Falando de sentimentos
Raiva, ciúme, ódio e inveja fazem parte da natureza do homem.
Psicóloga recomenda não reprimir e sim conversar sobre o assunto.
Falar de sentimentos não é coisa simples. Quando eles se referem àqueles considerados negativos, como raiva, ciúme, ódio ou inveja, menos ainda. Isso provavelmente se deve a dois fatores:
a moral cristã, que prega que devemos amar uns aos outros a qualquer custo; e a nossa criação, baseada nessa moral, que dificulta o conhecimento de nossos aspectos internos.
Considerando a criação que tivemos e oferecemos aos nossos filhos, há pouco espaço para a expressão das emoções negativas. Caso alguém diga ter inveja, não é visto como boa pessoa.
E se essa expressão for de uma criança, geralmente mais transparente e autêntica em seu modo de ser, parece incomodar ainda mais. Afinal, elas são vistas como puras de coração e incapazes de coisas tão ruins.
As famílias acabam reprimindo o reconhecimento dos sentimentos nos pequenos. Ao dizer, por exemplo, que tem raiva do irmão, os pais rapidamente dizem que não, que de verdade ele o ama. Ter raiva de alguém em algum momento não significa que não haja amor.
Atitudes assim, embora cheias de boas intenções, não ajudam. Algumas crianças se sentem muito mal de terem esses sentimentos, e acabam acreditando que são más. Quando alguém lhes oferece compreensão, dizendo-lhes o quanto isso é natural, sentem-se aliviadas.
Temos de ter em mente que raiva, ciúme, inveja e o tão temido ódio fazem parte da natureza humana (é interessante observar como muitos se surpreendem quando ouvem a palavra ódio). Assim como o amor.
Se pudermos reconhecer os primeiros fazendo parte de nós, podemos confiar na nossa capacidade de amar, sem desconfiar do que sentimos.
Os dois tipos de sentimentos fazem parte do mesmo universo - diz o ditado que o amor e o ódio são o reverso da mesma moeda.
O que não quer dizer colocá-los para fora de qualquer maneira. Pelo contrário. Sentir seja lá o que for é legítimo, bem diferente de expressar-se de qualquer forma.
Ou seja, sentir raiva de alguém é uma coisa possível, mas bater no alvo de sua raiva não. Portanto, a repressão não deve ser para o que sentimos, mas para a ação decorrente.
Espaço para o sentimento
Se criarmos um espaço para reconhecermos e falarmos dos nossos sentimentos, não precisaremos transformá-los em atitudes.
Muitas atitudes que temos impensadamente são decorrência de sentimentos que não foram pensados e reconhecidos por nós.
Não podemos nos esquecer de que, em algum momento e de alguma forma, eles serão colocados para fora. O melhor é que seja em palavras.
E se pudermos falar sobre eles, teremos uma grande chance de dar-lhes um sentido. Ninguém sente raiva à toa. Algo a provocou.
Então, vamos ajudar nossas crianças a olharem sem medo ou culpa para o que sentem. Mas para isso temos que começar a ver esses sentimentos com naturalidade.
Eles fazem parte de nossa natureza e é muito mais fácil mudar nossa visão deles do que mudar a natureza humana.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)
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