quarta-feira, 1 de novembro de 2017

SER MÃE



A missão de ser mãe quase sempre começa com alguns meses de muito enjoo,
seguido por anseios incontroláveis por comidas estranhas, aumento de peso,
dores na coluna, o aprimoramento da arte de arrumar travesseiros preenchendo
espaços entre o volume da barriga e o resto da cama. Ser mãe é não esquecer a emoção do primeiro movimento do bebezinho dentro da
barriga.
O instante maravilhoso em que ele se materializou ante os seus olhos, a
boquinha sugando o leite, com vontade, e o primeiro sorriso de
reconhecimento.

Ser mãe é ficar noites sem dormir, é sofrer com as cólicas do bebê e se
angustiar com os choros inexplicáveis: será dor de ouvido, fralda molhada,
fome, desejo de colo?
É a inquietação com os resfriados, pânico com a ameaça de pneumonia, coração
partido com a tristeza causada pela morte do bichinho de estimação do
pequerrucho.

Ser mãe é ajudar o filho a largar a chupeta e a mamadeira. É levá-lo para a
escola e segurar suas mãos na hora da vacina.
Ser mãe é se deslumbrar em ver o filho se revelando em suas características
únicas, é observar suas descobertas.

Sentir sua mãozinha procurando a proteção da sua, o corpinho se aconchegando
debaixo dos cobertores.
É assistir aos avanços, sorrir com as vitórias e ampará-lo nas pequenas
derrotas. É ouvir as confidências.
Ser mãe é ler sobre uma tragédia no jornal e se perguntar: E se tivesse sido
meu filho?
E ante fotos de crianças famintas, se perguntar se pode haver dor maior do
que ver um filho morrer de fome.
Ser mãe é descobrir que se pode amar ainda mais um homem ao vê-lo passar
talco, cuidadosamente, no bebê ou ao observá-lo sentado no chão, brincando
com o filho.

É se apaixonar de novo pelo marido, mas por razões que antes de ser mãe
consideraria muito pouco românticas.

É sentir-se invadir de felicidade ante o milagre que é uma criança dando
seus primeiros passos, conseguindo expressar toscamente em palavras seus
sentimentos, juntando as letras numa frase.

Ser mãe é se inundar de alegria ao ouvir uma gargalhadinha gostosa, ao ver o
filho acertando a bola no gol ou mergulhando corajosamente do trampolim mais alto.
Ser mãe é descobrir que, por mais sofisticada que se possa ser, por mais
elegante, um grito aflito de mamãe a faz derrubar o suflê ou o cristal mais
fino, sem a menor hesitação.

Ser mãe é descobrir que sua vida tem menos valor depois que chega o bebê.
Que se deseja sacrificar a vida para poupar a do filho, mas ao mesmo tempo
deseja viver mais o não para realizar os seus sonhos, mas para ver a criança
realizar os dela.

É ouvir o filho falar da primeira namorada, da primeira decepção e quase
morrer de apreensão na primeira vez que ele se aventurar ao volante de um
carro.
É ficar acordada de noite, imaginando mil coisas, até ouvir o barulho da
chave na fechadura da porta e os passos do jovem, ecoando portas adentro do
lar.
Finalmente, é se inundar de gratidão por tudo que se recebe e se aprende com
o filho, pelo crescimento que ele proporciona, pela alegria profunda que ele
dá.
Ser mãe é aguardar o momento de ser avó, para renovar as etapas da emoção,
numa dimensão diferente de doçura e entendimento.
É estreitar nos braços o filho do filho e descobrir no rostinho minúsculo,
os traços maravilhosos do bem mais precioso que lhe foi confiado ao coração:
um Espírito imortal vestido nas carnes de seu filho.
A maternidade é uma dádiva. Ajudar um pequenino a desenvolver-se e a
descobrir-se, tornando-se um adulto digno, é responsabilidade que Deus
confere ao coração da mulher que se transforma em mãe.

E toda mulher que se permite ser mãe, da sua ou da carne alheia, descobre
que o filho que depende do seu amor e da segurança que ela transmite, é o
melhor presente que Deus lhe deu

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