Coração e verdade
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Mercedes Malavé Gonzáles
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Coração e verdade
O que vou dizer agora não é uma metáfora, apesar de parecer um pouco
abstrato: não existe nada neste mundo que seja mais purificador para o
coração do que a verdade: a verdade acerca de nós mesmos - daquilo
que realmente somos -, a verdade acerca das pessoas e dos compromissos
assumidos.
O amor que temos à verdade da vida e à estabilidade definitiva
dos compromissos que assumimos produz uma força tal que nos impulsiona
a sair de nós mesmos, a nos abrirmos para a realidade, a descobrirmos
tudo o que existe de bem e de bom no mundo e nas pessoas ao redor,
em cada momento de nossa vida.
Esta verdade possui um efeito curador, uma capacidade de cura, desde o
sentido mais profundo de nossa existência até o mais superficial e exterior,
como a maneira de nos comportarmos individual e socialmente.
A verdade é revelada através da razão, a qual não existe apenas
para nos fazer compreender aquelas realidades de caráter técnico ou
científico, mas também para nos ensinar a viver - por e a
permanecer em - nosso amor, naquilo que devemos amar; a nos mantermos fiéis,
a partir do coração, ao verdadeiro amor, ao dom que nos foi dado de
sermos realmente nós mesmos.
É na verdade que se encontra também a força do perdão. Reconhecer
que nem sempre nos comportamos com generosidade, que temos sido
possessivos e, com isso, sufocado o amor, apoderando-nos injustamente do
projeto de vida das pessoas à nossa volta – dos filhos, do esposo ou
da esposa, dos amigos - por não termos corrigido ou retificado
a tempo nossos desejos egoístas e o afã desordenado de dominar o ser amado.
Tudo isso pode nos motivar a buscar o perdão, a
recomeçar a amar com um coração renovado, purificado, desprendido.
Quando admitimos que temos sido egoístas ou descuidados, e assumimos
as obsessões e outros complexos que permanecem em nossa memória
emocional; quando nos decidimos a depurar a consciência de tudo o que invade
a nossa memória e manifesta uma visão egoísta da vida, dos projetos que
esboçamos a princípio, experimentamos então a alegria de nos sentirmos
livres dos grilhões que oprimem o nosso coração.
Nada consegue aprisionar o
coração - nem o sofrimento mais terrível, nem a solidão mais prolongada
- a não ser o próprio ser humano.
Talvez nisto consista a
opção radical que assumiram muitos santos, tendo sofrido o mesmo - ou,
quem sabe, mais - do que os maiores tiranos e os homens mais impiedosos,
implacáveis, da história dos últimos séculos.
Uma memória purificada num coração limpo e renovado é a de quem
se perdoou de suas más inclinações, porque todos nós necessitamos –
além de perdoar - ser perdoados.
Não existe ser humano completamente
inocente em seus pensamentos interiores, todos nós temos uma enorme
necessidade de perdão.
Finalizando, a verdade que liberta o coração das cadeias do ódio,
do desejo de vingança, dos apegos obsessivos etc. está relacionada com a
recordação constante de que nada nesta terra é definitivo, pois todos vamos
morrer um dia.
Leon Kass, cientista, nomeado diretor da Comissão Presidencial de
Bioética dos Estados Unidos pelo Presidente Bush, estudou com afinco
o tema da morte e de sua aceitação por parte da ciência moderna,
empenhada em encontrar a fórmula da imortalidade, para que as pessoas possam
desfrutar cada vez mais das satisfações da vida.
Em suas reflexões, Kass
sugere que as pessoas não deveriam pensar na imortalidade como uma bênção.
Antes, pelo contrário, a verdadeira bênção é o fato de sermos seres mortais;
porque é impossível prolongar a satisfação neste mundo, é impossível
preencher as aspirações de completude do ser humano, por mais que as
condições sejam as melhores e mais promissoras possíveis:
“A limitação de
nosso tempo de vida - questiona-se Leon Kass - não é a
razão pela qual levamos a vida muito a sério e a vivemos apaixonadamente?
Quando os Salmos da Bíblia nos convidam a «contar nossos dias»
para que tenhamos «um coração sábio», o salmista nos ensina uma
verdade e tanto!”.
Reconhecer a verdade de nossa vida e daquilo que somos capazes de
amar, é o caminho que nos conduz à felicidade
O coração experimenta
desejos de eternidade, que se traduzem em profundas ânsias de amor e
satisfação que só chegarão à sua verdadeira e única
completude quando alcançarmos o momento pleno de totalidade em um amor
que seja de fato eterno.
Viver a vida apaixonadamente, aprender a possuir um coração
aberto e livre, fiel aos compromissos assumidos, jovem o suficiente para
se deixar atrair por cada ser que se nos apresenta ao longo da
vida.
Vale a pena esforçar-se para ter um coração dessa magnitude,
desse quilate!
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segunda-feira, 29 de outubro de 2018
Lições do Coração
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