segunda-feira, 7 de agosto de 2017

FILHOS: COMO VOCÊ OS VÊ?

FILHOS: COMO VOCÊ OS VÊ?

Dentre algumas coisas que se possa dizer, penso que filhos também são possibilidades oferecidas pelo Pai da eternidade para o dilatamento do amor no nosso coração. Pensar nos filhos apenas como parte de nossa tribo ou como manutenção da linhagem é apenas uma forma pré-histórica de se lidar com os filhos.

É claro que quando eles vem eles afloram em nós um instinto até então desconhecido. Com os filhos “nasce” em nós um instinto de defesa e proteção da prole que pode ser comparado ao que acontece no mundo animal e isso também foi Deus quem nos deu, faz parte da nossa natureza. Mas o que nos faz potencialmente melhor que os animais? Não seria o poder que Ele nos deu de darmos significado as coisas, a vida? Neste sentido filhos são mais que pessoas por quem temos uma responsabilidade social. Filhos são instrumentos pedagógicos que nos ajudam a transcender a comodidade da vida de solteiro, como também os nossos egoísmos; são meios que nos ensinam que não há maior projeto para um ser humano na terra do que amar outros seres humanos que precisam aprender a ser humanos com a gente na mesma medida em que nós aprendemos com eles a sermos seres humanos melhores para eles (os filhos), inclusive, mas também para nós mesmos e para os outros.

É claro que isso não é uma percepção de todos, nem todos cultivam este olhar, mas penso que ser pai e mãe (biológico ou não) é no mínimo viver essa possibilidade de crescimento.

Ser pai e mãe é ser confrontados em seus próprios limites, é ser desafiados a transpor-los.

Ser pai e mãe é aprender com as decepções que se pode ter consigo mesmos, como também a reagir com bom ânimo em busca de sabedoria e do melhor que se possa extrair da alma.

Ser pai e ser mãe é descobrir coisas novas, é ser descoberto pelo outro, é se descobrir.

Ser pai e ser mãe é ser desafiados todos os dias a responder com fé as demandas e eventualidades que a vida oferece.

É aprender a dividir, a pedir conta de algo, a ensinar, a abraçar com o abraço que, quem sabe, nunca recebeu.

É entender o valor da disciplina na vida, sua e na do outro. É aprender a dizer “não”, é aprender a dizer “sim” ou mesmo a dizer “espere”.

É aprender a ser melhor para oferecer o melhor, mas sem estupros de si mesmo, antes com paciência. O próprio processo natural, leve e compromissado de mudança já é em si algo que trás um potencial de impacto na vida dos que nos observam.

Ser pai e mãe é aprender a redesenhar o caráter, os modos, os pensamentos, motivados pelo desejo, em amor, de servir aqueles que de nós precisam de forma direta.

Ser pai e mãe é aprender o valor da impotência diante da vida e seus sustos e com isso aprender e ensinar aos filhos que não há maneira melhor de se lidar com as nossas impossibilidades senão entregando-se todos os dias nas mãos do Eterno.

Sou de uma época em que não tínhamos celular ou outra forma de comunicação que nos “oferecesse” a falsa sensação de segurança que hoje temos. Eu era despedido por meus pais (para qualquer lugar que eu fosse) sempre com um “Deus te abençoe e te proteja meu filho” e um “tome cuidado!” – fé e responsabilidade própria eram a nossa melhor segurança naquele tempo.

Nessa era do culto a tecnologia, da informação na palma da mão, das facilitações aleijantes e do aceleramento de processos que só reforçam a ansiedade, os distanciamentos relacionais e a desestruturação mental/emocional, aprender a crer, esperar e suportar conforme o aprendizado do amor de Deus em nós – no contexto das nossas relações consigo mesmos e com o outro – pode curar a nossa alma das nossas doenças e nos livrar dos processos de idiotização neste tempo presente.

Ser pai e mãe é aprender a passar esses valores da vida.

Ser pai e mãe é ser mais generoso, compassivo, perdoador. É aprender que a verdadeira autoridade reside no amor e que sendo assim ele pode e deve disciplinar, tirar, repreender e até exigir, se for o caso. Na lógica do amor a disciplina é instrumento essencial para o bem dos filhos e tal disciplina consiste em ações que promovam toda sorte de benefício para a saúde da alma e forjamento do caráter do outro. Nisso cabe o carinho, o diálogo, a brincadeira e os limites. Disciplina é tudo isso – palavra que vem da mesma raiz da palavra “discípulo”.

Felizes são os pais e mães que não se deixam ser reféns do medo de assumirem seus papéis e missão. Felizes são os que não se tornam reféns dos caprichos infantis dos filhos. Felizes os que não se dobram a tirania das ideologias doentias do nosso tempo. Felizes os que não transferem a responsabilidade de educar os filhos à escola, à igreja, aos meios de comunicação ou a qualquer outra coisa. Felizes os que não se furtam em dizer “não”, “perdão” ou “eu te amo”. Felizes os que não encaram a experiência de ter filhos um peso ou castigo.

O mundo precisa, mais que genitores, de pais e mães que defendam seus filhos dos abusos do mundo e de si mesmos, que os motivem em vez de os adularem, que os libertem de sentimentos dolorosos por meio de uma relação franca e acolhedora e que não projetem sobre eles as suas frustrações, sejam frustrações profissionais, políticas, religiosas, familiares ou de qualquer outra natureza.

Uma pena que vivamos num mundo tão doente, de crianças e adolescentes tão enfermos de alma. Talvez porque os pais estejam tão ausentes na vida dos seus filhos… E porque será que os pais – falo aos ausentes – estão tão distantes dos seus filhos?

Responder essa pergunta pode custar uma análise psicológica (acho uma boa ideia que pais e mães busquem apoio psicológico para, dentre algumas coisas, buscarem desenvolver uma melhor relação com seus filhos), mas uma coisa podemos pontuar, que tudo isso passa muito também pela maneira como se vê os filhos e a nós mesmos na vida deles.

Sinceramente, você já parou pra pensar nisso?

Samuel Andrade



VEJO MEU FILHO E SOBRINHOS VIVENDO OS SEUS MOMENTO. SENDO O QUE SÃO CRIANÇAS














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