Pessoa alguma existirá que atravesse a existência sem enfrentar a adaga afiada das mil interrogações. São dúvidas que surgem aqui e ali, quais estiletes cortantes do sentido existencial, cobrando do ser o mergulho nas suas origens profundas.
Não nos referimos aqui às dúvidas corriqueiras, aquelas que nascem pela manhã e se diluem ao entardecer, ou respondidas no imediatismo da vida material ou desidratadas pela inutilidade de suas conveniências no âmbito do oportunismo.
Destacamos aquelas perguntas que começam a brotar no cérebro, sedento de respostas e avançam no tempo ao longo da existência, algumas vezes furtando o sono das madrugadas ou impelindo o ser para arraiais religiosos ou filosóficos, onde se materializam com mais forças à nossa frente, quais fantasmas a nos assombrarem a ignorância.
Qual nossa origem espiritual?
Como compreender dois mil anos de Cristianismo e vinte séculos consecutivos de atrocidades e genocídios periódicos?
Que mecanismos mentais nos aprisionam no medo irracional da morte, quando tantas e tão fartas evidências dão sustentação de que a vida não começa no berço nem se esvai no sepulcro?
Por que o egoísmo feroz ainda é a marca iniludível desses tempos de glórias tecnológicas?
Quais razões sustentam o ser na sua competição insana por poder e posses, olvidando a precariedade da argamassa celular de que se reveste?
Como compreender tantos templos religiosos e tão funda descrença na criatura humana, a ponto de duvidar da própria existência?
Que motivos o levam a murar vastos latifúndios, adquirir incontáveis hectares de terras, aprisionar para si águas e fontes, lançando o outro na secura e na canícula desesperadora?
Ambiciona o poder e a fama e, quando atinge o ápice da popularidade, se refugia em castelos fortificados e coberturas luxuosas, ignorando as origens humildes de onde procede.
Como se manter blindado contra a ansiedade que presentemente vitima bilhões de pessoas?
Onde encontrar o oásis tão sonhado da paz profunda?
Como atender tantos compromissos firmados para escassas 24 horas?
Procuramos entender o outro e sentimos enorme dificuldade de sermos compreendidos.
Onde Deus, que não estanca a hemorragia ética que presentemente apodrece a sociedade?
Perguntas, dúvidas, interrogações, questionamentos...
Se fazem quase que infinitos.
E o alto, em percebendo nossa maturidade espiritual, quase sempre adquirida nas forjas das dores e na escola do sacrifício, vai enviando a cada um pedaços do imenso quebra-cabeça que caracteriza o viver, aguardando que cada ser monte seu próprio piso, no qual assentará os pés na jornada que nunca cessa.
A uma interrogação equacionada hoje, dez novas inquietações surgirão amanhã, num perene desafio de superação.
Quanto mais se sabe, mais responsável se torna o ser.
O instinto vai sendo domado. A irracionalidade vai perdendo forças para o livre arbítrio, que se agiganta conforme nos integramos na sinfonia da vida.
E um entendimento novo começa a nos mostrar que em parte alguma vige privilégios, surgem castigos divinos ou prêmios à preguiça ou ao ócio criminoso.
Em qualquer circunstância ou lugar, o Espírito, esteja no estojo de ossos ou fora dele, é senhor das próprias deliberações, decisões e pensamentos, recebendo de volta reações próprias e de acordo com seus atos.
A curiosidade o obriga a examinar. O medo elabora a coragem. A sede de infinito o constrange a andar em busca das estrelas.
A arrogância o brutaliza. A violência o asselvaja.
Suas interrogações nascem da excessiva imantação à matéria, na qual se locupleta e se afoga em suas sensações passageiras.
Dá-se conta de que nunca esteve sozinho na ascese. Jamais foi barco à matroca no mar agitado da evolução.
És uma centelha, um fascículo de luz, imergindo dos milênios sem fim para tua gloriosa destinação: a união com o pensamento divino, criador e mantenedor da ordem.
O caos é teu espinho.
A luta, teu meio.
Jesus, teu modelo e guia.
A plenitude, tua meta.
Alguma dúvida?
Marta
Salvador, 29.06.2023
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