MUSICA ; ELIZABETE LACERDA : NA DIREÇÃO DO SER OU
MUSICA : CIDADE NEGRA FIRMAMENTO
Todos nós vivemos num mar de inteligências, que Platão havia dito que era um mar de Eidos, de ideias.
Todos nós pensamos. Nossos pensamentos são ondas e, por causa disso, vivemos nesse mar de pensamentos.
Nesses tempos que estamos vivendo na Terra, há um pensamento que gera muitos outros, mas que é um pensamento central: a paz.
Em toda parte se fala da paz. Mesmo nos continentes, nos países, nas regiões que se acham em guerras, existe o discurso pró-paz.
Curiosamente, muita gente não se deu conta, não se dá conta, do que seja a paz.
A paz, de maneira nenhuma, corresponde à estagnação das águas paradas. Não, isso não é paz, isso é estagnação.
A paz não tem nada a ver com não fazer nada, ficar à toa, com excessivo ócio. Isso não é paz, isso é preguiça.
A paz não tem nenhuma vinculação com a paralisia dos cadáveres, com a inércia dos mortos. Isso é apodrecimento, é putrefação.
A paz é, sob todos os títulos, uma virtude psíquica, uma virtude do ser, da alma, da intimidade.
Paz significará sempre um estado interior em que a criatura que a busca, que a persegue, entra na sintonia das leis cósmicas.
Ser pacífico é a criatura buscar essa integração com o Criador, sob todos os aspectos.
E, a partir disso, ele tratará de cumprir seus deveres para com a vida, em nome da paz.
Em nome da paz, tratará bem as pessoas, terá seus altos e baixos, ficará nervoso muitas vezes, tenso em outras ocasiões mas, tudo isso na busca do aprimoramento, tudo isso no desejo de se aperfeiçoar. É a busca da paz, em si próprio.
É por essa razão que nos damos conta de que, quando alguém está buscando a paz e assume seus compromissos diante da vida, não se vitimiza, não se coloca como vítima da vida, das coisas, dos outros, porque quem está querendo paz, aprende a governar a si mesmo, a governar a sua própria vida, a ser uma pessoa autônoma, a não realizar o bem apenas porque está sendo visto, ou porque alguém o vai aplaudir, ou porque vai ganhar alguma coisa, e deixa de fazer o mal, deixa de cometer erros, somente quando disso adviria uma sanção. Não.
A criatura que busca a paz trabalha esse sentimento na sua própria intimidade. A paz não é um estado em que nada nos aconteça, nada nos sacuda, nada nos atormente. Não, não é essa paz.
Nós que vivemos no mundo, e todos quantos no mundo estamos, precisamos nos dar conta de que a paz tem componentes íntimos indispensáveis.
Primeiro, é necessário que nós queiramos a paz. Não adianta fazer só o discurso da paz. Não nos vale a pena o discurso somente. É importante que, além do discurso, advenha o curso da paz.
Essas três letras representam tanta coisa para a mente humana, para a vida humana, para o mundo em geral, que a maioria das pessoas que proclama o tempo todo paz, ainda não se deu conta do que ela significa.
Para muita gente, a paz tem que ser mantida à base da força, à base das armas. Para outros, a paz é aquele documento que se assina nos gabinetes políticos, os tratados de armistício. Isso não é a paz. São as conveniências políticas.
A paz reclama de nós essa justeza de propósito, esse querer fazer, cumprir com as nossas obrigações, para poder cobrar os nossos direitos.
Atender os nossos deveres para com a vida, para com as pessoas, para com as coisas, a fim de que esses deveres bem cumpridos nos deem acesso aos direitos recebidos.
A paz pede de nós a ação. De nenhuma maneira a paz propõe que sejamos passivos. Pede que sejamos pacíficos. E é por aí que começamos a refletir em torno da paz.
* * *
Pensando na questão da paz, deveremos buscar fazer da nossa vida um campo de paz, um hino de paz, uma proposta de paz.
Quando o Apóstolo Paulo de Tarso propôs que nos tornássemos cartas vivas do Evangelho, muita gente teve dificuldade, e até hoje ainda tem, para compreender esse significado que Paulo quis dar à proposta.
Cartas vivas do Evangelho: como o Evangelho é a Boa Nova, é essa busca de fazer da nossa própria vida um referencial para muita gente que não tem qualquer outra referência.
Por causa disso, quando buscamos a paz tratamos de enfrentar as lutas cotidianas, aquelas lutas que fazem parte das vidas de todas as pessoas, com essa dignidade de quem é pacífico.
Repito que ser pacífico não é ser passivo. O indivíduo passivo é aquele que não se mexe, é aquele que não age, é aquele que espera que os outros façam.
O pacífico é aquele que luta, que corre atrás, que realiza, que resolve, que define, que decide.
Vemos em Gandhi um homem de paz. Mas não era passivo, era pacífico. Lutava, entregava-se, doava-se.
Na nossa vida comecemos a pensar em criaturas assim: que são capazes de promover a paz, a partir de si mesmas, dando conta dos compromissos cotidianos.
Quantas vezes somos assaltados pela enfermidade, dentro do lar? É tão difícil ser pacífico nessas horas, porque o desespero costuma tomar conta das pessoas, tomar conta de nós. Há descrença, pessimismo. E essa paz onde é que está?
A paz precisaria ser a nossa conselheira nessa hora, para que entendêssemos que estamos procurando a Medicina, estamos procurando os atendimentos necessários, estamos dando a cobertura devida; agora, entreguemos a Deus a saúde do nosso ser querido, ou a nossa própria saúde. Isso é ser pacífico.
Outras vezes encontramo-nos diante de acidentes econômico-financeiros, o desemprego. Lutas ásperas, sem dúvida, mas a criatura pacífica não se aterroriza, não se amotina.
A criatura pacífica confia fundamentalmente que coisa alguma em sua vida ocorre sem uma razão de ser. Não se detém, não é passiva, ela corre atrás, vai em busca de resolver o prejuízo, de desfazer o transtorno econômico-financeiro. Mas, por trás disso existe essa certeza de que, no momento devido, tudo se aclarará, tudo chegará ao seu lugar devido, porque, pacífica, a criatura é capaz de entregar a sua mente a Deus, a sua vida ao Criador. Pacífica, como deseja ser.
Vamos perceber que, em outros momentos, nos deparamos com a própria morte. Quanto tormento a desencarnação ainda provoca, para as vidas, para as pessoas que ficam?
Embora as religiões de todos os tempos sempre tenham dito que a morte não existe, parece que isso se tornou um discurso vazio. Parece que os indivíduos escutam, mas não entendem. Parece que a morte só não existe para a família dos outros.
E nos desarvoramos, nos desestruturamos, passamos a pesar sobre o falecido, com a nossa energia negativa, com a nossa energia de auto-vitimização. Desse modo, não colaboramos nem com a paz da criatura desencarnada, e nem com a nossa.
Fazemos orações periódicas pela criatura querida ou amiga, que viajou para o outro lado da vida, como se falar coisas, dizer fórmulas, resolvesse o problema de sua paz espiritual.
Não nos damos conta, muita gente não sabe, que essa energia envenenada que o desespero provoca, atinge os nossos seres queridos falecidos, tira-lhes do caminho da paz, e leva-os ao desespero também.
A paz deve ser uma conquista que cada um de nós irá fazendo gradativamente, no seu dia a dia. Uma tormenta hoje, um nervosismo amanhã, uma irritação depois e, nesses intervalos, o esforço pela paz.
A mesma paz que vimos na vida de Cristo. Foi Ele que nos disse com muita tranquilidade: A minha paz vos deixo, a minha paz vos dou.
Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 138, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em abril de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 28.12.2008.
Em 02.05.2009.
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A construção do Lar
É muito comum fazermos a distinção entre casa e lar.
Costumamos chamar de casa a construção de material, de madeira, de alvenaria, de pedra, seja o que for, enquanto que o lar é o que se passa dentro dessa construção. Muitas vezes, nós conseguimos construir a casa, mas não chegamos a formar o lar.
Vivemos dentro dessa casa de formas tão estranhas, que não configuram o lar. O lar é o emocional, é o sentimental, é o racional, é o vivencial. É a interação das pessoas. A casa é o prédio.
Muitas vezes as pessoas dizem: Estou indo pra casa, mas, aborrecidas, porque estão indo para casa e, possivelmente, ao chegarem em casa, não encontrarão o respaldo do lar.
É muito importante, para nós, verificarmos porque é que o lar nos é importante. Exatamente porque ali se reúnem Espíritos, criaturas, indivíduos procedentes dos mais variados recantos da natureza.
Advindas, essas criaturas, das experiências as mais várias e, desse modo, ao nos encontrarmos dentro de casa, para formar o lar, teremos obrigatoriamente que trocar essas experiências.
A esposa teve uma criação, uma formação, uma instrução ou deixou de tê-la. O marido outra e, agora, são duas pessoas que vão se reunir, na tentativa de forjar outras pessoas e educá-las, os filhos.
Então, o lar representa esse cadinho, esse campo de provas, onde as diferenças se atritam, onde nós trocamos aquilo que sabemos com o que o outro sabe.
Desse modo, é muitíssimo importante que nós construamos o nosso lar em bases de equilíbrio, de entendimento, o que nem sempre é fácil.
Todas as vezes que nos reunimos, pessoas diferentes, seja no que for, isso nos dá uma certa instabilidade, isso gera uma certa instabilidade.
Há sempre uma diferençazinha entre o esposo e a esposa, entre os pais e os filhos, entre os irmãos. Por quê?
Porque se a esposa tem um pouco mais de cultura, se o marido tem um pouco menos, isso já deixa um degrau de frustração.
Ele vai fazer de tudo para mostrar que ele também sabe, quando seria tão fácil admitir que ele ainda não sabe. Poderá aprender. Se a esposa se torna submissa porque seu marido é doutor, seu marido é que sabe, já desbalanceia o lar.
Seria tão normal se ela admitisse que, de fato, ele preparou o que sabe, ele sabe na frente e ela não está proibida de aprender e de saber também. Mas, cada qual respeitando o outro, sem se sentir lesionado, sem se sentir frustrado, sem se sentir diminuído.
No lar, nós temos ensejo de trocar tudo isto. Verificamos que aquele homem notável, notável médico na sociedade, ele chega em casa. Ele é carente do que a cozinheira fez, dos carinhos da esposa, dos filhos.
Aquele grandioso engenheiro respeitado na sua empresa, na sociedade, mas quando ele chega em casa, ele é aquele gatinho carente de carinho, de atenção de sua esposa, dos seus filhos.
Nós somos movidos à emoção, a sentimento. O ser humano não é meramente racional, nós somos sentimentais.
Então, aquele homem que faz pressão na sociedade, o grande político, o grande administrador, mas quando ele chega em casa quem manda em tudo é a sua mulher.
Não, nós não vamos. Não, eu não quero. Não, você não vai fazer. Não, você não aceitará. E para que o amor possa vigorar é necessário que nós aprendamos ouvir um ao outro. O lar é assim.
É essa grande panela, é esse grande cadinho, dentro de cuja estrutura todos nós vamos aprendendo, uns com os outros, oferecendo o melhor que tenhamos e aprendendo o que os outros têm a nos oferecer.
É muitíssimo importante a estrutura do lar. Não tem nada tem a ver com a casa. O lar vem de dentro.
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Uma vez que essa estrutura de lar ela é de dentro da criatura humana, é muito importante que cada elemento do lar se preocupe com o outro e se ocupe também com ele.
Cada vez que nós pensamos na família que vive nesse lar que estamos abordando, certamente que cabe aos esposos determinados compromissos entre si, para a mantença do lar.
Se eles despautarem desses cuidados, o lar não se sustenta. Para a estrutura do lar é importantíssima a fidelidade, o respeito, a parceria, o acompanhamento, o companheirismo.
Se houver filhos na relação, os cuidados com o encaminhamento dos filhos neste mundo atormentado da atualidade.
Onde estão nossos filhos? Com quem estão nossos filhos? Fazendo o quê os nossos filhos estarão?
Esses cuidados que, há muito, passaram a ser coisas démodé, precisam voltar às preocupações nossas, precisam retornar aos cuidados domésticos.
Quando ouvimos as notícias de que tal criança foi seviciada, foi levada, foi conduzida, isso nos remete a refletir sobre a desatenção, muitas vezes, dos pais.
Com quem está minha criança? Onde está neste momento?
Vivemos dias em que os nossos filhos são mandados para dormir na casa dos amigos, dos colegas. Mas a gente não sabe quem são os pais desses amigos, desses colegas.
Não sabemos qual é a formação moral dessa família para onde estamos mandando os nossos filhos. Muitas vezes, acordamos tarde demais.
A estruturação do lar exige bom senso, exige cuidados, exige raciocínio.
Não é uma prisão. Todos usufruem liberdade. Mas, na estruturação do lar, a liberdade jamais estará alheada, distanciada das noções de responsabilidade.
Todos os que têm liberdade no lar, também hão de ter responsabilidades.
E se forem crianças?
Nós vamos ensinando às crianças a ter responsabilidade com as coisas delas. Guardar os brinquedos, colocar a roupinha que tirou no cesto, na medida em que elas vão podendo.
Como é que a criança aprende a ajudar em casa?
Traz para a mamãe, pegue a vassoura.
Pegue aquilo. Traga aquilo. Leve aquilo para a mamãe. Ajude a mamãe.
Sem nenhuma imposição, para que a criança aprenda a gostar de colaborar.
Venha aqui com o papai, segure aqui para o papai poder esticar.
Criando vínculos. Quando os nossos filhos começam a ir para a escola, cedinho, será nosso dever, de pai ou de mãe, puxar assunto com eles.
Como é que foi hoje o dia? Com quem você brincou? O que que a professora lhe ensinou? Ou a tia?
E a sua merenda, comeu-a? Distribuiu com alguém?
Para que nós ensinemos à nossa criança, desde cedo, a conversar conosco sobre o que se passou com ela.
Depois que ela aprende a conversar conosco, não precisamos perguntar nada.
Quando a apanhamos à porta da escola, ela já nos vem contando. Quando a colocamos no carro, ela já começa a falar. E é dessa maneira que nós vamos criando uma parceria doméstica.
Os filhos não precisam esconder dos seus pais as coisas que vivenciam. Os pais não devem negar orientação aos filhos, para que eles saibam se nortear. Estar sempre acompanhando.
Quando a nossa criança começa a crescer e não faz aquelas intrigantes perguntas, sobre sexo, sobre isso ou sobre aquilo, que os pais não imaginem que elas não sabem, que elas são inocentes. Admitam que já aprenderam, de forma equivocada e, porque aprenderam de forma equivocada, têm vergonha de falar para nós.
Cabe, então, para que o lar se reerga, todos nos envolvermos com todos.
Com carinho, com atenção, com sorriso, com seriedade, cada coisa no seu lugar. Mas, que não falte entre nós jamais a ternura, o respeito recíproco, na certeza de que nós somos irmãos em Deus, momentaneamente situados como marido, mulher, pais, filhos, irmãos.
Para que o nosso lar seja feliz, para que nós utilizemos esse cadinho, como a grande oficina das almas, não poderá faltar o amor. O amor que gera respeito, o amor que imprime responsabilidade.
Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 186, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em janeiro de 2009.
Em 27.7.2020.