Usar óculos escuros de má qualidade é pior que deixar olhos expostos ao sol
Usar óculos de sol de baixa qualidade é pior do que expor os olhos ao sol sem proteção alguma, alertam oftalmologistas. As lentes escurecidas fazem com que a pupila se dilate, em vez de se encolher diante da claridade, o que aumenta a penetração dos raios solares. A longo prazo, a radiação aumenta o risco de catarata e degeneração macular.
Comprar um produto com proteção garantida contra raios UVA e UVB nem sempre é fácil, já que o mercado de óculos piratas ou contrabandeados representa 40% das vendas no setor. E a culpa não é só dos camelôs: 58% dos comerciantes ouvidos em uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira da Indústria Óptica (Abióptica) confirmam que existe ilegalidade entre as lojas.
Se os óculos forem baratos demais, é bom desconfiar. Bento Alcoforado, presidente da Abióptica, dá uma ideia de valores mínimos para uma compra: “Para garantir a competitividade com o produto fabricado no Brasil, a lei exige que nenhum óculos pode ser importado por menos de US$ 4,5”, explica. Com o custo de internalização, que inclui impostos e transporte, o preço dobra, segundo ele. “Para ter o mínimo de lucro, o distribuidor tem que vender pelo dobro, o que já representam quase R$ 36. E se o óculos é adquirido em uma loja, e não direto do distribuidor, vai custar minimamente R$ 70”, resume Alcoforado.
Como o preço mínimo de importação é determinado a partir dos parâmetros da indústria nacional, um produto local com o mínimo de qualidade também não deve sair por menos, segundo ele.
Como preço alto nem sempre é garantia de qualidade, o ideal é seguir as dicas dos médicos. Em primeiro lugar, é preciso exigir a certificação NBR ISO 15111 e adquirir o produto em óticas idôneas. Algumas delas têm o aparelho que mede a proteção UV, chamado espectofotômetro. “Mas o teste tem de ser realizado com critérios e muitas vezes pode dar falso positivo ou negativo”, avisa o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Rio de Janeiro. Na dúvida, leve o óculos para o seu especialista, que geralmente tem o equipamento no consultório.
Acha que é trabalho demais para comprar um simples óculos de sol? Então apele para chapéus e viseiras. Como ressalta Queiroz Neto, em entrevista ao UOL Ciência e Saúde, os casos de catarata crescem 20% ao ano no Brasil e a doença responde por quase metade dos casos de cegueira no mundo, segundo a OMS. O médico também lembra que óculos de grau, com lentes transparentes, também devem ter algum nível de proteção UV, para proteger os olhos de luzes fluorescentes e da tela do computador.
Veja outras informações sobre como proteger seus olhos no verão:
Quais os riscos associados à exposição ao sol sem proteção adequada?
Leôncio Queiroz Neto: Alguns problemas podem ser sentidos imediatamente, como é o caso da queimadura das pálpebras, que a longo prazo eleva o risco de contrair câncer de pele na região. Outra alteração imediata é a fotoceratite, uma inflamação da córnea por queimadura de primeiro grau que geralmente ocorre após 6 horas ininterruptas de exposição dos olhos ao sol sem proteção. Os sintomas são olhos vermelhos e ressecados, com sensação de areia, corpo estranho. O problema é que a fotoceratite não é levada a sério por muitas pessoas porque depois de 48 de afastamento do sol os sintomas desaparecem. Alguns se automedicam, o que é condenával. A falta de sintomas não significa que o problema foi resolvido. A inflamação provoca o desprendimento de células do epitélio (camada externa da córnea) e, após repetições, pode repercutir negativamente na acuidade visual.
E quais os efeitos a longo prazo?
Os principais problemas oculares decorrentes do efeito cumulativo da radiação ultravioleta emitida pelo sol e que, portanto, só são sentidos a longo prazo, são: pterígio, catarata senil e degeneração macular. O pterígio é uma forma de defesa contra o ressecamento provocado pela radiação UV em que há o espessamento da conjuntiva, membrana que cobre a parte branca do globo ocular e a superfície interna das pálpebras. A catarata senil é a opacificação do cristalino decorrente do envelhecimento ocular e a falta de proteção aumenta em 60% a chance de o problema surgir precocemente. A doença responde por 48% dos casos de cegueira no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No Brasil, a estimativa é de que a doença cresce 20% ao ano. Hoje, são diagnosticados anualmente 120 mil novos casos. A degeneração da retina é a maior causa de cegueira irreversível e pode estar relacionada à radiação solar, que provoca a oxidação das células. A doença costuma ocorrer após os 65 anos de idade.
Qual o óculos de sol mais adequado? Ele necessariamente é mais caro?
Os óculos de sol devem ter lentes com 100% de proteção UV. São mais caros que os vendidos no mercado paralelo porque as lentes passam por controle de qualidade e recebem resinas incolores e/ou tonalizantes que, além da radiação UV, absorvem parte da luz azul que também provocaria catarata e degeneração macular mais precocemente.
Como um leigo pode garantir que o óculos comprado seja de qualidade?
A forma mais segura de garantir a qualidade das lentes é verificar se têm a certificação NBR ISO 15111. O espectofotômetro [que mede o grau de proteção], existe em alguns consultórios médicos. Algumas óticas também tem, mas o teste tem de ser realizado com critérios e muitas vezes pode dar falso positivo ou negativo.
Usar um óculos ruim é pior do que não usar nada?
Lentes sem proteção são piores do que a falta de óculos de sol. Isso porque o escurecimento provoca a dilatação da pupila, como se estivéssemos em um ambiente mais escuro, e permite a penetração de uma maior quantidade de radiação nos olhos, que levam a danos no cristalino e a retina.
Óculos grandes, como esses que estão na moda, protegem mais?
Protegem, pois criam uma barreira física que evita a degeneração da pele. Não podemos nos esquecer que as pálpebras são mecanismos de defesa aos olhos, e elas podem ser alvo de cancêr de pele.
Qual a função de cada cor de lente disponível? Para o dia a dia, qual a cor mais indicada?
Bons óculos escuros ajustam a quantidade de luz que chega aos olhos sem alterar a visibilidade. Para o dia a dia, as melhores cores são: âmbar, marrom e cinza, que permitem boa visão de contraste e profundidade, além de reduzirem reflexos. Para dirigir em dias nublados, lentes cinza são as ideais por permitirem melhor visão de contraste. Para surfistas e outros esportes aquáticos, as lentes rosa e púrpura melhoram a visão de contraste em fundos verdes ou azuis. No entardecer, lentes amarelas reduzem o ofuscamento de motoristas provocados pela luz dos faróis. As lentes podem filtrar parcialmente a radiação UV, mas o ideal é que tenham o filtro UV, uma película incolor aplicada a qualquer lente, até mesmo as incolores dos óculos de grau.
O uso de filtro solar na região dos olhos pode causar problemas?
No verão, o filtro solar químico é o maior vilão da conjuntivite alérgica. A doença é mais comum em quem já tem predisposição a quadros de alergia, como asma, bronquite, dermatite tópica, entre outras. Quanto mais alto o FPS (Fator de Proteção Solar), maior é o risco, porque o número de componentes é maior, bem como a concentração. A forma mais segura de proteger simultaneamente a pele e a visão é usar filtros solares físicos, que refletem a radiação, em vez de filtros químicos, que a absorvem. A dica é verificar se a fórmula contém somente óxido de zinco e dióxido de titânio, que caracterizam o bloqueador físico. Como têm PH neutro, dificilmente provocam irritações oculares.