O jardim secreto de cada um
©
Letícia Thompson
Há
dentro de todos nós essa necessidade de ter em algum lugar nosso jardim
secreto, não onde vamos confinar nossos segredos, mas onde podemos ter
um encontro real e exclusivo conosco.
Umas
pessoas sentem mais essa necessidade que outras, mas estar consigo de
vez em quando, interiorizar-se, colocar ordem nos pensamentos ou
simplesmente abandonar-se, é vital ao equilíbrio de todos nós.
Em
todo relacionamento onde o amor existe, esse espaço deve ser conservado
como o limite de cada um. Os relacionamentos fusionais que ultrapassam
essas barreiras acabam por destruir-se, pois amar é também respeitar que
a outra pessoa tenha seu recanto, seus pensamentos e, por que não, seus
próprios amigos, próprias idéias e sonhos.
As
pessoas não precisam estar juntas cem por cento do tempo para provarem
que se amam. Elas se amam por que se amam e pronto. Dar ao outro um
pouco de espaço, um pouco de ar para respirar, é dar-lhe também a
oportunidade de sentir falta de estar junto. E isso vale tanto para os
amores como para as amizades.
As
cobranças intermináveis, resultados de carências afetivas, acabam por
sufocar a outra parte e cria na que pede, espera, implora, ansiedades
que a tornarão infeliz, pois ela verá como desamor qualquer gesto que
não corresponda ao que espera.
Amar
é deixar o outro livre para ficar ou para se retirar. É respeitar seu
silêncio e seu desejo de solitude. E é deixá-lo livre para ir e voltar
quando o coração pedir, que isso seja numa cidade ou dentro de uma casa.
Nada
impede que um grande e lindo jardim seja construído juntos e que de
mãos dadas se passeie por ele, com o peito cheio de felicidade e a
cabeça cheia de sonhos... mas ainda assim, o jardim secreto de cada um
deve ser mantido como lugar único e que vai, no fim das contas,
enriquecer as relações.