Por toda a minha vida eu me considerei uma pessoa extrovertida.
Muita gente acha que extrovertidos são aqueles que têm a habilidade de conversar com todo mundo, enquanto introvertidos são tímidos. É um pouco isso, mas não é totalmente assim.
De forma bem simplista, introvertidos são aqueles que recarregam suas energias quando estão sozinhos. Ouvem mais do que falam e, mesmo os que não são tímidos (sim, existem introvertidos que não são tímidos), depois de um certo tempo interagindo com os outros se sentem esgotados e querem se isolar.
Extrovertidos são oposto disso. Eles se sentem “energizados” quando estão com outras pessoas. São os que gostam de conversar não importa o assunto. Mais falam do que ouvem o que os outros têm a dizer e se sentem mais felizes na companhia dos outros do que sozinhos.
Quando comecei a viajar e trabalhar sozinha, eu sentia muita falta das interações diárias com as pessoas, como eu costumava ter no meu antigo trabalho, por exemplo. Sentia falta de ter sempre a opção de encontrar uma amiga para conversar depois de um dia difícil ou apenas para bater perna no parque ou no shopping, sei lá.
Outra característica é que eu sempre fui muito ativa em relação às minhas amizades. Mandava mensagens regularmente para os amigos e estava sempre planejando encontros, festinhas, jantares nos fins de semana e raramente dizia não a um convite (já falei sobre o meu FOMO aqui).
Ao longo desse ano eu percebi que eu tenho agido e me sentido diferente. Não foi proposital, mas alguns fatores externos acabaram sendo responsáveis por isso, como:
Falar inglês = falar menos
Por passar 95% do meu tempo falando inglês, eu comecei a ouvir muito mais do que falar. Para ser capaz de entender tudo o que estava acontecendo e sendo dito eu precisava prestar mais atenção do que o normal e também pensar mais antes de dizer algo. Depois de um tempo eu percebi (MEL DELS) o quanto eu falava!
Quando falamos demais, pelos menos 30% do que falamos talvez não precisasse ser dito. Além disso, estamos tirando a oportunidade de outras pessoas no grupo (muitas vezes introvertidas) falarem também e isso pode nos privar de conversas e pontos de vista interessantes sobre algum assunto por não sabermos ouvir.
Sem emprego fixo = sem vida social
Minha primeira preocupação quando comecei viver dessa forma foi: como eu faria novos amigos sem ter um trabalho ou uma razão específica para sair de casa todos os dias? Isso é muito difícil! A gente não faz ideia do quando a nossa vida gira em torno do trabalho ou do quanto ele é importante para a nossa vida social até sairmos desse esquema “9h as 18h“.
Eu passo basicamente a semana toda trabalhando sozinha e precisava encontrar uma alternativa. Esse foi um dos principais motivos que me fez entrar para um grupo fechado de empreendedores que vivem esse mesmo estilo de vida.
Foi esse grupo que me trouxe, pela segunda vez, a um grande evento que eles fazem todos os anos em Bangkok e foi lá que eu cheguei a uma outra conclusão…
Menos tempo para socializar = dizer mais NÃO e ser mais seletiva
A primeira vez que eu vim à esse evento no ano passado meu pensamento foi: preciso conversar com o maior número de pessoas possível, já que esta é minha grande oportunidade de fazer amigos e contatos profissionais não estando todos os dias em um ambiente corporativo.
Sem exagero, eu conversei com umas 100 pessoas de todas as partes do mundo em dois dias, sendo que metade do tempo era dedicado a palestras.
Como todo mundo, eu também tinha um discurso meio pronto que falava de onde eu era, o que eu fazia antes de pedir demissão e o que eu estava fazendo atualmente. Foi ótimo, fiz vários contatos!
Muitos, eu encontrei de novo quando morei no Vietnã, Hong Kong, Medellín e outros lugares onde fiquei por menos tempo. Também é verdade que, quanto mais tempo eu passava nos lugares, mais estreitas ficavam essas relações e algumas renderam boas amizades e até uns trabalhinhos.
Este ano eu estive no evento mais uma vez. Muitas das pessoas que eu conheci no ano passado estavam aqui, mas tinha quase o dobro de gente. O que eu percebi foi que, em vez de me esforçar para conhecer novas pessoas, eu naturalmente estava muito mais interessada em elevar o nível da minha amizade com aqueles que eu já conheço, gosto e não tenho tantas oportunidades para encontrar durante o ano.
Isso me fez notar que o mesmo aconteceu com os meus amigos de São Paulo. Quando visito a cidade, tenho tão pouco tempo que preciso selecionar os lugares e com quem vou estar. Também percebi que muitas pessoas só estavam presentes na minha vida porque era fácil, já que eu sempre tomava a iniciativa e falava com elas.
Com a distância, acabei perdendo o contato com alguns que eu considerava grandes amigos e fortalecendo a amizade com aqueles que realmente estavam dispostos a manter o diálogo mesmo que não tão frequente ou pessoalmente como antes.
Hoje, percebo que a distância e um certo isolamento forçado foram excelentes para que eu me tornasse uma pessoa menos ansiosa (embora eu ainda seja muito), para que eu aprendesse a dizer não para aquilo que não vai ser tão importante para mim, para que eu começasse a identificar quem são meus verdadeiros amigos e passasse um tempo de muito mais qualidade com essas pessoas, principalmente quando eu estou no Brasil ou em algum outro lugar onde eles estejam.
Para muitos, isso pode parecer um comportamento egoísta, mas eu prefiro chamar de prioridade. Quero dar o melhor de mim para aqueles que realmente vão apreciar isso e não simplesmente para ser a “legalzona” e acabar tendo de fazer várias coisas que eu não estou com tanta vontade, sabe como é?
Em outras palavras o meu grande aprendizado foi: não tente ser legal dizendo SIM à tudo aquilo que você já sabe que existe a chance de ser meia-boca. Ou é COM CERTEZA ouNÃO!