu gostaria de comentar uma
experiência que tive em 2004. Nesse ano, fui convidado a fazer duas palestras no Japão
e realizei o sonho de conhecer o país, cuja cultura sempre respeitei e admirei muito.
Justamente no mês em que eu estava lá, foi divulgado que o Japão batera um recorde
o qual, tenho certeza, eles jamais gostariam de ter batido: o número de suicídios – mais
de 33 mil pessoas tinham posto fim à própria vida.
No Japão, a média nacional é de um suicídio a cada 20 minutos. De acordo com a
Organização Mundial da Saúde, nas piores épocas, o tempo entre uma morte e outra cai
para até 15 minutos. Em um primeiro instante quei estarrecido, mas depois o fato
despertou minha curiosidade. Queria entender o porquê daquele número tão
assustador. Ao final da viagem, encontrei uma resposta ainda mais surpreendente.
A cultura japonesa funciona da seguinte forma: você precisa primeiro pensar na
sociedade, depois na família e, por último, em você. Ou seja, se estiver com algum
problema, não poderá demonstrá-lo à sociedade, pois todos irão se afastar de você e
isolá-lo. Se falar com a família, será tachado de fraco e desprezível. Nessa hora,
sentindo-se sozinho, sem ninguém com quem compartilhar um problema, a pessoa
pode car tão fragilizada e envergonhada que prefere abrir mão da própria vida a expor
o que considera um fracasso.
Não se trata, é claro, de dizer que esse jeito de encarar a vida é certo ou errado, mas
apenas de demonstrar como os valores mudam de uma cultura para outra e como isso
altera os efeitos que eles produzem na vida individual e coletiva.
Graças a Deus, no Brasil é diferente. Há aqui uma inversão desses valores que, de
certa forma, é positiva. Pensamos primeiro em nós, depois na família e, por último, na
sociedade. O fato de termos problemas não nos causa vergonha nem vemos isso como
sinal de fraqueza. Temos por formação cultural a tendência de compreender que as
diculdades fazem parte da vida, talvez porque vivemos em um país com tantas
questões ainda por resolver. Ao contrário de nos enfraquecer, temos a crença de que os
problemas e mesmo uma derrota nos tornam emocionalmente mais capacitados e
fortes.
Mas, em compensação, quando o individualismo é extremado, acabamos perdendo
nossa vida em outro sentido. Ficamos tão preocupados com nosso sucesso que muitas
vezes não enxergamos outras pessoas, às vezes na nossa família, que estão precisando
de nós, de uma ajuda, de uma palavra. E se pensarmos em termos de sociedade, esse
egocentrismo se torna quase uma doença, porque muitos de nós simplesmente se
negam a encarar as necessidades e carências dos outros.
É muito comum, quando falo de valores, as pessoas me perguntarem: quais são os
valores que preciso seguir? Quais são os verdadeiros signicados de cada um? Como
posso aplicá-los no dia a dia?
Existem valores que são universais, como igualdade, liberdade, fraternidade. Dizer
que são universais deveria signicar que valem em todas as culturas, em todos os
tempos, independentemente de raça, cor, religião etc. Sabemos, no entanto, que
infelizmente nem sempre esses valores são praticados e respeitados em sua plenitude.
Mas, além dos valores universais, construímos nossos valores primários, o que
geralmente ocorre até os 7 anos. É nessa fase da vida e nesse ambiente familiar que
absorvemos, primeiro pela imitação e depois pela ação propriamente dita, os valores
que carregaremos pela vida à frente. Toda pessoa forma seus valores orientada pelos
princípios que estão relacionados a sua cultura, religião ou à época em que vivem.
Seja como ou onde for, esses valores são aqueles ensinamentos que seu pai, sua mãe,
seus avós, sua família, seus professores ou líderes religiosos lhe passaram.
Quando você era pequeno, provavelmente alguém lhe dizia: “Na nossa família um
membro respeita o outro, e ponto final.” Ou: “Nesta casa, dividimos o pão entre nós e
com quem mais precisar, e é assim que vai ser sempre.” O que estava sendo plantado aí
é a raiz do respeito e da generosidade, valores que provavelmente você pratica na vida
adulta.
Quando vou contratar um profissional, além de querer saber suas competências e
analisar seu perfil, faço diversas perguntas sobre outros contextos. O objetivo é
conhecer os valores desse candidato. Se forem contrários aos meus ou aos da empresa,
não será possível trabalharmos juntos, pois nossos valores influenciam nossas ações.
Nossas decisões e atitudes são sempre baseadas em nossos valores.
Os valores funcionam como indicadores para nortear o caminho, definem nossa
conduta. Eles são como aquelas luzes que direcionam o piloto na pista do aeroporto,
que mostram por onde ele tem de ir para pousar com segurança e assim chegar a seu
destino.
Por isso, gostaria de convidar você a refletir sobre alguns valores que podem ajudálo
a realizar sua missão. Não estou querendo que adote os valores nos quais eu
acredito, mas que pelo menos reflita sobre eles e avalie de que forma contribuiriam
para que encontre seu propósito de vida.
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