sexta-feira, 15 de setembro de 2017

DICA - CRIANÇA DEVE BRINCAR EM ESPAÇO ABERTO

Brincar ao ar livre faz bem!

Levar os filhos para curtir atividades em espaços abertos é uma maneira de oferecer a eles uma oportunidade de interação tripla: com o próprio corpo, com a família e com o ambiente ao redor



Seu filho mal começa a engatinhar e já descobre como é divertido explorar um gramado e tocar em plantas e flores. Os meses passam e ele se diverte ao soprar bolhas de sabão, construir castelos de areia, chutar bolas, subir em escorregadores e árvores. Logo está pedindo para brincar de pega-pega, esconde-esconde e corrida. Então descobre a amarelinha, o corre-cotia, o cabo de guerra e tantas outras atividades perfeitas para espaços abertos de todos os tamanhos: do quintal de casa e da praça do bairro, passando pelos parques da cidade e até praias e campos que se estendem a perder de vista.
As brincadeiras dentro e fora de casa se completam e são igualmente importantes para o desenvolvimento das crianças. Mas tem algo que só o ambiente externo pode proporcionar: a integração com o espaço natural. “É importante andar na areia, na grama, na terra e no chão duro, sentir como todas essas superfícies são diferentes. E também reparar em nuances na luminosidade do dia, que varia de manhãzinha, na hora do almoço e ao entardecer”, explica André Trindade, psicólogo e psicomotricista do Núcleo do Movimento, em São Paulo.
As opções são muitas e os lugares abertos podem proporcionar momentos simples e divertidos. Vale conversar com a criança sobre tudo o que há no lugar: animais, plantas e objetos. Em um sítio, por exemplo, dá para repetir os sons dos bichos e alimentá-los e deixar as crianças colherem frutas de árvores. Na praia, vocês podem fazer castelos e desenhos na areia. No início, algumas crianças têm medo de entrar na água, mas o receio é normal, já que se trata de uma descoberta de um espaço sem fronteiras, muito distinto do quarto, da sala ou de uma brinquedoteca. Para quem tem filhos pequenos, vale esta dica: firmar um ponto ao redor do qual vocês possam brincar juntos, seja um banco ou um colchonete, até que eles alcancem segurança para ir cada vez mais além.
Todas essas ações colaboram para enfrentar o desafio contemporâneo de uma infância entre quatro paredes. “Diferentemente de um tempo não muito distante, em que se brincava na rua e nos campinhos, divertir-se ao ar livre é, hoje em dia, uma experiência mais rara, em especial nas grandes cidades”, diz Tania, Ramos Fortuna, professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Um mundo à espera
Experiências como essas são, sob diversos aspectos, fundamentais para o desenvolvimento infantil. Antes de tudo, há os benefícios para o corpo, que vão muito além das vantagens mais óbvias, como tomar sol (em horários adequados) e exercitar-se. Quando brinca ao ar livre, seu filho se move com mais liberdade, conhece a si mesmo, testa velocidades e distâncias. “Tudo se torna mais distante e amplo em comparação com o quarto e demais ambientes fechados. Com isso, a criança precisa explorar o espaço em outra escala: deslocar-se, conduzir objetos e ocupar o entorno com próprio corpo”, diz Tania.


E os ganhos corporais não param por aí: nos primeiros cinco ou seis anos de vida, quanto mais a criança se movimenta e aciona grandes músculos – como das pernas e dos braços – maior é o estímulo ao cerebelo, região localizada na base do cérebro, onde acontecem as sinapses (conexões entre os neurônios). O resultado desse processo é o desenvolvimento de habilidades como organização espacial e equilíbrio, decisivas para todas as outras competências motoras futuras. Nesse sentido, brincar em locais fechados ajuda, mas não com o mesmo impacto.
Sem contar a força extra que o sistema imunológico ganha com os inevitáveis arranhões e o contato com as bactérias presentes no ambiente. “É certo que os pais devem garantir que os filhos brinquem em lugares seguros. Mas meninos e meninas precisam se machucar – eles mostram casquinhas de feridas como troféus da batalha da vida, que é capaz de se refazer e se reconstituir. E precisam disso até mesmo para saber a diferença entre um pequeno raspão e um eventual machucado mais sério”, explica o psicólogo André.
Mas o que muda quando pais e filhos embarcam juntos nesse tipo de diversão? “Rompe-se a hierarquia estabelecida e todos se encontram em um plano no qual podem experimentar, com seus corpos, uma experiência lúdica capaz de enriquecer, e muito, as relações familiares”, diz Tarcísio Mauro Vago, professor da Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Uma chance ao diferente
Uma iniciativa simples e muito prazerosa é resgatar brincadeiras que vocês, adultos, curtiam quando crianças e apresentá-las aos filhos, de acordo com a faixa etária deles – seja pipa, peteca, barra-manteiga, bola de gude ou ciranda (veja mais dicas abaixo). Dessa forma, eles têm a chance de, a um só tempo, participar de uma prática rica em trocas interpessoais e usufruir de um patrimônio que pertence à cultura brasileira.
É nos espaços abertos ainda que as famílias têm excelentes oportunidades de incentivar os filhos a interagir com crianças de diferentes idades, sejam irmãos, primos ou parceiros de brincadeiras. “Nas escolas, o convívio se dá essencialmente entre crianças da mesma faixa etária. Isso é prejudicial, pois os mais novos têm muito a aprender com os mais velhos, que por sua vez aprendem ensinando os pequenos”, diz André.
Para pais com crianças de idades distintas, não há dilema: ainda que um dos filhos já corra, salte, pule e o outro esteja apenas começando a descobrir o mundo, cada qual, dentro de suas limitações, terá sua maneira de interagir consigo mesmo, com os outros e com o ambiente ao redor. Se a sua família ainda não tem esse hábito, comece já a praticá-lo!
DICAS PARA CURTIR A VIDA DO LADO DE FORA
• Levem brinquedos que favoreçam movimentos diversos e uma saudável integração entre vocês, como piões, bilboquês, bolas de gude, elásticos, pipas, skates e bicicletas. Os jogos eletrônicos devem ficar em casa. “O parque não é lugar para videogames. É uma realidade concreta e, portanto, não é necessário e nem recomendável criar outra realidade, virtual”, alerta André, do Núcleo do Movimento.
• Jogos com bola também permitem interações e movimentos diversos, como rolá-la ou chutá-la um para o outro, acertar alvos e propor desafios como a queimada.
• Brincadeiras que envolvem corrida, como pega-pega e pique-bandeira, favorecem a agilidade e o desenvolvimento de estratégias de fuga, captura e recuperação.
• Inspire-se em obras que sugerem atividades ao ar livre e compartilhe-as com as crianças. “Há mais de 300 telas de Cândido Portinari sobre a infância, que apresentam diversões como jogar futebol e empinar pipa”, sugere Tarcísio, da UFMG.
• Pular corda, fazer cirandas e brincar em roda envolvem mover-se de acordo com determinado ritmo, outro aspecto interessante. Cantar cantigas e músicas juntos deixa a diversão ainda maior.

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