segunda-feira, 12 de agosto de 2019

TEXTO DE RAUL TEIXEIRA -





Incontestavelmente, a educação é fundamental para a nossa vida no mundo.

Quase sempre nos referimos à educação de uma maneira muito subjetiva, como se educação fosse algo por demais transcendente.

Nada obstante, temos que nos dar conta de que podemos distribuir a educação em vários compartimentos.

Tudo aquilo que represente uma modificação nos nossos hábitos, nas nossas posturas, na nossa cultura, tudo aquilo que nos renova de alguma maneira, chamamos de educação.

Educar, sem dúvida, é a arte de moldar o caráter, de forjar o caráter, de construí-lo. E, dessa maneira, educação tem mil faces.

Podemos nos dizer pessoas educadas, quando sabemos conversar, deixarmos que o outro fale, esperarmos a nossa vez, sem interditar, sem interromper, sem gritar, sem esbravejar, sem desejar que a nossa palavra seja a última e definitiva. Isso representará uma educação dialogal. Sabemos dialogar.

Diálogo será sempre conversa de dois ou mais.

Poderemos ter a educação linguística quando conseguimos falar na nossa língua sem cometer desatinos linguísticos, sem incidirmos em tantas falhas que enfeiem o nosso idioma.

Porque mudamos de comportamento ao falar, obviamente isso será uma educação e aí temos a educação envolvida com outro elemento bastante especial, que é a instrução.

A instrução se refere sempre ao acúmulo de valores que a alma vai fazendo, que a mente vai fazendo, que o indivíduo vai realizando.

Todas as vezes que trabalhamos elementos de aprendizagem, estamos na faixa da instrução.

Eu preciso aprender determinadas palavras. Preciso aprender a tocar um instrumento. Preciso aprender a cozinhar determinado prato.

Preciso aprender...

Se eu preciso aprender trazendo coisas de fora para dentro, naturalmente esse aprendizado se refere à instrução.

Obviamente, se eu preciso aprender determinada coisa, é para que essa coisa aprendida interfira no meu modo de ser, no meu caráter, na minha relação social, na vivência comigo mesmo e na vivência com os outros.

É por isso que é tão importante a educação.

Poderemos ter alguém que instrua, sem nenhum objetivo educacional, mas será impossível que alguém eduque, sem contar com a instrução. Porque a educação é o manejo que se faz da instrução, aquilo que nós sabemos de que modo utilizamos.

Por isso nos referimos à fala, conversa. Sabemos falar.

 Mas como é que eu falo? Como é que eu me relaciono com as pessoas ao falar?

E a voz nos foi dada por Deus, para que pudéssemos viver em sociedade. Para que fosse um elemento relacional entre nós.

Dessa forma, educar é algo fundamental para a nossa vida na Terra.

Nesse campo educativo, vale a pena não nos esqueçamos, da questão instrucional.

É importante que nossas crianças vão à escola, mas não apenas para terem conhecimentos na mente. Não apenas para desenvolver o cérebro, mas para que esses conhecimentos por elas adquiridos, possam transformar-lhes a vida.

Toda criança, todo menino, todo jovem bem educado transforma-se e em torno de si, transforma tudo que faz. Ele sabe dizer sim, ele sabe dizer não e entende porque deve dizer sim e porque deve dizer não.

Dessa maneira, não deveremos perder de vista a importância, a grandeza de mandarmos nossa criança à escola. Não para que ela seja sabichona, mas para que seja uma pessoa do bem.


É fácil encontrarmos alguém instruído agindo mal mas, se essa criatura não tem instrução, terá muito mais facilidade de agir no mal por não entender as razões do bem.

Desse modo, nos desenvolvemos moralmente, quando somos capazes de distinguir o que é bem do que é mal, quando temos essa habilidade de fazer boas escolhas na vida, de saber o que é fundamental para que sejamos felizes e que levemos outras pessoas à mesma felicidade.

*   *   *

O pensador David Premack escreveu que o Homo sapiens é o único primata que conseguiu desenvolver um sistema pedagógico ativo.

Conseguiu construir uma pedagogia ativa.

Por causa disso, entendendo a pedagogia como essa arte de saber o que se deve ensinar, a quem, o nível daquilo que deveremos passar para alguém, considerando os níveis intelectuais, os níveis gerais de desenvolvimento desse alguém, obviamente que essa é uma construção do primata humano, do Homo sapiens.

Então, essa fala do notável Premack nos leva a refletir a respeito da importância de usarmos de uma boa pedagogia para ensinar as coisas que precisamos ensinar. Cada vez que temos diante nós uma criança, a primeira pergunta que nos fazemos é: O que ensinar para esta criança?  O que repassar-lhe?

Quando nos fazemos tal tipo de pergunta, temos uma resposta que foi dada pelo Espírito Santo Agostinho, nas páginas de O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando ele nos chama a observar nossa criança desde o berço, a fim de que possamos captar-lhe as inclinações.

A criança nos mostra como ela é e quem ela é, nas suas mínimas expressões, desde o berço.

O Benfeitor espiritual nos chama a analisar o comportamento do bebê. Como é que ele chora, como é que ele anuncia estar com fome, como é que ele anuncia estar desconfortável, com as roupas molhadas...

Pela maneira como ele se manifesta, os pais, os adultos já poderão observar como será a índole dessa criança.

Quando vamos identificando como é a criança teremos possibilidade de elaborar um projeto educacional para essa criança. E cada criança é diferente da outra.

Enquanto para uma deveremos ensinar as regras da boa convivência com os irmãozinhos ou com os coleguinhas, para outro não precisaremos mais. Mas ensinaremos para o outro a higienização do corpo, os hábitos salutares de banhar-se, de escovar os dentes, de pentear-se.

Começamos a perceber que, se prestarmos atenção nas nossas crianças desde muito novinhas, perceberemos como estabelecer um plano de educação.

O que passar para essa criança? O que passar para aquela outra criança?

Aí temos uma pedagogia ativa, não estamos flutuando em quimeras ou teorizações, estamos agindo em cima de observações práticas.

Na hora em que o professor entrar na sala de aula, no primeiro dia e começar a dar matéria para seu aluno, ele terá perdido um tempo enorme, porque ele não checou, não verificou, não fez uma diagnose de como estão seus alunos em geral, para saber a partir de onde começar, como começar.

É importante verificarmos que uma geração bem educada é capaz de preservar a cultura dos seus ancestrais, a cultura do seu povo, a boa cultura social.

Mas, uma geração mal educada será capaz de destruir rapidamente, todas as conquistas, todas as invenções que as gerações anteriores tenham construído.

Então, ao verificarmos a importância de escolarizar nossa criança, de escolarizar o nosso jovem, teremos em mente que não os escolarizaremos, apenas para que eles sejam indivíduos que tenham conhecimento, mas para que saibam usar esses conhecimentos em prol da vida, em prol das suas vidas, sem dúvida. Mas fundamentalmente, em prol da sociedade na qual nasceram e onde vivem.

Dessa maneira, perceberemos a importância da educação como fator de crescimento espiritual. Como entendemos que educar é a arte de formar o caráter, poderemos formá-lo mal, poderemos formá-lo bom. Diremos que alguém é mal-educado ou que alguém é bem-educado, mas ao educar bem o indivíduo, estaremos pensando no progresso social que começa no progresso individual.



Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 200,
apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em agosto de 2009
A construção do lar
É muito comum fazermos a distinção entre casa e lar.

Costumamos chamar de casa a construção de material, de madeira, de alvenaria, de pedra, seja o que for, enquanto o lar é o que se passa dentro dessa construção. Muitas vezes, nós conseguimos construir a casa, mas não chegamos a formar o lar.

Vivemos dentro dessa casa de formas tão estranhas, que não configuram o lar. O lar é o emocional, é o sentimental, é o racional, é o vivencial. É a interação das pessoas. A casa é o prédio.

Muitas vezes as pessoas dizem: Estou indo pra casa, mas, aborrecidas, porque estão indo para casa e, possivelmente, ao chegarem em casa, não encontrarão o respaldo do lar.

É muito importante verificarmos porque é que o lar nos é importante. Exatamente porque ali se reúnem Espíritos, criaturas, indivíduos procedentes dos mais variados recantos da natureza.

Advindas, essas criaturas, das experiências as mais várias e, ao nos encontrarmos dentro de casa, para formar o lar, teremos obrigatoriamente que trocar essas experiências.

A esposa teve uma criação, uma formação, uma instrução ou deixou de tê-la. O marido outra e, agora, são duas pessoas que vão se reunir, na tentativa de forjar outras pessoas e educá-las, os filhos.

O lar representa esse cadinho, esse campo de provas, onde as diferenças se atritam, onde trocamos aquilo que sabemos com o que o outro sabe.

Desse modo, é muitíssimo importante que construamos o nosso lar em bases de equilíbrio, de entendimento, o que nem sempre é fácil.

Todas as vezes que nos reunimos, pessoas diferentes,  seja no que for, isso nos dá uma certa instabilidade, isso gera uma certa instabilidade.

Há sempre uma diferençazinha entre o esposo e a esposa, entre os pais e os filhos, entre os irmãos.  Por quê?

Porque se a esposa tem um pouco mais de cultura, se o  marido tem um pouco menos, isso deixa um degrau de frustração.

Ele vai fazer de tudo para mostrar que também sabe, quando seria tão fácil admitir que ele ainda não sabe. Poderá aprender. Se a esposa se torna submissa porque seu marido é doutor, seu marido é que sabe, já desbalanceia o lar.

Seria tão normal se ela admitisse que, de fato, ele preparou o que sabe, ele sabe na frente e ela não está proibida de aprender e de saber também. Mas, cada qual respeitando o outro, sem se sentir lesionado, sem se sentir frustrado, sem se sentir diminuído.

No lar, temos ensejo de trocar tudo isto. Verificamos que aquele homem notável, notável médico na sociedade, chega em casa. Ele é carente do que a cozinheira fez, dos carinhos da esposa, dos filhos.

Aquele grandioso engenheiro respeitado na sua empresa, na sociedade, mas quando chega em casa, ele é aquele gatinho carente de carinho, de atenção de   sua esposa, dos seus filhos.

Somos movidos à emoção, a sentimento. O ser humano não é meramente racional, somos sentimentais.

Então, aquele homem que faz pressão na sociedade, o grande político, o grande administrador, quando chega em casa quem manda em tudo é a sua mulher.

Não, nós não vamos. Não, eu não quero. Não, você não vai fazer. Não, você não aceitará. E para que o amor possa vigorar é necessário que nós aprendamos ouvir um ao outro. O lar é assim.

É essa grande panela, é esse grande cadinho, dentro de cuja estrutura todos vamos aprendendo, uns com os outros, oferecendo o melhor que tenhamos e aprendendo o que os outros têm a nos oferecer.

É muitíssimo importante a estrutura do lar. Nada tem a ver com a casa. O lar vem de dentro.

*   *   *

Uma vez que essa estrutura de lar é de dentro da criatura humana, é muito importante que cada elemento do lar se preocupe com o outro e se ocupe também com ele.

Cada vez que pensamos na família que vive nesse lar que estamos abordando, certamente que cabe aos esposos determinados compromissos entre si, para a mantença do lar.

Se eles despautarem desses cuidados, o lar não se sustenta. Para a estrutura do lar é importantíssima a fidelidade, o respeito, a parceria, o acompanhamento, o companheirismo.

Se houver filhos na relação, os cuidados com o encaminhamento dos filhos neste mundo atormentado da atualidade.

Onde estão nossos filhos? Com quem estão nossos filhos? Fazendo o quê os nossos filhos estarão?

Esses cuidados que, há muito, passaram a ser coisas démodé, precisam voltar às preocupações nossas, precisam retornar aos cuidados domésticos.

Quando ouvimos as notícias de que tal criança foi seviciada, foi levada, foi conduzida, isso nos remete a refletir sobre a desatenção, muitas vezes, dos pais.

Com quem está minha criança? Onde está neste momento?

Vivemos dias em que os nossos filhos são mandados para dormir na casa dos amigos, dos colegas. Mas a gente não sabe quem são os pais desses amigos, desses colegas.

Não sabemos qual é a formação moral dessa família para onde estamos mandando os nossos filhos. Muitas vezes, acordamos tarde demais.

A estruturação do lar exige bom senso, exige cuidados, exige raciocínio.

Não é uma prisão. Todos usufruem liberdade. Mas, na estruturação do lar, a liberdade jamais estará alheada, distanciada das noções de responsabilidade.

Todos os que têm liberdade no lar, também hão de ter responsabilidades.

E se forem crianças?

Vamos ensinando às crianças a ter responsabilidade com as coisas delas. Guardar os brinquedos, colocar a roupinha que tirou no cesto, na medida em que elas vão podendo.

Como é que a criança aprende a ajudar em casa?

Traga para a mamãe, pegue a vassoura.

Pegue aquilo. Traga aquilo. Leve aquilo para a mamãe. Ajude a mamãe.

Sem nenhuma imposição, para que a criança aprenda a gostar de colaborar.

Venha aqui com o papai, segure aqui para o papai poder esticar.

Criando vínculos.Quando os nossos filhos começam a ir para a escola, cedinho, será nosso dever, de pai ou de mãe, puxar assunto com eles.

Como é que foi hoje o dia? Com quem você  brincou? O que a professora lhe ensinou? Ou a tia?

E a sua merenda, comeu-a? Distribuiu com alguém?

Para que ensinemos à nossa criança, desde cedo, a conversar conosco sobre o que se passou com ela.

Depois que ela aprende a conversar conosco, não precisamos perguntar nada.

Quando a apanhamos à porta da escola, ela já nos vem contando. Quando a colocamos no carro, ela já começa a falar. E é dessa maneira que vamos criando uma parceria doméstica.

Os filhos não precisam esconder dos seus pais as coisas que vivenciam. Os pais não devem negar orientação aos filhos, para que eles saibam se nortear. Estar sempre acompanhando.

Quando a nossa criança começa a crescer e não faz aquelas intrigantes perguntas, sobre sexo, sobre isso ou sobre aquilo, que os pais não imaginem que elas não sabem, que elas são inocentes. Admitam que já aprenderam, de forma equivocada e, porque aprenderam de forma equivocada, têm vergonha de falar para nós.

Cabe, então, para que o lar se reerga, todos nos envolvermos com todos.

Com carinho, com atenção, com sorriso, com seriedade, cada coisa no seu lugar. Mas, que não falte entre nós jamais a ternura, o respeito recíproco, na certeza de que somos irmãos em Deus, momentaneamente situados como marido, mulher, pais, filhos, irmãos.

Para que o nosso lar seja feliz, para que utilizemos esse cadinho, como a grande oficina das almas, não poderá faltar o amor. O amor que gera respeito, o amor que imprime responsabilidade.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 186, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em janeiro de 2009.
Em 03.01.2011.






AMOR E ÓDIO 

O pai da psicanálise, Sigmund Freud, estabeleceu que nós carregamos, por dentro d’alma, duas pulsões importantíssimas. Ele chamou de impulso de vida e impulso de morte.
impulso de vida, que ele chamou de impulso de Eros, é aquele em que trabalhamos tudo que é bom, tudo que é para cima, tudo que é pró-vida, alegria, o trabalho, o entusiasmo, a amizade, a família. Tudo isso que faz a vida crescer, é chamado por Freud, impulso de vida.

Mas ele também chamou de impulso de morte aquelas pulsões em que nós apelamos para o desânimo, para a depressão, para o desalento, para a inimizade, para a calúnia. Tudo aquilo que faz a vida cair, tudo aquilo que faz a vida depreciada.

Dentro desse impulso de morte, que um de seus discípulos chamou de impulso tanatológico, nós encontramos o ódio.

O ódio é dessas forças terríveis que vão maculando a criatura, que vão destruindo o indivíduo e certamente infelicitando-o.

O ódio tem mil efeitos, cada um deles pior que o outro.

Quando pensamos nos efeitos do vago-simpático que o ódio provoca, a acidez, a diarréia, o desânimo; quando imaginamos a hipertensão, quando pensamos na depressão, na inapetência, todos esses elementos são provocados pelo ódio.

É uma força destrutiva por excelência, e quando começa, como uma caudal, ela não se detém. Essa força não pára se o detentor do ódio, aquele que está alimentando o ódio, não cair numa realidade expressivamente positiva de que essa força ou essa energia negativa que ele impulsiona, que ele conduz, não tiver termo.

É preciso então que pensemos que o ódio, antes de destruir a qualquer pessoa, de ser dirigido a qualquer coisa, ele primeiramente tenta e consegue desarticular o seu portador.

Portar o ódio é como carregar lixo na alma. Por isso, vale a pena pensar que essa força descontrolada, descompensada, essa força desnorteada em que o ódio se traduz, serve apenas para nos fazer morrer sempre um pouco mais.

Vale a pena pensar no que é que faz com que esse ódio apareça na nossa vida.

Afirmam os seres que guiam a Humanidade, que o ódio é o amor que enlouqueceu. Sim, o ódio é o amor que adoeceu, porque a mesma energia que nós usávamos para construir, agora utilizamos para destruir. A mesma criatura sobre quem dirigíamos o olhar de ternura, agora dirigimos um olhar furioso, um espectro furibundo que parte de nossa intimidade na direção do opositor.

Vale a pena pensar que não tem sentido, depois de dois milênios da visita de Jesus a Terra e que nos propôs amar os próprios inimigos, orar por aqueles que nos perseguem e caluniam, não há sentido alimentar a força fragmentária do ódio que só faz mal a nós.

Por momento, poderemos prejudicar a alguém, causar infelicidade a alguém, entristecer alguém, através da calúnia, da maledicência ou de qualquer outra providência nefasta.

Mas, fundamentalmente, no fundo do vaso de nossa alma, ficam as borras criadas pelo ódio.
* * *

O ódio em si mesmo provoca apenas sofrimento. Toda pessoa que odeia é uma pessoa que sofre.

Impossível se imaginar que alguém capaz de odiar possa ser feliz.

É claro que as pessoas interpretam, encenam e muitas vezes não sabem que os problemas que passam a viver em suas vidas, estão atrelados a essa carga de ódio que desferem contra terceiros.

É muito comum que os indivíduos tenham ódio em função de variadas circunstâncias.

São muitos os fenômenos do cotidiano que incitam o indivíduo a sentir ódio, a sentir essa expressão negativa do caráter, que é eminentemente destrutiva.

Uma das faces do ódio, já que ele tem diversificadas faces, é o desprezo.

Quando sentimos desprezo por alguém ou por alguma coisa, a alma age como se esse alguém ou se essa coisa não existissem.

Como o odiento imagina que essa criatura seja-lhe inferior, não merece o seu olhar, não merece a sua atenção, não merece que ela lhe dirija a palavra, vai cortando, vai bloqueando todas as ações de contato, todos os movimentos de acesso. E isso vai caracterizando o desprezo. Deixar de prezar alguma coisa, deixar de considerar alguma coisa.

E quando nós desprezamos alguém, em realidade, estamos muito infelizes. Porque tudo quanto gostaríamos, lá no fundo do ser, era a possibilidade de ser amigo de todo mundo, de receber o aplauso de todo mundo, de ser gostado pelas pessoas, de ter acesso fácil em todo lugar, de onde chegarmos as pessoas nos tratarem com alegria, com entusiasmo, com amizade.

Mas quando desprezamos, nos isolamos, nos fechamos, nos entrincheiramos e gradualmente vamos sentindo que as outras pessoas odiadas por nós, desprezadas por nós, continuam vivendo. E, para o indivíduo que odeia, isso é terrível.

Toda criatura que odeia gostaria que o objeto de seu ódio fosse infeliz, se tornasse infeliz. Que pudesse uma hora dele precisar, e ele poder descarregar toda a carga do seu desprezo.

Felizmente, isso não ocorre. As pessoas odiadas continuam vivendo suas vidas, porque elas só têm responsabilidades para com Deus.

Daí então, o desprezo desqualifica o odiento, atormenta-o cada vez mais e aumenta a sua infelicidade. E o odiento sofre.

Mas, uma outra faceta do ódio, tanto ou mais terrível quanto o desprezo, é o desejo de vingança. Sim, o odiento não se conforma em apenas desprezar. Deseja, em muitos momentos, fazer justiça com as próprias mãos.

Fulano me fez isso, há de pagar!

Se existe um Deus no céu, Fulano há de pagar o que me fez!

Então nós misturamos o nosso ódio com a idéia de Deus. Como se Deus estivesse ao lado de nosso desequilíbrio. Como se Deus estivesse aplaudindo nosso desregramento moral e por isto nós dizemos:

Eu não me vingo, mas Deus me vingará!

Quer dizer, se nós não nos vingamos, é porque já entendemos que isso não se faz, mas Deus, Ele que é o Autor do Universo, a Inteligência Suprema da vida, Ele se vingará em nosso nome.

Vejamos que isso não passa de uma brutal infantilidade. Nós somos ainda criaturas muito infantis em termos espirituais e imaginamos que o nosso impulso de vindita, de vingança, vai nos fazer mais felizes.

A vingança chega a termos inimagináveis. Desde a calúnia movida pela maledicência, em que nós jogamos pessoas contra outras pessoas, destilamos o veneno contra os outros, até o homicídio, até o suicídio.

Sim, Freud estabelece que todas as pessoas que se matam são capazes de matar.

Muita gente se mata na impossibilidade de matar o objeto de seu ódio. E se mata para culpar o outro, para culpar a sociedade.

Alguns têm o desplante de deixar cartas, bilhetes, incriminando terceiras criaturas, por conta do seu suicídio.

Vemos que na hora final, quando ela se desbraga e sai do corpo, mesmo assim, o impulso negativo da alma infantilizada, do espírito infeliz, ainda se mostra forte.

Desse modo, a melhor forma de evitarmos essa onda de ódio que nos avassala é o amor. O amor que começa pela compreensão, a indulgência.

Por que as pessoas erraram contra mim?

Porventura, não terei eu dado motivos independentemente do que aquele aborrecimento nos causou?

Será válido pensar nas razões que levaram alguém a falar contra mim, a falar de mim.

É importantíssimo deixar que o amor tome conta de nós, que o amor luarize nossas consciências, e como o ódio é o amor que enlouqueceu, vale a pena vacinar sempre o amor com esse remédio do trabalho, do relacionamento feliz, para que ele nunca adoeça, com esse remédio da confiança, do trabalho conjunto, da autodoação para que o amor nunca adoeça, sempre admitindo que as pessoas têm direito de se equivocar como nós.

E, por causa disso, ao invés de ódio, vale a pena o amor, até porque, segundo o Evangelista, Deus é amor.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 108, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em agosto de 2007. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 22 de junho de 2008.
Em 21.08.2008.



Razão de viver - 07/08/2019 APRESENTEI NA NOVAVIDAFM TEXTO DE 

RAUL TEIXEIRA - VIDA E VALORES

Muitas pessoas erguem-se pela manhã acreditando não existir qualquer sentido para despertarem.
Dormem sem nenhum objetivo e acordam do mesmo modo, transformando o dia a dia, em uma experiência insossa ou vazia.
Vagam pelas ruas, sem destino certo, à mercê do que lhes aconteça no curso do dia.
Levam uma vida sem direção, desvalorizando o tempo e a oportunidade de estarem reencarnados.
Deixam-se levar pelos ventos do acaso.
Não veem significado em família, em amigos, nem em trabalho.
Quando se estabelece esse estado d’alma, a pessoa corre o risco de ser tragada pelo aguaceiro das circunstâncias, sem quaisquer resistências morais para enfrentar as dificuldades.
Com certeza, não é o melhor modo de se viver.
É urgente que nos possamos sentir como peças importantes nas engrenagens da vida.
É necessário que tomemos gradual consciência quanto ao nosso exato papel frente às leis de Deus.
Seria muito belo se cada pessoa – principalmente as que não veem sentido para a própria vida – resolvessem se perguntar: O que posso fazer em prol do mundo onde estou?
Para que, afinal, é que eu vivo?
Para quem é que eu vivo?
Dificilmente não achará respostas valiosas, caso esteja, de fato, imbuída da vontade de conferir um sentido para sua existência.
Cada um de nós, quando se encontra nas pelejas do mundo terreno, pode viver para atender, para cuidar de alguém ou de alguma coisa, dando valor às suas horas.
É importante dar sentido à vida.
É importante viver por algo ou por alguém.
Dedique-se a um ser que lhe seja querido, que lhe sensibilize a alma, e passe a viver em homenagem a ele, ou a eles, se forem vários.
Dedique-se a uma causa que lhe pareça significativa para o bem geral, e passe a viver em cooperação com ela.
Dedique-se a cuidar de plantas, de animais, do ambiente.
Apoie-se em algum projeto justo, desde que voltado para as fontes do bem, pois isso alimentará o seu íntimo.
Assim seus passos na Terra não serão a esmo, ao azar.
Quando se encontram razões para viver, passa-se a respeitar e a honrar as bênçãos da existência terrestre.
Cada momento se converte em oportunidade valiosa para crescer e progredir.
A vida na Terra não precisa ser um campo de concentração a impor-lhe tormentos a cada hora.
Se você quiser, ela será um jardim de flores ou um pomar de saborosos frutos, após a sementeira responsável e cuidadosa que você fizer.
Dedique-se a isso.
Empreste sentido e beleza a cada um dos seus dias terrenos.
Liberte-se desse amortecimento da alma que produz indiferença.
Sinta que, apesar de todos os problemas e dificuldades que se abatem sobre a Humanidade, a chuva continua a beijar a face do mundo e um sol magnífico segue iluminando e garantindo a vida em todo lugar.
Isso porque, todos nós somos alvos da dedicação de Deus.
*   *   *
O tempo é uma dádiva que Deus nos oferece sem que o possamos reter.
Utilizá-lo de forma responsável e útil é dever que nos cabe a todos.
Dê sentido às suas horas, aos seus dias, e assim, por consequência, a toda a sua vida.

Redação do Momento Espírita, com base  no cap. 25, do livro Para uso
diário, pelo Espírito Joanes, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.
Em 2.1.2013.


Vida e Valores (A Lei do amor)


O Evangelista João escreveu, no seu texto, que Deus é amor e que amou o mundo de tal modo que mandou  Seu filho para que todos aqueles que no Seu filho cressem, nunca mais perdessem a vida, nunca mais perecessem. É muito importante pensarmos nisto. Deus é amor mas, muitas vezes, aprendemos a dizer essas frases e passamos a repeti-las mecanicamente. Poucas vezes nos damos o trabalho de nos deter no que é que esses textos significam, o que é que essas almas de escol, essas almas luminosas, que chegaram à Terra, desejaram nos dizer com o que disseram.
É a partir daí que verificamos que o amor é a essência da vida. Nada do que existe, nada do que existirá, em termos de vida planetária, em termos de vida cósmica, poderá ocorrer sem o amor. De fato, o amor é a alma da vida. Do mesmo modo que não conseguimos sobreviver no corpo físico sem o oxigênio, sem a respiração, sem a nutrição, não conseguimos viver animicamente, não encontramos saúde da alma fora das dimensões do amor. É tão importante amar que o Evangelista estabeleceu que Deus não é alguém que ama, mas que Deus é amor.
Quando pensamos em Deus, pensamos no amor. Mas, o amor se manifesta de multiplicadas formas. Dentro dos hábitos corriqueiros do mundo, pensamos no amor como relacionamento conjugal, fraternal, afetivo. Amor é a alma da vida. Alguém que plante uma árvore, que atire sementes ao solo, se não fizer isso com amor, isso míngua, se atrofia, a planta se estiola.
A mãe de família que cozinha, que serve a mesa, que lava, que passa, que atende a prole e ao marido, se não fizer isso com amor, terá acido nas suas mãos e fogo no seu olhar. Há que se ter amor para aguentar essa vida doméstica de todos os dias fazer-se as mesmas coisas.
É por causa disso que pensamos nessa magia do amor, que é Deus. Como o amor permeia as nossas realizações, as nossas relações, não nos custa verificar como é que nós nos encontramos, como é que nos temos encontrado relativamente a essa virtude. Quase sempre estamos aborrecidos com alguém, com algo, com a vida, com a política, com a economia, com os gastos, com a família, com os amigos. Poucas vezes nos abrimos para deixar o amor entrar em nós. No Evangelho segundo o Espiritismo, o Espírito Lázaro, um dos notáveis escritores da obra da Codificação Espírita, escreveu num de seus capítulos: Quando Jesus enunciou a Divina palavra amor, os povos estremeceram e os mártires, embriagados de esperança, desceram aos circos.
Somente a força do amor nos dá coragem. Quando um pai toma do seu filho doente e leva-o ao hospital, deixa-o ser submetido a intervenções cirúrgicas, é por amor. Senão o filho morre, senão fica aleijado, senão se acaba. Diante de alguém que nos agride, que nos ofende e silenciamos por minuto, tem que ser por amor para que não avancemos como se fôssemos uma fera, sobre aqueles que nos dizem o que não gostaríamos de ouvir. O amor é realmente a alma da vida. Não conseguimos nos imaginar fora da proteção do amor de pai, de mãe, de familiares. Não conseguimos imaginar-nos na Terra distanciados do amor de Deus que nos manda as primaveras, os outonos, os invernos, os verões, a cada ano, repetindo, em nome do amor, as quatro estações porque em cada uma delas retiramos o de que necessitamos para a nossa vida planetária. Só o amor de Deus.
*   *   *
Se não for por Deus, não conseguimos respirar. É esse Criador que acende todas as noites as estrelas, sem cansaço. Todos os dias nos dá a estrela solar, mesmo quando não a vemos nitidamente no céu nublado, é a claridade do sol filtrada através das nuvens densas.
Deus é amor. Mas vale recordar de que Jesus Cristo nos disse: Amai-vos uns aos outros tanto quanto vos tenho eu amado.Complicado imaginar que se possa amar como Jesus Cristo nos amou. No entanto, se essa foi uma proposta dEle, Ele sabia que precisaríamos realizar exercícios de amor. O amor não nos chega de repente, não brota em nós de repente. O que brota em nós de repente é a paixão, é o desejo.
O amor é fruto do tempo, das experiências, da convivência com coisas, com seres. Vamos aprendendo a ter esse olhar de profundidade para tudo, para as coisas e para as  pessoas. É a partir daí que nasce o amor.
Alguém dirá: Eu amo o que eu faço. Não foi no primeiro dia. Possivelmente, no primeiro dia, tenha sido a coisa mais horrenda do mundo, mais perturbadora. Mas, à continuidade, passamos a tomar afeto por aquilo que fazemos. É o tempo que consagra o amor.
Amai-vos uns aos outros tanto quanto Eu vos tenho amado. Em outra ocasião, ainda nos disse o Mestre: Os meus discípulos serão reconhecidos por muito sem amarem. Que coisa importante ser discípulos de Cristo, identificados pela nossa capacidade de amar.
É tempo de começarmos a refletir a respeito do amor na Terra, que não se trata de abraços, beijinhos, afagos. Essa é uma dimensão do amor, do afeto conjugal, do amor fraternal. O amor é muito mais amplo. Se é o próprio Deus, abarca toda a Natureza.
Alguém que esteja na defesa das causas ecológicas, ama. Alguém que esteja na luta pelos direitos verdadeiros da Humanidade, nos direitos humanos, é porque ama. Alguém que quer defender as nossas camadas de ozônio para que o homem da Terra não adoeça, não se acabe de cânceres de pele, é porque ama. O cientista, que se interna num laboratório e se esquece, buscando vacinas, remédios, produtos que facilitem a vida da Humanidade terrestre, é porque ama.
A fonoaudióloga que, junto ao tartamudo, ao tatibitati, ao gago, à criança que sofreu traumas, realiza, diariamente, as mesmas lições, as mesmas terapias, sem imaginar quando terá sucesso... só amando. O fisioterapeuta, que toma da criança doente, do velho, do adulto, da pessoa que necessita dos seus préstimos e, sem saber quando terá êxito, trabalha, orienta, manipula com suas mãos luminosas, com os fluidos que saem de suas mãos, até conseguir bons resultados, é porque ama.
Daí, o amor permear todas as nossas ações. Para que sejam ações positivas, para que sejam ações do bem têm que estar nutridas pelo amor. É por causa disto que o Apóstolo Simão Pedro escreveu, numa de suas epístolas, que o amor e só o amor é capaz de cobrir multidões de pecados.
Diante de todos os nossos equívocos humanos, de nossos erros, de nossos agravos é por causa do amor que o Criador nos permite voltar à Terra, recomeçar experiências, retomar contatos, reestruturando, pouco a pouco, para esse dia sem ocaso que nos espera, para esse dia de intensa e inapagável luz.
É pelo amor e somente pelo amor que estamos hoje no mundo, ainda que estourem bombas, ainda que haja palavras de impropérios aqui e ali, ainda que haja maus homens, enfermas criaturas. Nada disso ocorre sem que o amor de Deus esteja sobrepairando e mesmo do mal que a criatura humana intenta realizar, no auge de sua enfermidade moral, Deus retira o bem para que ela tenha algum mérito e para que todos possamos ser felizes porque Deus é amor. Nunca esqueçamos disso.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 196, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2009. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 14.03.2010.
Em 17.05.2010.

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FAMILIA : Família é uma Árvore de Amor

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