O Materialismo Não é o Vilão
O materialismo tem um grande poder de seduzir indivíduos e aprisionar mentes em suas ilusórias ofertas de sucesso e poder. Ele nos convida a olhar pela janela de nossa casa desejando estar em uma vizinhança mais bonita, nos faz olhar para o espelho buscando encontrar pontos que podem ser trabalhados para nos tornarmos mais atraentes e desejáveis. Concentra seu magnetismo em nossa pouca aceitação da realidade e amplifica em nós a sensação de constante fracasso ou de proximidade com a vitória, em outras palavras, nos convence de que com alguns pequenos ajustes finalmente seremos quem merecemos ou queremos ser.
O materialismo, assim como qualquer ideologia ou filosofia, não tem culpa de nada, pois apenas transita livremente pelas ideias
permitindo-se ser acolhido por quem “cair em sua lábia”, é efeito e não
causa. A causa, para este e qualquer outro mal que alivia a
curto prazo e escraviza pela constância, está no desamor, mais precisamente no
autodesamor. Muitas vezes fazemos de tudo para dominarmos as
metrópoles, para sermos queridos, reconhecidos, citados e admirados em meio a
tantos rostos anônimos, pois sabemos que quanto maior o nosso valor, maior será
o nosso salário. Somos convencidos pelo nosso ego de que a felicidade está em
morar na cobertura do prédio mais alto e mais caro, mas no primeiro feriado
fazemos as malas para relaxarmos em uma praia, serra, cachoeira ou sítio. Lutamos insistentemente a favor e pela matéria quando nossa própria
conduta mostra que a cura, a paz e a tranquilidade estão no contato com a
natureza virgem, autônoma e independente.
Dizem que sem as trevas não daríamos valor à luz e
seguindo essa lógica devemos ser gratos ao materialismo por nos ensinar o valor
do orgânico, do natural e do gratuito. De nada adianta ficar na fila Premium, Platinum ou Gold para embarcar primeiro em um avião se o mesmo não
partirá antes que todos estejam devidamente sentados. Assim também é a vida, o mesmo oceano que banha o milionário acolhe também o miserável.
Não há problema em ser rico ou pobre, em ser famoso ou anônimo, pois o que
define o nosso estado mental são os valores internos que trazemos, as memórias e aprendizados que nos construíram para a felicidade ou
infelicidade.
Nossa única e verdadeira luta é a que travamos
contra nossos próprios medos e ilusões que nos dizem
para vivermos em guarda, empunhando
espadas cravejadas de diamantes que servem apenas como bengalas para corredores
que se imaginam mancos. Não se
trata de abrir mão de tudo ou de conquistar tudo, mas sim de abrir-se para si, vivendo aquilo que lhe faz bem apesar das
críticas.
O indivíduo que consegue ser feliz na alegria e na tristeza, que
sente-se amado na graça e na desgraça jamais sente urgência de buscar algo,
pois encontra tudo o que precisa no local em que está.
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